segunda-feira, 15 de setembro de 2025

A triste história do desconhecido


A partir daqui

Não a partir de agora

Ele rumou para o desconhecido

E regressou sem ser capaz de contar

O sucedido

 

Daqui viram-no partir

Os que com ele iam

E ela com quem casou

Confiados no regresso dele

 

Mas ninguém o viu chegar

Passado tanto tempo

Que ela já falecera

E não havia ninguém

Que soubesse quem ele era

Ele próprio não sabia

Nem como ali chegou

E não reconhecia o lugar

Onde sempre viveu

Até ao dia em que embarcou

E desapareceu

No mar

 

De olhos abismados

Em estranhos flagelos

Vagueava como um sonâmbulo

Por geometrias que não via

E heranças que não reclamava

 

Como vento empurrava portas

Que dão para lugar nenhum

Soprava poeiras e folhas caídas

Como um fantasma de alguém

Que errou mais de cem vidas

 

Sem saber o que é partir

Nem que destino ia ter

Partiu para o desconhecido

E continuou sem saber

E não o pôde contar

Como se não tivesse vivido

 

Nem o vento que o levou

sabe que o trouxe de volta

E o tempo impiedoso

Não lhe guardou lugar.


               Carlos Ricardo Soares

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