Confesso que vivi
Confesso que vivi
Sem pensar em preservar o que tinha
O espaço e a minha liberdade
A visão do meu mundo
Da casa grande
Das vistas largas
Onde cabiam
Quase todos os sonhos
Que havia
Da tranquilidade
Da interminável vinha
Onde nidificavam as aves
Que eu conhecia pelos nomes
Todos os sóis e chuvas
E todas as luas
Que ali me encontravam
Com a alegria e as uvas
Que não faltavam
Na paz criativa da fantasia
De falar incansavelmente
Com as coisas
E de elas falarem comigo
Como se fossem encarnações
Do maior amigo
Que era Deus
Anunciando o outono
E o inverno
E a primavera
Naquele paraíso privado
Em que havia mistérios
Sombras por todo o lado
E estrelas no firmamento
Mas tudo com tal significado
Que até a tristeza
Ali acontecia
Como concretização
De alguma profecia
De milhões de anos
Nem nos dias de nevoeiro denso
Me perdia
Porque havia no ar
Um cheiro dos lugares
Da beira rio
Ou o ladrar dos cães
À passagem das muares
Do moleiro pelos socalcos
Se a noite caísse nos becos
Sem chegar a casa
Bastava um assobio
Para ouvir os ecos
De socorro
Do mundo inteiro.
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