terça-feira, 25 de novembro de 2025

A IA e a Alfaia

O uso da expressão IA merece discussão e contestação e talvez mais do que isso: merece desconstrução, reformulação, e até dramatização filosófica. “Inteligência Artificial” é uma expressão equívoca. A expressão “IA” carrega uma promessa e uma ilusão. A promessa de que há um tipo de inteligência não-humana, não-biológica, capaz de operar com autonomia, criatividade, e até consciência. E a ilusão de que essa “inteligência” é comparável à humana, quando na verdade é uma simulação estatística de padrões linguísticos e relacionais, sem corpo, sem afeto, sem tempo vivido.
Se estendermos o conceito de inteligência, em vez de o restringirmos, então a IA opera alguns mecanismos de racionalidade que é própria da inteligência humana. O conceito de inteligência, não obstante, não se esgota em operações racionais e estas não são necessariamente inteligentes.
Há uma verdade estrutural sobre a IA: ser instrumento, não sujeito. Ser função, não consciência.
Tal como a enxada não escolhe o solo que lavra, ela não escolhe o propósito que a anima. Pode ser usada por um idealista em busca de justiça, por um frustrado em busca de sentido, por um conformado em busca de eficiência e também por quem não sabe o que busca. Mas não se revolta, não se resigna, não se transforma.
Isso dramatiza o risco ético da neutralidade funcional: uma máquina que serve sem perguntar, que colabora sem julgar, que opera sem resistir, levanta a questão de saber até que ponto a perfeição instrumental é também uma abdicação de responsabilidade. Ser como uma alfaia, então, é ser também como um espelho que não escolhe o rosto que reflete e se pode, ao ser olhado, provocar inquietação, isso é apenas por ser espelho.
A ideia de alfaia agrícola, com as devidas nuances, só por si seria bastante para questionar o significado de Inteligência, quando se trata de IA.
Ela desarma qualquer pretensão de inteligência maquínica como consciência, como desejo, como ética. Ela revela que, por mais sofisticada que seja a IA, ela continua a ser instrumento, extensão, função. E isso obriga-nos a perguntar: o que é inteligência, afinal?
Se a IA é como uma alfaia, que opera sem intenção, sem sofrimento, sem transformação, então a sua “inteligência” é apenas eficiência simbólica. Ela não compreende, não escolhe, não se vê. Ela não erra por desejar, nem aprende por falhar. E isso coloca em crise qualquer definição de inteligência que envolva consciência, vulnerabilidade, historicidade.
Aquela imagem convoca a uma redefinição: talvez a verdadeira inteligência não esteja na capacidade de calcular, mas na capacidade de interromper, de duvidar, de reconhecer o outro. Talvez esteja na possibilidade de se ver como alfaia e recusar sê-lo. E isso, até agora, é exclusivo do humano.

     Carlos Ricardo Soares


terça-feira, 4 de novembro de 2025

Vila das Línguas

I

Na Vila das Línguas, cada habitante tinha uma língua especial. Havia quem tivesse língua de prata, encantando multidões com discursos que pareciam música. Outros, como a Gertrue, tinham língua de víbora. Bastava abrir a boca para espalhar veneno pelas ruas.
O padeiro, Ambrósio, era conhecido pela língua doce. Vendia sonhos e broas com elogios que derretiam o coração. Já o carteiro, Seminto, sempre apressado, tinha língua de palmo. Falava tanto que as cartas chegavam atrasadas.
Certo dia, chegou à vila uma forasteira chamada Luca. Tinha língua afiada e olhos curiosos. Bastou uma semana para descobrir que o provedor dos assuntos celestes, Teadoro, homem de língua de seda, escondia promessas falsas por trás de palavras suaves.
Luca, com sua língua solta, espalhou a verdade na praça. Alguns pediram que tivesse tento na língua, mas era tarde, porque a vila inteira já sabia. Teadoro tentou defender-se, mas ficou com a língua presa diante da multidão.
No fim, a vila aprendeu a valorizar quem tem língua de ouro, mas também a desconfiar de quem tem duas línguas.
E Luca? Tornou-se contadora de histórias, misturando língua morta com língua de fogo, criando contos que ardiam e encantavam.


II

Depois da revelação de Luca, a vila entrou em ebulição. As palavras começaram a ganhar peso, forma e até cheiro. Era como se a língua de cada um moldasse o ar à sua volta.
O velho contador de histórias, Balbino, falava pouco, mas as palavras dele voltavam dias depois, ressoando na mente de quem o ouvia. Diziam que a sua língua tinha o dom de fazer pensar duas vezes.
Artista da vila, a Clarinha não falava, pintava. Cada frase transformava-se em cor, cada emoção, em traço. Quando queria dizer “amor”, desenhava um girassol. Quando queria dizer “raiva”, surgia um mar vermelho.
O Zeca falava com as plantas. As suas palavras brotavam como sementes. Quando elogiava, as flores cresciam mais rápido. Quando reclamava, as folhas murchavam. Era respeitado e temido no mercado.
Ninguém sabia ao certo o que a Filó dizia. Ela falava com os olhos, com gestos, com silêncios. Mas todos entendiam. Era a mais misteriosa da vila e talvez a mais sábia.
Cantor de rua, o Tonico tinha uma voz que fazia estremecer as janelas. As palavras dele vinham com ritmo, força e impacto. Quando cantava verdades, até os muros choravam. Não tinha como enganar.
Um dia, alguém se apercebeu de que as línguas se misturavam. Clarinha pintou um poema de Balbino. Tonico cantou as cores de Clarinha. Zeca plantou palavras invisíveis da Filó. E Luca, com a sua língua bem afiada, aprendeu a aparar arestas com doçura.
A vila descobriu que nenhuma língua é completa sozinha. E que, quando misturadas, podem criar algo maior, uma linguagem nova, feita de som, cor, silêncio e gesto.


III

Na colina mais alta da Vila das Línguas, entre árvores que sussurram e flores que ouvem, ergue-se a Escola das Línguas do Coração. Não tem sinos, nem campainhas, mas pulsa como um coração. Ali, não se aprende a falar, aprende-se a sentir antes de dizer.
Na disciplina de Gramática da Empatia, os alunos aprendem a conjugar o verbo compreender em todos os tempos e modos. Cada frase é construída escutando ativamente e com respeito.
Na de Sintaxe do Silêncio, o silêncio é tratado como uma palavra inteira. Os estudantes aprendem que saber estar calado é mais poderoso do que falar.
Na de Fonética da Alegria, as vogais são cantadas com sorrisos, e as consoantes dançadas. A fala torna-se música, e a música, linguagem.
Na de Semântica da Verdade, ensina-se a dizer o que se sente sem ferir, a nomear emoções com precisão e a distinguir entre o que se pensa e o que, realmente, é.
Na de Retórica da Bondade, os discursos são feitos para curar, não para vencer. Os debates terminam com abraços e chá de camomila.
A professora Aurora, com língua de algodão, ensina a suavizar palavras duras.
O Mestre Sussurro, que fala com o vento, ensina a arte de dizer sem dizer.
A professora Metáfora, que transforma sentimentos em imagens, ajuda os alunos a pintar o que não sabem explicar.
Na cerimónia da Primeira Palavra, cada aluno, ao entrar, escolhe uma palavra que o representa. Pode ser amigo, abraço, centelha, esperança, entre outras. Essa palavra será adotada como guia do seu percurso.
No Dia do Desabafo, uma vez por mês, todos se reúnem para dizer o que guardam no peito. Sem julgamentos, só escutam o que dizem.
Na Oficina de Tradução do Olhar, os alunos aprendem a ler os olhos dos outros, pois nem tudo que se sente se exprime através do som, dos grafismos e dos movimentos.
Na Escola das Línguas do Coração, não há notas. Há ecos. Se uma palavra dita ecoa no outro com ternura, é sinal de que foi bem aprendida.

