domingo, 9 de outubro de 2022

Confesso que vivi

Confesso que vivi 

Sem pensar em preservar o que tinha

O espaço e a minha liberdade

A visão do meu mundo

Da casa grande

Das vistas largas

Onde cabiam

Quase todos os sonhos

Que havia

Da tranquilidade

Da interminável vinha

Onde nidificavam as aves

Que eu conhecia pelos nomes

Todos os sóis e chuvas

E todas as luas

Que ali me encontravam

Com a alegria e as uvas

Que não faltavam

Na paz criativa da fantasia

De falar incansavelmente

Com as coisas

E de elas falarem comigo

Como se fossem encarnações

Do maior amigo

Que era Deus

Anunciando o outono

E o inverno

E a primavera

Naquele paraíso privado

Em que havia mistérios

Sombras por todo o lado

E estrelas no firmamento

Mas tudo com tal significado

Que até a tristeza

Ali acontecia

Como concretização

De alguma profecia

De milhões de anos

Nem nos dias de nevoeiro denso

Me perdia

Porque havia no ar

Um cheiro dos lugares

Da beira rio

Ou o ladrar dos cães

À passagem das muares

Do moleiro pelos socalcos

Se a noite caísse nos becos

Sem chegar a casa

Bastava um assobio

Para ouvir os ecos

De socorro

Do mundo inteiro.

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