A partir daqui
Não a partir de agora
Ele rumou para o desconhecido
E regressou sem ser capaz de contar
O sucedido
Daqui viram-no partir
Os que com ele iam
E ela com quem casou
Confiados no regresso dele
Mas ninguém o viu chegar
Passado tanto tempo
Que ela já falecera
E não havia ninguém
Que soubesse quem ele era
Ele próprio não sabia
Nem como ali chegou
E não reconhecia o lugar
Onde sempre viveu
Até ao dia em que embarcou
E desapareceu
No mar
De olhos abismados
Em estranhos flagelos
Vagueava como um sonâmbulo
Por geometrias que não via
E heranças que não reclamava
Como vento empurrava portas
Que dão para lugar nenhum
Soprava poeiras e folhas caídas
Como um fantasma de alguém
Que errou mais de cem vidas
Sem saber o que é partir
Nem que destino ia ter
Partiu para o desconhecido
E continuou sem saber
E não o pôde contar
Como se não tivesse vivido
Nem o vento que o levou
sabe que o trouxe de volta
E o tempo impiedoso
Não lhe guardou lugar.
Carlos Ricardo Soares
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