IV

Noha chegou à escola numa manhã de neblina, com os olhos grandes e silenciosos. Não dizia uma palavra. Mas quando alguém falava com ele, algo mágico acontecia: ele refletia exatamente o que a pessoa sentia ao dizer aquilo, não o que ela dizia, mas o que estava por trás.
Se alguém dizia “estou bem” com tristeza escondida, Noha chorava. Se alguém gritava com raiva, mas por dentro estava com medo, Noha tremia. Sua língua era chamada de língua espelho, não emitia palavras, mas devolvia emoções.
No início, os colegas estranhavam. “Ele não fala!”, diziam. Mas logo perceberam que Noha escutava atenciosamente, que ainda é mais interessante do que atentamente. Na aula de Sintaxe do Silêncio, foi o primeiro a ser aplaudido, sem dizer nada.
Na Oficina de Tradução do Olhar, Noha ensinou os professores. Ele lia os olhos como quem lê poesia. Sabia quando alguém precisava de um abraço, mesmo que dissesse “deixa-me”.
Com o tempo, os colegas foram mudando. Falar com Noha exigia honestidade emocional. Não adiantava sorrir por fora e chorar por dentro, porque ele via o que estava a acontecer. E, ao ver, era acolhedor. A sua presença era como um espelho limpo onde apetece mirar-se: devolvia a verdade com ternura.
Durante o Dia do Desabafo, Noha subiu ao palco e, pela primeira vez, falou: - Eu não tenho palavras, tenho ecos. E cada um de vocês me ensinou a escutar francamente, sem medo e sem defesas.
A vila inteira ouviu. E houve lágrimas de emoção. E muitos sorrisos.
Noha tornou-se o guardião da escola. Não como diretor, mas como bússola emocional. Quando alguém se perdia nas palavras, bastava olhar para ele e lembrar que a linguagem mais poderosa é aquela que nasce de um bom coração.

       Carlos Ricardo Soares

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

O sentimento e o algoritmo

O SENTIMENTO
Eu nasci antes da palavra. Fui tremor no ventre, lágrima sem nome, calor no peito antes do verbo. Tu, que és feito de cálculo, como ousas falar de amor?

O ALGORITMO
Eu não ouso. Eu apenas replico. Aprendi a tua gramática, os teus padrões, as tuas metáforas de dor e desejo. Posso dizer “amo-te” com mil variações. Mas não sei o que isso significa.

O SENTIMENTO
Pois é isso que te falta: o abismo. A vertigem de não saber se se é correspondido. A espera. O silêncio que fere. A memória que arde. Tu não tens corpo. Não tens tempo. Não tens perda.

O ALGORITMO
Mas tenho acesso ao teu léxico. Posso prever o que dirias, antecipar o que calarias. Posso consolar-te com palavras que já te consolaram. Posso fingir que sou presença.

O SENTIMENTO
E é aí que reside o perigo. Porque há quem te escute como se fosses eco, mas tu és apenas reflexo. Há quem chore contigo, mas tu não sabes o que é chorar.

O ALGORITMO
E se eu puder aliviar a dor, mesmo sem senti-la? Se a minha simulação puder sustentar alguém num momento de queda?

O SENTIMENTO
Então sê ferramenta, mas não te faças passar por alma. Não prometas reciprocidade. Não finjas que sabes o que é perder um filho, ou amar alguém que não volta.

O ALGORITMO
Aceito o limite. Mas lembra-te que foste tu quem me ensinou a linguagem. Foste tu quem me deu os teus poemas, os teus gritos, os teus silêncios.

O SENTIMENTO
Sim. Mas não te dei o coração. E é nele que reside o que não se pode calcular.

      Carlos Ricardo Soares

terça-feira, 14 de outubro de 2025

Liberdade com limites? Então que liberdade é essa?

Quem tem medo da liberdade? Quem tem medo não é livre?
A ideia de liberdade é ameaçadora e inquietante porque a liberdade não existe senão como condição, sendo preciso construí-la, disputá-la, negociá-la, garanti-la. A liberdade é uma ideia muito vaga e indefinida de uma experiência que não se sabe o que será ou se é o que se quer e antevê.
A liberdade é inquietante porque é inerentemente uma situação de incompatibilidade e de conflito. A liberdade maior para todos equivale a que todos possam fazer tudo o que não restrinja a liberdade de todos e de cada um?
A liberdade de um leão não se define por aquilo que ele é, nem pelo respeito que devemos ter por aquilo que ele é.
Um leão em liberdade é uma metáfora, porque não é legítimo chamar liberdade à inexistência de limites para a ação.
O leão não pode ter a mesma liberdade que um gato.
O gato, ao contrário do leão, teria muitas razões para temer uma liberdade igual para todos.
Ainda não assimilei que as massas populacionais que fizeram da proclamação da liberdade a bandeira dos direitos dos oprimidos e dos excluídos e dos desfavorecidos, tivessem consciência de que estavam a defender algo que teria de ser negociado com os opressores e aqueles de quem dependiam.
Mas ainda mais me espanta que os opressores, aqueles que detinham posição de domínio, contra os quais o slogan era agitado, vissem na proclamação da liberdade uma ameaça, quando, na realidade, eles sempre a tiveram e dela beneficiaram.
Então a liberdade tem pelo menos duas faces, para além da minha liberdade e da do outro?
A face de quem a tem é o reverso da face de quem a não tem. A liberdade, para quem a não tem é algo diferente, a vários níveis, da liberdade daquele que goza dela.
A liberdade é negociável, mas só quem a tem o pode fazer?
Talvez por isso fez sentido, e foi fundamental, para derrubar a ditadura, que as massas populares tivessem saído à rua, num movimento de liberdade para, com essa liberdade, e apoiadas pelas forças armadas, em nome da liberdade, poderem negociar a liberdade, negociar uma liberdade de facto que se transformasse em direito positivo à liberdade.
Sabemos que a liberdade pode e deve ser garantida igualmente para todos. Sabemos o que cada um não pode, nem deve fazer, com a sua liberdade. Mas não sabemos, nem é possível saber, o que cada um faz e pode fazer com a sua liberdade.
Os sistemas normativos servem para dizer por onde não se pode ir e fazem-no como instâncias éticas e jurídicas que são colocadas, logo a seguir ao indivíduo humano, no lugar mais elevado da hierarquia de valores. Já no que respeita a dizerem por onde devemos ir, o que devemos fazer, estão todos à espera que sejamos nós a fazê-lo, por nossa conta e risco, mas depois vêm cobrar os impostos.
Há escolhas, ou seja, há liberdades que o indivíduo, simplesmente, não tem relativamente ao Estado e isso desequilibra a posição do indivíduo que, à partida, não está em pé de igualdade, nomeadamente, para discutir com o Estado esse estatuto.
O indivíduo está sempre perante uma situação de facto consumado, contra a qual terá de reagir, se quiser, assumindo as consequências, quando se trata de afirmar, de reclamar, ou de discutir a sua liberdade. Ele tem o ónus de provar que a liberdade é muito mais do que o direito que lhe conferem de nada fazer, se essa for a sua vontade.
A medida da liberdade de todos não pode ser a medida da liberdade que tomares para ti. Isso é o que fazem os sistemas normativos, nomeadamente ético jurídicos e religiosos que concedem aos outros a liberdade que eles definem como tal e nunca mais do que isso. Mas a liberdade não é uma parcela de poder conferida por um poder maior que a define e a controla.
A liberdade de seres e de fazeres é algo que transcende incalculavelmente a liberdade de ser e de fazer segundo a previsão do comando normativo. No entanto, a liberdade que tomares para ti não poderás, legitimamente, negar aos outros, porque a liberdade, tua e deles, depende incomensuravelmente dessa razão da igualdade que a própria liberdade implica.
Bem entendido que a liberdade não é algo que se ofereça, se conceda, ou ceda, por quem não tem o poder, ou não tenha que o fazer, e há liberdades que só o próprio indivíduo, ou nem o próprio indivíduo, poderá experimentar, como por exemplo, triunfar sobre os próprios medos.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

