sábado, 29 de outubro de 2016

Paradigmas falidos


Dou comigo a pensar que a realidade já ultrapassou, há muito, os modelos sociais, económicos, políticos, ideológicos, religiosos, científicos...que continuamos a defender, mas que, como paradigmas falidos, nada mais têm para nos proporcionar do que a vista do abismo.
Os nossos sistemas de inteligência (num sentido muito amplo) estão acoplados aos nossos sistemas de interesses, de tal modo que, dificilmente, a nossa visão das coisas não é "toldada" pelo nosso interesse (determinado pelas variáveis envolventes).
Por exemplo, recuando há cerca de 200 anos, ninguém "profetizaria", na euforia das revoluções, que o capitalismo encontraria os seus limites mais decisivos, não no seu princípio de incentivo à iniciativa e ao empreendedorismo, mas na necessidade de travar os efeitos demolidores das atividades humanas focadas nos lucros, uma vez que estes são cegos, surdos, mudos e têm como "racionalidade" o poder (razão necessária e suficiente).
Ora, o que há 200 anos parecia ser uma estratégia promissora, num planeta ainda intacto, imenso e "inesgotável", também ditava uma visão das políticas...educativas, em consonância.
A palavra de ordem era "explorar, desbravar, esventrar, transformar, romper barreiras, construir, industrializar, dinamizar, mecanizar, consumir...".
Nem por um momento se pensava que tudo isso era o princípio de um momento efémero, de um ápice, e o mais autodestrutivo da história.
Não havia religião, ideologia ou ciência que se apercebessem de que o mundo iniciara uma aventura perigosa; pelo contrário, até das pobrezas, das explorações humanas e das guerras, se extraía um otimismo reinante, sob os auspícios e a suprema legitimação dos ganhos materiais (que se justificavam a si mesmos).
Não é de estranhar que, nesse "clima", não houvesse contemplações para com miseráveis e até os poetas e os bardos infelizes, que expressavam angústias de músicos perturbados por ruídos cada vez mais insuportáveis, não passavam de uns acidentes...
Aliás, para os sentimentos "negativos" e angústias "inexplicáveis" havia terapêutica médica e, como prevenção, a educação.
Bem, abreviando, não é apenas o sistema de educação que tem de ser repensado. O mundo já não é o que era e os paradigmas em que se baseou a atividade humana que nos conduziu até aqui, já mostraram os perigos em que nos colocaram. A própria ideia de empreendedorismo tem um significado diferente do que teria há 100 anos.
Os Estados não vão permitir mais que os grandes interesses coletivos sobre o ambiente, os solos aráveis, a vida dos oceanos, os recursos naturais, em geral, a educação, a saúde e a justiça, fiquem nas mãos de indivíduos que têm como único critério de ação a obtenção do máximo proveito pecuniário.
No tocante à ciência, não vejo mal nenhum em que os Estados a deixem por conta dos interesses privados, desde que não se coloquem em situação de dependência e de subserviência relativamente a esses interesses.


terça-feira, 25 de outubro de 2016

O conceito de conhecimento poderoso


Quantos de nós começamos por aprender sem buscar nada? E acabamos a buscar conhecer sem ser por nada? Embora, desde cedo, nos tenhamos apercebido, de que tantos outros buscavam e buscam sistematicamente o conhecimento poderoso? De preferência tudo aquilo que não se ensina nas escolas, porque "o segredo é a alma do negócio"?.
De qualquer modo, o conhecimento poderoso não seduz e não interessa a todos. Pode até ser uma boa estratégia, na perspetiva das políticas educativas, mas aí o que está em causa é o interesse coletivo e não o interesse individual. 

Para instrumentalizar o conhecimento também é preciso conhecimento sobre instrumentalizar, sobre custos e sobre as finalidades. Isso do conhecimento poderoso, até pode ser fácil de perceber o que é, mas porquê e para quê e à custa de quê, pode não ser tão simples. 
Sem considerar outro lado da questão: basta querer para acontecer conhecimento poderoso?
O próprio conceito de conhecimento poderoso é muito vago e relativo, porque o que é poderoso, rapidamente, deixa de o ser, basta generalizar-se...