"Ser feliz é uma actividade que requer toda uma vida e não pode existir em menos tempo" - Aristóteles, Ética a Nicómaco
quinta-feira, 27 de outubro de 2022
domingo, 23 de outubro de 2022
Emboscadas
Por onde vão sem estradas
Nem marcas de ninguém
Se houver escadas
Para o além
Por onde vai sem música
O deambulo sem senão
Das ninfas disfarçadas
De mulheres de alguém
E o alvoroço que resta
Um pouco mais aquém
Por onde vão não há senão
Mundo de ninguém
E não conforta senão
A quem liberta
Não ter porta
Nem cerca.
sábado, 15 de outubro de 2022
Viver
Ai o sublime prazer de coçar
A metafísica comichão
A divagar
Com pródiga comoção
Que ora enxota a pulga
Ora exalta o cão
A elevar a imagem
Que não faz questão
Senão do valor
Da opinião esfarrapada
Sobre uma ópera interrompida
Por uma sorte avara
Que mudou a vida
E esquecer que a saudade
É a última a morrer
Que não se mata saudades
De ter sido
E de não ter sabido
Viver
Peculiares são os rios
Que tortos dançam
Na nitidez dos olhos
Avançam
Na noite alcançam
Definires
De momentos belos
Que nos esquecem
Quando menos esperamos
Onde havia castelos
Só nós estamos.
domingo, 9 de outubro de 2022
Confesso que vivi
Confesso que vivi
Sem pensar em preservar o que tinha
O espaço e a minha liberdade
A visão do meu mundo
Da casa grande
Das vistas largas
Onde cabiam
Quase todos os sonhos
Que havia
Da tranquilidade
Da interminável vinha
Onde nidificavam as aves
Que eu conhecia pelos nomes
Todos os sóis e chuvas
E todas as luas
Que ali me encontravam
Com a alegria e as uvas
Que não faltavam
Na paz criativa da fantasia
De falar incansavelmente
Com as coisas
E de elas falarem comigo
Como se fossem encarnações
Do maior amigo
Que era Deus
Anunciando o outono
E o inverno
E a primavera
Naquele paraíso privado
Em que havia mistérios
Sombras por todo o lado
E estrelas no firmamento
Mas tudo com tal significado
Que até a tristeza
Ali acontecia
Como concretização
De alguma profecia
De milhões de anos
Nem nos dias de nevoeiro denso
Me perdia
Porque havia no ar
Um cheiro dos lugares
Da beira rio
Ou o ladrar dos cães
À passagem das muares
Do moleiro pelos socalcos
Se a noite caísse nos becos
Sem chegar a casa
Bastava um assobio
Para ouvir os ecos
De socorro
Do mundo inteiro.
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