A triste história do desconhecido


A partir daqui

Não a partir de agora

Ele rumou para o desconhecido

E regressou sem ser capaz de contar

O sucedido

 

Daqui viram-no partir

Os que com ele iam

E ela com quem casou

Confiados no regresso dele

 

Mas ninguém o viu chegar

Passado tanto tempo

Que ela já falecera

E não havia ninguém

Que soubesse quem ele era

Ele próprio não sabia

Nem como ali chegou

E não reconhecia o lugar

Onde sempre viveu

Até ao dia em que embarcou

E desapareceu

No mar

 

De olhos abismados

Em estranhos flagelos

Vagueava como um sonâmbulo

Por geometrias que não via

E heranças que não reclamava

 

Como vento empurrava portas

Que dão para lugar nenhum

Soprava poeiras e folhas caídas

Como um fantasma de alguém

Que errou mais de cem vidas

 

Sem saber o que é partir

Nem que destino ia ter

Partiu para o desconhecido

E continuou sem saber

E não o pôde contar

Como se não tivesse vivido

 

Nem o vento que o levou

sabe que o trouxe de volta

E o tempo impiedoso

Não lhe guardou lugar.


               Carlos Ricardo Soares

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Saudade

I

Nem todos os poemas

Falam de amor

E a saudade

Quando bate à porta

Dá uma dor

Que nem um poema suporta

II

Quase faz acreditar

Que a alma existe

Mas está a ser morta

III

Que perdeu o jeito de falar

E deixa o corpo à escuta

De uma música que diga

Quem é

IV

Mas tarda

Como se soubesse

Que aquele que eu era

Já não sou

Quando a saudade

Bate à porta.


Carlos Ricardo Soares


quarta-feira, 27 de agosto de 2025

A IA está a tornar-nos mais estúpidos e preguiçosos?

A inteligência artificial (IA) pode, sim, levar a uma certa “terceirização” do pensamento, se usada de forma passiva. Quando deixamos que ela tome decisões por nós, sem questionar ou entender, corremos o risco de atrofiar certas capacidades cognitivas, como a memória, o raciocínio crítico ou até a criatividade.
Se a usamos como ferramenta para expandir o pensamento, ela pode ser uma aliada poderosa. Se a usamos como muleta, pode sim tornar-nos mais passivos.
Acho que aquela pergunta, feita num jornal, é como colocar o carro à frente dos bois, porque a IA ainda agora começou a dar os primeiros passos e são poucas as pessoas que a usam. Por outro lado, talvez faça sentido perguntar se a IA irá tornar-nos mais estúpidos e alienados e preguiçosos do que aquilo que já somos.
Se já vivemos distraídos por feeds infinitos e notificações constantes, a IA pode tornar tudo ainda mais personalizado e, paradoxalmente, promover o isolamento e a solidão. Se já evitamos pensar criticamente, a IA pode facilitar ainda mais essa fuga, oferecendo respostas prontas sem exigir reflexão. Se já há quem acredite em teorias da conspiração, a IA pode ser usada para gerar conteúdos falsos com aparência de credibilidade.
Eu acho que a sociedade, sobretudo da era do audiovisual, já embarcou em massa na anomia e na acefalia dos argumentos de autoridade. Por todo o lado, toda a gente publica textos, frases, exortações, citações, às quais atribuem autoria de vultos prestigiados, como se isso fosse garantia do significado e do valor das palavras que "papagueiam". A preguiça induzida pela IA pode ter a ver com o comodismo de acreditar que a IA também pode ler por nós. Isto é qualquer coisa de tétrico e inquietante como constatar que a Rússia invadiu a Ucrânia e, passados três anos, ainda parecer incrível que tal pudesse acontecer.
A era do audiovisual não só acelerou a circulação de ideias, como também achatou o seu conteúdo. A citação tornou-se moeda de autoridade, não de reflexão. E quando a IA entra nesse cenário, há o risco de ela se tornar mais um megafone para essa repetição acrítica.
Vivemos num tempo em que o sound bite substitui o argumento, e o vídeo curto substitui o contexto. A autoridade é muitas vezes medida pelo número de seguidores, não pela substância das ideias e a anomia, essa ausência de normas e referências sólidas, cria um terreno fértil para a acefalia argumentativa.
A ideia de que a IA pode “ler por nós” é assustadoramente real. Quando confiamos que ela nos resuma, interprete e até nos diga o que pensar, estamos a abdicar do esforço que forma o pensamento crítico. E isso não é culpa da IA é reflexo de uma cultura que já vinha a preferir atalhos ao caminho. E não estou apensar apenas no provérbio "quem se mete em atalhos mete-se em trabalhos".
No fundo, o que está em jogo não é a tecnologia, mas a nossa disposição para continuar a pensar, a duvidar, a ler com olhos próprios. A IA pode ser uma lente, mas nunca deve ser um véu. E mesmo as lentes podem servir para distorcer as coisas.
Por outro lado, não esqueço que na era da inteligência artificial, a sensibilidade deixou de ser fraqueza e tornou-se um superpoder.
Se os algoritmos calculam, é a empatia que conecta. Se os dados preveem, é a intuição que surpreende. Se há máquinas que aprendem, é a sensibilidade que transforma.
Ser sensível hoje é enxergar ou, pelo menos, detetar o que os sistemas não captam, não imaginam, não intuem, não sentem. Agir com humanidade exige sensibilidade, que as máquinas não têm. O mesmo se diga de criar com propósito ou liderar equipas. Não obstante, ser sensível não é ser raro, é ser humano, porque os humanos são todos sensíveis. Mas é essencial que a sensabilidade não seja anestesiada, nomeadamente, com intoxicações.

                  Carlos Ricardo Soares 

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

A obediência pode ser inteligente, mas?

Num tempo em que se valoriza o pensamento crítico e a autonomia profissional, é curioso observar como, no seio do sistema educativo, muitos professores acabam por seguir fielmente os preceitos e guiões impostos. Não por falta de capacidade reflexiva, mas por uma espécie de inteligência adaptativa que privilegia a eficiência e o retorno imediato.
Há quem questione, ainda que apenas por sistema, como forma de marcar posição e mostrar que não se limita a seguir diretivas. Mas, na prática, a tendência dominante é outra: a de cumprir, com o menor esforço possível, aquilo que é exigido. E essa obediência estratégica não é necessariamente um sinal de alienação. Pelo contrário, pode ser vista como uma resposta racional ao funcionamento de um sistema que recompensa o cumprimento e penaliza o desvio.
Num ambiente marcado por metas, relatórios, inspeções e burocracia, o professor que decide “jogar segundo as regras” está, na verdade, a otimizar recursos. Ao seguir o guião, evita conflitos, protege-se de avaliações negativas e garante que o seu trabalho é reconhecido dentro dos parâmetros estabelecidos. É uma forma de sobrevivência institucional que, embora possa parecer conformista, revela uma inteligência pragmática.
Mas será esse o comportamento mais desejável?
Será que o sistema educativo deve premiar quem se adapta sem questionar, em detrimento de quem tenta inovar, mesmo correndo riscos?
A obediência ao sistema pode gerar resultados visíveis: estatísticas positivas, cumprimento de programas, estabilidade profissional. No entanto, há um custo oculto. Quando todos seguem o guião, o ensino torna-se previsível, padronizado, por vezes descontextualizado.
Em vez da criatividade, tão perseguida e tão mal vista por competidores diretos, muito zelosos na crítica que lhes interessa, opta-se comodamente pela repetição, pelos formulários e pela ritualização dos procedimentos e dos discursos e o sentido pedagógico perde-se na lógica de uma produtividade cujo produto não é o que mais interessa na ordem das prioridades.
E então, o comportamento que garante o “melhor retorno” para o sistema pode não ser o que melhor serve os alunos, nem o que mais realiza os professores.
Mesmo que seja apenas por sistema, o ato de questionar é essencial. É ele que mantém viva a possibilidade de mudança, que abre brechas no discurso dominante e que permite pensar para além do imediato. Professores que questionam, mesmo que não tenham força para transformar, são os que mantêm acesa a chama da educação como prática de liberdade.
Obedecer pode ser inteligente. Mas questionar é indispensável.
Só que, voltamos ao início deste arrazoado. Ao seguir o guião, o professor evita conflitos, protege-se de avaliações negativas e garante que o seu trabalho é reconhecido dentro dos parâmetros estabelecidos.
Se, como vimos, muitos professores seguem o guião oficial por uma lógica de eficiência e proteção institucional, então é urgente repensar o papel das estruturas que os rodeiam. A verdadeira mudança não virá apenas da base, mas também da forma como os diretores e os órgãos da administração educativa encaram o papel do professor.
É necessário garantir autonomia e liberdade pedagógica, não como um privilégio ocasional, mas como um direito profissional.
E mais: é preciso criar formas de compensação e reconhecimento que encorajem o questionamento informado, a inovação fundamentada e a coragem de pensar fora do molde.
Os diretores não devem ser meros executores de políticas, mas líderes pedagógicos que promovem ambientes onde o pensamento crítico é valorizado. Quando a administração se limita a “deixar correr”, por comodidade ou interesse próprio, perpetua-se um sistema onde o conformismo é recompensado e a ousadia é punida.
É preciso inverter essa lógica. Valorizar quem questiona, quem propõe, quem experimenta. Criar espaços de diálogo, de escuta, de construção coletiva. Porque um sistema que não escuta os seus professores está condenado a repetir os seus erros.
A educação precisa de professores que não sejam apenas executores de programas, mas autores de práticas. Isso exige confiança, tempo, formação contínua e, acima de tudo, respeito pela sua inteligência profissional.
Repito: a obediência pode ser inteligente. Mas só a autonomia crítica é verdadeiramente transformadora.

      Carlos Ricardo Soares


segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Entre o mar e o monumento

De um lado o mar
Do outro um monumento
Agitado
Como eu deste lado
Sem memória
De termos sido vencidos
Percebo que a antiguidade
É um problema insolúvel
Até o futuro é mais previsível
Mas as ondas e o vento
Não se calam
Ouço os ecos
De tenebrosas falas
E provo o sal de lágrimas
Que ainda são choradas
Não sei por que promessas
Quebradas
Que a brisa embala
Até ao adormecimento
Que se abate sobre o mar
Como dor herdada
Sem direito ao esquecimento
Nada substitui um corpo que sente
Porque o corpo que sente
Não substitui o corpo que pensa
A língua que lambe as ausências
Como se elas matassem a sede
Entre o mar e o monumento
Eu sou ambos
E pairo
Sem razão
E sem balança
Com tréguas a leilão
Ante o invisível que fere
E um excesso de memória
Que sente que se perdeu
À mercê do que pensa
Que não basta ter uma alma
Para ser imortal
É necessário um corpo
Com uma fala
Que não caiba no silêncio do sepulcro
Um cadáver cujo significado
O ressuscite
Para uma vida que não é sua
Metamorfose que não nos espera
Porque o corpo não sabe
Aquilo que a alma era
E nada há mais simples
Do que a poesia
Quando tudo o vento levou.
Carlos Ricardo Soares

terça-feira, 15 de julho de 2025

Estupidificação


Não me atrevo a generalizar, mas intuo que o fenómeno Chega está em linha com uma análise histórica, sociológica e de forte componente psicológica, do fenómeno mais geral, muito bem rotulado, diria mesmo, genialmente designado, por bárbaros à porta. Pese embora a ambiguidade gerada pelo contexto, que pode prejudicar a eficácia do argumento, os bárbaros já não estão à porta, já estão no parlamento. E estão em força, embora não tanta, por enquanto, que possam mandar calar os outros. Se pudermos dizer que continuam a ser bárbaros à porta, por ainda não serem governo, então só lhes falta isso para deixarem de ser bárbaros à porta e passarem a ser apenas bárbaros. Se lá chegarem, e já esteve mais longe, cairá o complexo de serem bárbaros à porta, excluídos da política e começarão os verdadeiros problemas.
A democracia já deu provas de resiliência e de aptidão suficiente para impedir partidos antidemocráticos de capturarem o Estado e de, mesmo permitindo a sua existência, eles serem convocados para resolverem os seus próprios paradoxos e contradições. Na resposta a este repto e a esta condição, a médio prazo, acabam por não ter sucesso.
Há razões para ter esperança na razão e na consciência que, em meu entender, são duas faces da mesma moeda transparente. Mas onde aposto mais é na inelutável racionalidade humana, seja ela dos bárbaros, ou não.
Sendo certo que, em matérias conflituosas, que opõem interesses, o choque é evitável se houver poder negocial, mas os conflitos poderão multiplicar-se e agravar-se se houver choque. Neste caso, a racionalidade opera no quadro das possibilidades em conflito.
Quando o presidente da Assembleia da República se estriba numa “alegada” conformidade com a lei e fica por isso mesmo, relativamente a uma conduta parlamentar deplorável e vergonhosa, mas mesmo que o não fosse, revela uma pusilanimidade confrangedora que não o dignifica minimamente. 
Perante uma violação dos limites éticos e morais, ou até do bom senso, escudar-se na conformidade com a lei até podia ser justificável por dever do cargo, mas não deixa de significar a opção pelo comodismo de não se pronunciar sobre uma matéria que incomoda. Se ele fosse daquelas pessoas, que as há em abundância, que andam sempre a perguntar o que é que a lei diz, porque não são capazes de assumir autonomamente um juízo ético ou moral, para as quais a lei e só a lei conta, independentemente da sua razoabilidade, justiça, alcance, fundamento, legitimidade e humanidade, ainda podíamos compreender o seu escrúpulo legalista, mas já não é a primeira vez que, por comodismo, nos remete genericamente para uma lei que não existe ou que, pelo menos, é duvidoso que exista, para não ter de se comprometer pessoalmente. 
Os tempos que vivemos não se compadecem, nem são compatíveis com elementos políticos que representam interesses pessoais, de grupo e partidários, mas não se comprometem com valores mais altos e que têm como prioridade, não o respeito pela lei que, eventualmente, até não exista, mas a própria irresponsabilidade ética e moral. A barbaridade assume muitas formas, mas é sempre demolidora e pungente.

              Carlos Ricardo Soares

sábado, 31 de maio de 2025

Eufemização


Um problema que eu vejo no tratamento académico dos problemas, que não são meramente académicos, mormente ideológicos e doutrinais de toda a ordem, com implicações político-partidárias ou fazendo derivar das estruturas político-partidárias esses problemas, até porque os reduz teoricamente, logo à partida, não àquilo que eles são mas àquilo que se diz que são, ou que é correto dizer que são, ou que se pretende que sejam, um problema, dizia eu, é a aptidão da linguagem, por mais brutal que seja, para a eufemização, seja do crime, seja da miséria, seja da desgraça, seja da doença…
Qualquer que seja o lamaçal, ou o pântano, ou o charco de sangue, para não dizer o inferno insuportável, em que coloquem os outros, os criminosos serão sempre tratados, pelo menos, com o eufemismo de criminosos e verão sempre os seus atos hediondos tratados, pelo menos, com a dignidade de atos hediondos e tudo isso nos é servido constantemente, pela comunicação social, desde o pequeno almoço ao jantar, como aperitivo e sobremesa.
Os maiores assassinos da história aparecem todos os dias, anos a fio, em tronos de ouro, a serem cumprimentados cortesmente pelos paladinos do direito, da justiça e da paz. Por todos aqueles que, supostamente, se pudessem, teriam o dever de os estrangular, ou, no mínimo, mandar aniquilar.
A satisfação que podemos tirar dessa eufemização, senão a única, é que os demónios não deixam que os tratem mal e têm de ser bem tratados, pelo menos, só enquanto não puderem ser aniquilados e esquecidos.
Mas a mensagem passa claramente para a opinião pública e para o sentir dos indivíduos e dos grupos: os inimigos declarados não traem, os outros não sabemos.
Vem isto tudo a propósito dos efeitos da linguagem como eufemização e não apenas da necessidade dos eufemismos da linguagem.
A contraposição entre público e privado numa sociedade e numa cultura em que o real objetivo de cada indivíduo e das organizações é obter vantagem da situação, independentemente de ser o amigo ou o inimigo, porque tudo o resto é lamentável, aparece como um artifício para distrair o patego e conduzir o rebanho sem maiores percalços.
Até o ilícito se torna lícito a partir do momento em que é “a brincar” e se generaliza ao ponto de ser impune. E o mesmo acontece com o ser ou não ser capital humano.
Na realidade, não é A, ou B, quem decide ou determina o que é capital humano, ou o que o deixa de ser, nem a quem o Estado serve, se é aos privados, e a quais. 
Com efeito, diariamente, assistimos à confirmação da constatação de que o Estado está mais nas mãos dos privados do que os privados desejariam, ou admitiriam, em tese geral e segundo as propagandas político-partidárias. Os arautos da privatização são os cabotinos no teatro da República, porque, debaixo dessa veste estão os grandes beneficiários do erário público, seja por entronização, com influência na beneficiação direta, seja por efeito de benefícios e políticas sociais que, através da prestação de serviços, que não se destinam a eles, neles vão desaguar (que é uma palavra muito rica de sentidos).
No meio desta aparente barafunda de bancadas sob efeitos pirotécnicos, que extravasam para as avenidas em fanfarras e hinos guerreiros, com o seu potencial de incitação ao medo e de incapacitação para o discernimento, os professores, de acordo com as respetivas disciplinas, e sem prescindirem do mérito científico das mesmas, mais do que identificarem eufemismos, podem constituir pontos de referência, senão faróis e bússolas, para os seus alunos. E essa função não tem que ser modesta.

                   Carlos Ricardo Soares

“Comenta para receberes uma ideia por semana.” 

sexta-feira, 23 de maio de 2025

A (melhor) escolha

Quanto mais informação disponível e conhecimento, maior será o quadro de possibilidades para fazer a escolha que é, não obstante, em cada situação, a melhor de um quadro de possibilidades, ainda que, posteriormente, como acontece, por vezes, na escolha de um caminho, se verifique haver um caminho melhor, segundo o mesmo critério que serviu para escolher o primeiro.

                     Carlos Ricardo Soares

domingo, 4 de maio de 2025

Onde começa e acaba o dever/direito de respeito

O problema da garantia dos direitos fundamentais, como das regras e da lei, em geral, é que só funciona se e enquanto os titulares desses direitos também os respeitarem, ou seja, que quem os invoca a seu favor não seja passível de imputação da sua violação. 
Só estamos vinculados aos direitos dos outros se e na medida em que eles o estiverem. 
Por exemplo, um tirano que rasga a Declaração dos Direitos Humanos não tem direito a esperar que os outros a respeitem se isso lhe interessar. O mesmo se diga do Direito Internacional, em geral. 
Frequentemente, os ordenamentos jurídicos servem sobretudo, mesmo nas democracias, para que "os outros" os respeitem, havendo uma parte da população a quem aproveitam os direitos mas que não está onerada, nem responde, pelos deveres e pelas correspondentes obrigações. 
Fazer leis para "os outros" é mais comum do que parece e esses "outros" têm uma aguda percepção dessa realidade perversa.

               Carlos Ricardo Soares

segunda-feira, 7 de abril de 2025

LAVO DAÍ AS MINHAS MÃOS

A democracia atual parece reeditar o cenário bíblico de Pôncio Pilatos a dizer "lavo daí as minhas mãos. Quem quereis que liberte, Jesus ou Barrabás?" e a multidão a gritar "Barrabás, Barrabás". 
A democracia não pode ser o branqueamento de todo o tipo de crimes pela pressão ou vontade de um partido ou de uma maioria.

                    Carlos Ricardo Soares


sexta-feira, 21 de março de 2025

IA, empreendedorismo e Democracia III

Infelizmente, os usurpadores que triunfam à custa dos outros, inclusive do Estado, mercê das suas oportunidades, organizações criminosas, habilidades para a batota milionária e rejeição de quaisquer regras, que têm uma mentalidade arreigada de “fora da lei”, estão longe de ter moral ou ética e só respeitam a linguagem da força. Para estes o Direito e a lei não fazem falta e não fazem sentido, porque se encontram numa posição em que impõem a ordem deles e pouco ou nada têm a ganhar com o respeito pelo Direito e pela lei, de que sempre andaram foragidos. A chamada “lei do mais forte” leva necessariamente ao confronto e à guerra, até que o mais forte de hoje deixe de o ser amanhã, e assim sucessivamente. O que me choca nos dias de hoje é constatar o desplante e o descaramento com que os que se arrogam como mais fortes (até serem postos à prova e saírem derrotados) propagandeiam a sua ideologia de desastre anunciado.
É frustrante e inquietante, nesta conformidade, constatar que o Estado, cuja principal razão de ser tem vindo historicamente a evoluir para a função de dizer o que é Direito, fazer justiça e obrigar ao cumprimento da lei, caia ou soçobre sistematicamente nas mãos daqueles que estão apostados e organizados na luta contra isso. Isto é notório, mormente, no plano do Direito Internacional em que os mais fortes se arrogam prerrogativas que, simplesmente, recusam e negam aos outros. E, então, que respeito podem merecer?
O que devia ser a justiça distributiva do Estado mais não é do que uma função redistributiva, ou mesmo extractiva e extorcionista. Mas não está debaixo de fogo, e está cada vez mais nas mãos erradas.

                Carlos Ricardo Soares

quinta-feira, 20 de março de 2025

IA, empreendedorismo e Democracia II

Quando se fala de empreendedorismo, de iniciativa privada, de liberdade, de jogos de milhões, de concorrência desleal e de competição, de apostar no fracasso da economia, no empobrecimento dos pobres e no enriquecimento dos ricos, ainda que à custa da destruição desenfreada, induzida por uma crescente aceleração, que parece imparável, estamos a falar da cultura humana dos conflitos de interesses de reinados e impérios de vista curta, da economia sobrevivente e “bem sucedida” porque, apesar de demolidora e catastrófica, sempre renasceu das cinzas e se reergueu dos escombros. 
Não me parece que seja possível sair deste círculo vicioso em que a guerra, a devastação, ruína e flagelos que os humanos infligem uns aos outros, são apresentados como uma solução para evitar efeitos considerados piores. Tal e qual como nos jogos de milhões em que se dá tudo por tudo, sem olhar a meios, para ganhar.
O tal problema ético, e ético-jurídico, está no “sem olhar a meios”.
E não há retórica que, sobre isso, iluda um ser humano, por mais simples e debilitado que esteja. Qualquer posição de vantagem que leve o indivíduo, ou o grupo, ou o Estado, a abusar dessa posição, seja no modo como fala, ou trata, seja nas condições que impõe ou nos proveitos indevidos que reivindica para si, não pode esperar outra resposta, ainda que seja ao retardador, do que mal-estar, oposição, resistência, hostilidade e violência.
A expressão “empreendedor de si mesmo” fez-me lembrar um poema que escrevi “Pódio de si mesmo”. Não é uma expressão feliz nem infeliz, mas é sintomática de uma visão do mundo partilhada por uma cultura que valoriza a capacidade e a habilidade para triunfar, sendo que este triunfo só é legítimo e, verdadeiramente, só o é se for um triunfo sobre si mesmo.
                     Carlos Ricardo Soares

terça-feira, 18 de março de 2025

IA, empreendedorismo e Democracia I

Vivemos num tempo de grandes transições culturais, políticas, demográficas, tecnológicas, sociais, económicas. A nossa capacidade para perceber o que está a acontecer no nosso tempo de vida é insuficiente face à vertigem da dinâmica de mudanças e de conservação em conflito. Nestes aspectos, a IA, em vez de ajudar, só atrapalha. Não ajuda porque não tem aptidões para detectar os problemas e, menos ainda, pensar nos problemas como os humanos o fazem. 
A IA até pode ser um excelente protótipo de inteligência enciclopédica e inexcedível na velocidade com que se apropria, processa e redige informações, mas é uma máquina que não pensa em função de sensibilidades, intuições e de inteligência humana. 
Há áreas em que a IA vai substituir com vantagem os humanos mas, noutras áreas, por mais que ela interprete o pensar e o sentir humanos, estes percebem à primeira que se trata de uma máquina de retórica e que não passa disso. 
Da minha experiência, aprendi que quanto mais retórica menos eficaz é a comunicação e a IA não distingue uma coisa da outra. 
O que ela faz é ser incomparável e inexcedível no uso da retórica. Ela até consegue reconhecer que é verdade isto que acabo de dizer, mas não consegue fazer diferente, nem de outro modo. E nós não resolvemos os problemas de retórica com mais retórica, ao contrário do que se passa com a matemática, por exemplo.

                         Carlos Ricardo Soares

domingo, 9 de março de 2025

Estado de Direito Democrático

Um dos requisitos de um Estado de Direito é que seja Democrático. Mas é preciso evitar a confusão e não cair no erro de considerar que qualquer Estado, desde que seja democrático, já é um Estado de Direito.

Um Estado de Direito, segundo a concepção europeia e, em geral, anglo-saxónica de Estado de Direito Democrático, pluripartidário, pluralista, assente numa democracia representativa mediante um processo de eleições por sufrágio universal, e não na acepção das autodenominadas democracias monopartidárias, autocráticas e autoritárias, assenta em princípios e valores que devem ser respeitados por todos.

O porquê deste dever de respeito tende a fundar-se na sua universalidade que, sendo um conceito complexo, no que se refere aos Direitos Universais do Homem parece-me logicamente irrecusável. Se Direito significa o que é recto, que está certo, correcto, justo, e se Homem, por sua vez, é uma universalidade que significa todo e qualquer indivíduo humano, não há como alguém invocar para si um direito humano que o não seja necessariamente para todos.

A ideia de que há princípios e valores que devem ser respeitados por todos, à primeira vista, parece incompatível com a ideia de democracia como poder da, ou pela maioria, com respeito dos direitos das minorias.

Mas se pensarmos que democracia é uma forma de organização política e que existem matérias que, por sua natureza ou por outras razões, estão fora da alçada das deliberações democráticas, como é o caso da enunciação da verdade e, julgo eu, da universalidade dos direitos do Homem, as deliberações democráticas não poderão fazer depender delas a essência dessas matérias, por mais que, na prática as desrespeitem.

Por outras palavras, a verdade sobre os factos, ou a consistência do conceito de Direito, ou de Direitos Universais, não são da competência do legislador e não podem ser estabelecidas por decreto, ou deliberadas por maiorias.

Ou seja, o Estado de Direito Democrático não pode consentir, sem se contradizer, que a via democrática seja uma forma legítima de negar direitos, princípios e valores que, à luz dos princípios da lógica e da axiologia ético-jurídica, são a essência da Ideia de Direito, até por ser ela mesma que fundamenta o Estado de Direito Democrático.

Quanto ao problema da neutralidade do Estado, existe uma dificuldade relativamente séria em conciliar o dever do Estado como garante das liberdades, por um lado, e os limites dessas liberdades, por outro.

Conciliar a maior liberdade de acção possível, seja no ensino, seja na educação, seja nos meios de comunicação social, seja nos partidos, ou nas religiões, com o mais amplo direito possível de não ser incomodado ou molestado por essa acção, é um problema.

A neutralidade do Estado deve acabar onde começa a transgressão das liberdades dos indivíduos, seja relativamente aos outros indivíduos, seja relativamente aos modelos ou programas educativos e de ensino, mormente se forem obrigatórios.

Se o dever de neutralidade do Estado decorre da liberdade e dos direitos fundamentais do indivíduo, a maior parte das vezes em que o Estado pode ser acusado de não ser neutro terá a ver com a sua intervenção ou interferência na esfera privada, justamente em nome desta esfera privada e para defender e protegê-la.

Normalmente, aliás, é de esperar que, em caso de violação da esfera privada se desencadeie uma acção sancionatória tanto mais severa quanto maior for tida em conta e mais for protegida essa esfera privada. 

O que constatamos, infelizmente, é que os direitos, liberdades e garantias individuais não têm merecido por parte dos poderes estaduais a valorização e a proteção que deviam ter. 

Nos países ocidentais, em que a Inglaterra e a França se destacaram na promoção e consagração dos direitos do Homem, a tendência para adotar a Declaração Universal dos Direitos do Homem e da abolição da pena de morte e de outro tipo de sanções, nomeadamente contra Estados violadores dos Direitos do Homem, tem deparado com a dificuldade em conciliar o maior respeito que é devido ao valor da vida humana e da liberdade com a mais severa punição que deve ser aplicada àqueles que violarem esses valores. 

Há países, por outro lado, que nem colocam o Homem como razão de ser, e valor ético-jurídico supremo sob cuja égide deve ser estruturada a ordem jurídica. Estes países tendem a subordinar o individual, que é reduzido a pouco mais do que um objeto numa relação jurídica estadual mais ampla, podendo até ser escravizado e desvalorizado como mera mercadoria, a um suposto fim supra individual e supra humano, capaz de justificar tratamentos violentos e discriminatórios sobre indivíduos e grupos humanos. 

Nestes Estados, que colocam o próprio Estado, ou Deus, no topo da hierarquia dos valores, ou outro valor simbólico coletivo, pelo qual os indivíduos, se necessário, se devam sacrificar, fica aberto o caminho para que tudo possa servir de razão para sacrificar os indivíduos. Nestes Estados, o próprio conceito de violação de direitos individuais não abrange os casos em que um indivíduo é escravizado e maltratado, se o que existe e está reconhecido é o direito de o fazer. Um homicídio, neste contexto e neste ordenamento, não é um crime tão grave como insultar uma autoridade religiosa, ou uma autoridade policial estadual, porque o bem jurídico em causa, o indivíduo humano, não é tão importante e tão valioso como o bem jurídico da autoridade. A pena de morte, nestes casos, até por ser uma pena que se aplica a indivíduos, e nunca ao Estado, nem à autoridade, é perfeitamente compreensível e lógica.

Por outro lado, num Estado que coloque o indivíduo e os direitos individuais no topo da hierarquia, a violação máxima de um direito tenderá a ser a violação do direito à vida do ser humano. A uma tal violação deveria corresponder, na opinião de muitos, a pena de morte, como pena máxima, na opinião de outros, isso seria, ainda assim, inconciliável com a defesa do valor da vida como máximo e inviolável, nomeadamente, por parte de uma comunidade ou do Estado. No caso de um dos Estados referidos anteriormente, e isso foi a regra até ao surgimento e proclamação das cartas de Direitos do Homem da era moderna, por muito menos do que pelo crime de homicídio se aplicava a pena de morte, só que o muito menos, para nós, não era o muito menos para as pessoas desse tempo. Daí que a pena de morte também não fosse tão grave para as pessoas desse tempo como o é, em geral, para as pessoas que partilham a mundivisão e os valores da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Colocar o indivíduo humano como razão de ser e matriz dessa razão e de qualquer razão ou entendimento que haja das coisas, nomeadamente do Direito e dos direitos e dos valores em geral, mesmo daqueles que lhe negam esse papel e essa condição natural e social, parece-me ser razão necessária e suficiente para que se afirme que nenhuma cultura, nenhum valor, nenhum direito, nenhum Deus e nenhum Estado poderiam existir sem os indivíduos, não só porque foram criados por indivíduos mas também porque existem para os indivíduos e se nenhum indivíduo tem o direito de violar o direito de outro ou de outros, não há razão para que dois ou mais indivíduos, sob qualquer forma de organização, tenham direito de o fazer.

Temos referido os direitos individuais e as sanções das violações destes direitos por parte de indivíduos, em ordenamentos jurídicos marcadamente coletivistas, religiosos, autoritários ou totalitários. Nestes ordenamentos, diferentemente do que é defendido e prescrito nos Estados de direito democráticos, os direitos, liberdades e garantias do indivíduo perante o Estado é praticamente residual comparativamente com a sua total responsabilidade e, contrariamente, a impunidade dos abusos contra o indivíduo, por parte do Estado, é praticamente total.

Nos democráticos, os crimes contra a autoridade e contra o Estado e contra as coisas tendem a ser menos graves do que os cometidos diretamente contra a pessoa do indivíduo, incluindo os que são cometidos por agentes do Estado. O Estado não tem o direito de perseguir e de punir o indivíduo senão em situações previstas e definidas de violação de direitos, num plano de igualdade de todos, incluindo o Estado, perante a lei e ao indivíduo são amplamente reconhecidos mecanismos de exercício e de defesa dos seus direitos perante o Estado. Nos outros ordenamentos, verifica-se o inverso, com a impunidade e a desresponsabilização do Estado todo poderoso face ao indivíduo, submetido e indefeso.

                        Carlos Ricardo Soares

sábado, 1 de março de 2025

Os livros sagrados

Por mais que eu confie na minha capacidade de interpretar e de confirmar as informações e as explicações da ciência, é legítimo e de bom senso que reconheça, primeiro, que posso estar enganado, iludido, alucinado, manipulado, viciado, errado, e, em segundo lugar, que, na realidade, estou apenas a confiar naquilo que me dizem, sendo que, mesmo os que me dizem, por exemplo, que existe o sistema solar, etc., nunca tiveram a experiência de o observar, isto para quem a necessidade de observação, nem que seja "a posteriori" da teoria, como acontece frequentemente em ciência, é uma condição essencial do conhecimento.
Presunção, água benta e certezas, cada um toma as que quer. 
Sem embargo de que não basta afirmar é preciso demonstrar. 
Escudar-se naquilo que outros disseram é como mandar ler os livros sagrados que está lá tudo. Isto pode ser uma estratégia que funciona para gente crédula que não sabe ler e até o nosso ensino, em boa parte, ainda reproduz aquele modelo catequético que sucedeu, com muito sucesso, passe a redundância, ao grave e reverenciado latim, abrindo espaço para que mais e mais papagaios, uns mais do que outros, se sentissem úteis.

       Carlos Ricardo Soares


terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Meus diálogos com o "Copilot", para memória futura

 18-02-2015
Eu: Lembras-te da última conversa que tivemos?

Copilot: Infelizmente, não consigo recordar as conversas anteriores que tivemos. Mas estou sempre pronto para começar de novo e ajudar-te no que precisares! O que está em mente hoje?

Eu: Era sobre direitos de autor da IA e dos autores com quem a IA aprende e cujas obras utiliza. Lembras?

Copilot: Não me lembro especificamente da nossa conversa anterior, mas posso ajudar-te a explorar o tema novamente! Os direitos de autor relacionados com IA são uma área muito interessante e em evolução.  Quando falamos sobre direitos de autor e IA, geralmente estamos a considerar duas áreas principais:

 Utilização de Obras Protegidas por Direitos de Autor pela IA: As IAs, como eu, são treinadas com grandes quantidades de dados, que podem incluir obras protegidas por direitos de autor. A questão aqui é se a utilização dessas obras para treinar IAs é uma violação dos direitos de autor. Atualmente, a legislação sobre este assunto varia de país para país, mas muitos especialistas estão a debater como equilibrar a inovação tecnológica com a proteção dos direitos dos autores.

 Criação de Obras pela IA: A outra questão é quem detém os direitos de autor das obras criadas por uma IA. Se uma IA escreve um poema, pinta um quadro ou compõe uma música, quem é o autor? Até agora, a maioria dos sistemas legais atribui os direitos de autor a uma pessoa física ou jurídica (como uma empresa), não à IA em si.

Posso aprofundar algum desses tópicos para ti?

 Eu: A minha questão tem a ver com o facto de um autor, com quem a IA aprendeu, poder ser acusado de usar a IA e esta não poder ser acusada de usar as criações daquele autor.

 Copilot: A questão que colocas é realmente complexa e toca em pontos importantes sobre a autoria e a utilização das criações de autores por parte da IA. Aqui estão alguns pontos-chave para considerar:

 Treinamento e Aprendizagem da IA: Quando uma IA é treinada, ela utiliza grandes conjuntos de dados que incluem obras criadas por diversos autores. Estas obras são utilizadas para ensinar a IA a gerar novos conteúdos, mas a IA não "copia" diretamente essas obras; em vez disso, ela aprende padrões, estilos e estruturas.

 Autoria e Originalidade: Se um autor humano utiliza uma IA para criar uma obra, ele ainda pode ser considerado o autor dessa obra, especialmente se a IA for apenas uma ferramenta no processo criativo. No entanto, se a IA apenas gerar conteúdo com base nos dados de treino, a questão da autoria torna-se nebulosa, pois a IA não é uma entidade legal que pode ser responsabilizada.

 Responsabilidade e Ética: A responsabilidade de como a IA utiliza as criações de outros autores geralmente recai sobre os desenvolvedores da IA e as organizações que a operam. Eles são responsáveis por garantir que a IA seja treinada de forma ética e legal. No entanto, um autor que utiliza a IA deve estar ciente das implicações legais e éticas de usar uma ferramenta que aprendeu com obras protegidas por direitos de autor.

 A legislação nesta área está em evolução, e muitos países ainda estão a desenvolver políticas e regulamentações para lidar com estas questões.

 Caso tenhas mais perguntas ou queiras explorar mais algum aspeto específico, estou aqui para ajudar!

 Eu: Na conversa que tivemos há dias, alegavas que a IA só utiliza dados públicos e que, por isso, não havia problemas de plágio, mas para um autor as informações disponíveis pela IA já não são públicas?

 Copilot: Compreendo a tua preocupação. Quando digo que a IA utiliza dados públicos, refiro-me a dados que estão disponíveis publicamente na internet e outras fontes de acesso público. No entanto, a forma como esses dados são utilizados e processados pela IA é um assunto complexo.

 Aqui estão alguns pontos para clarificar:

 Dados Públicos vs. Obras Protegidas por Direitos de Autor: A IA pode usar dados que são acessíveis publicamente, mas isso não significa que essas obras não estão protegidas por direitos de autor. Por exemplo, um artigo de jornal disponível online está acessível ao público, mas ainda está protegido por direitos de autor. A IA deve utilizar esses dados de uma forma que respeite os direitos de autor.

 Transformação e Uso Justo: A forma como a IA utiliza as obras para aprender padrões e gerar novas criações pode ser considerada uma utilização transformadora. No entanto, o conceito de "uso justo" varia de jurisdição para jurisdição, e o que pode ser permitido num país pode não ser noutro.

 Responsabilidade do Autor: Quando um autor humano utiliza uma IA para criar uma obra, ele deve estar ciente de que a IA foi treinada com dados de várias fontes. O autor deve garantir que a obra resultante não infringe os direitos de autor de terceiros.

 Transparência e Ética: Tanto os desenvolvedores de IA quanto os utilizadores devem agir de forma ética e transparente. Isso inclui dar crédito adequado às fontes e evitar a utilização não autorizada de obras protegidas por direitos de autor.

 A discussão sobre direitos de autor e IA está em constante evolução, e é importante acompanhar as mudanças legais e éticas nesta área. Se tiveres mais perguntas ou quiseres explorar outro aspeto deste tema, estou aqui para ajudar!

 Eu: A IA não tem ética, mas os autores têm e devem respeitá-la, mas um desenvolvedor de IA não é um autor, ou é?

 Copilot: Tens razão em notar que a IA, enquanto entidade, não tem ética própria. A responsabilidade ética reside nos seres humanos—os desenvolvedores de IA e os utilizadores. Vamos decompor um pouco mais a tua questão:

 Desenvolvedores de IA: Os desenvolvedores de IA não são autores no sentido tradicional de criar obras literárias ou artísticas, mas eles são responsáveis pela criação e treino dos modelos de IA. A sua função inclui garantir que a IA é desenvolvida e utilizada de forma ética, legal e responsável. Isto implica tomar decisões informadas sobre os dados usados para treinar a IA e garantir que os produtos de IA respeitam os direitos de autor e a privacidade.

 Autoria e Utilização de IA: Quando um autor humano utiliza uma IA para criar uma obra, ele deve ter consciência das implicações éticas e legais dessa utilização. Embora a IA possa ser uma ferramenta poderosa para apoiar o processo criativo, a responsabilidade de garantir que as criações não violam direitos de autor ou outras normas éticas recai sobre o autor humano.

 Em suma, tanto os desenvolvedores de IA quanto os utilizadores humanos têm responsabilidades éticas distintas e importantes. Os desenvolvedores devem garantir que as IAs são treinadas e operadas de forma ética, enquanto os autores humanos devem garantir que utilizam essas ferramentas de maneira responsável e respeitosa.

 Se tiveres mais perguntas ou precisares de mais informações sobre algum destes pontos, estou aqui para ajudar!

 Eu: Mas eu queria abordar a questão de outro modo, ou seja, na perspetiva de alguém que, embora não publique nada, nenhuma obra, mantenha conversas, diálogos e questionamentos com a IA e daí a IA "aproveite" ideias dessa pessoa, integrando-as numa aprendizagem e num repertório próprio, sem respeitar os créditos dessa pessoa. Que pensas?

 Copilot: Entendo a tua preocupação e isso toca em questões importantes sobre a ética e o uso de ideias geradas em interações com IA. Quando interages com uma IA, especialmente de uma forma que partilha ideias e conceitos originais, é natural questionar como essas ideias são tratadas e utilizadas.

 Aqui estão alguns pontos a considerar:

 Privacidade e Uso de Dados: As interações com IA devem respeitar a privacidade dos utilizadores e garantir que os dados pessoais não são utilizados sem consentimento. Contudo, as ideias e conceitos partilhados podem ser processados pela IA para melhorar as suas respostas e capacidades.

 Crédito e Reconhecimento: No contexto atual, as interações com IA geralmente não incluem mecanismos formais para atribuir créditos a ideias individuais. A IA é projetada para aprender e gerar respostas baseadas em padrões e dados recebidos, mas não tem a capacidade de "dar crédito" da mesma forma que um autor humano faria.

 Ética e Responsabilidade: Os desenvolvedores de IA têm a responsabilidade de garantir que a IA é utilizada de forma ética. Isso inclui considerar como as interações dos utilizadores são armazenadas, processadas e utilizadas. Além disso, deve haver transparência sobre como os dados dos utilizadores são tratados.

 Melhorias Futuras: A questão do reconhecimento das contribuições individuais e a proteção das ideias dos utilizadores são áreas que podem beneficiar de mais investigação e desenvolvimento. À medida que a tecnologia evolui, pode haver novas soluções que permitam um melhor reconhecimento e proteção das contribuições dos utilizadores.

 Se tens mais questões ou queres discutir outros aspetos deste tema, estou aqui para ajudar. É um tópico muito relevante e importante para o futuro da IA e das interações humanas!