sábado, 21 de dezembro de 2019

O sentido da vida

Ainda bem que a filosofia, e não tanto a investigação empírica, não tem como objecto a formulação de receitas para responder a questões e, muito menos, a resposta teórica a problemas de ordem prática.
A própria questão do sentido dificilmente será uma questão objectiva, quanto mais a questão do sentido da vida, da minha para os outros, para mim, e dos outros para mim, para eles. E, em tudo o que tiver de objectivo, provavelmente, já não é uma questão do sentido que se interroga, mas do sentido de que se parte.
Dentro das escalas e acepções possíveis de sentidos, imediatos, de mero expediente, de sobrevivência, ou teleológicos, biológicos, culturais, é possível concluir que tudo faz sentido ou não consoante a "oferta" de "sentido" disponível na cultura.
Do mesmo modo e ainda de acordo com essa oferta, seja ela religiosa, filosófica ou científica, não existe nenhuma "oferta" meramente subjectivista. A própria religião recusa peremptoriamente qualquer resposta subjectivista, relativista, pessimista, para a questão do sentido da vida.

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Engodos e bluff

Quando nos sentimos obrigados a vir para a rua gritar...
As nossas percepções tendem a ser influenciadas e manipuladas e viciadas pelas forças políticas, económicas e religiosas no terreno, que se manifestam diante dos nossos olhos e ouvidos de um modo tão virtual, com tantos engodos e bluff, com tanta representação social à mistura, que o facto de as televisões e os jornais e as redes sociais serem a nossa fonte de informação só por si constituem um problema sério porque, de algum modo, são nossos sequestradores.
Não há uma verdade oficial. E ainda bem.
O discurso oficial, o politicamente correto, são tão suspeitos que, eles próprios, se demitiram do dever de informar, porque eles têm interesse em não informar, ou em informar apenas o que lhes interessa.
E era aqui que eu queria chegar.
Os governos devem assumir como uma das suas funções principais, através da criação de equipas técnico-científicas, não a pedagogia das populações, nem a doutrinação, nem a propaganda alienante, virtual e massificadora, mas a informação a que, objetivamente, cientificamente, já é possível chegar e o cidadão tem direito.
Este “possível chegar” não é para o cidadão comum, mas é possível para o Estado.
Acredito que os Estados mais ricos tenham capacidade para recolher (e recolham) e tratar dados (e tratem) sobre praticamente todas as áreas, nomeadamente polítcas e económico-sociais.
A explicação para fenómenos tão estúpidos e vergonhosos como racismo, xenofobia, chauvinismo, hooliganismo..., ficaria acessível ao público e a sua análise permitiria concluir muita coisa, válida e consistente, sobre a sociedade, em termos comparativos no espaço e no tempo e as tendências atuais, nomeadamente políticas, para além daquilo que sabemos pelos telejornais e pelas impressões dos nossos amigos e inimigos.
Enquanto, aparentemente, os Estados andarem todos a fazer bluff (como se estivéssemos perante fenómenos inexplicáveis e sem solução) seremos induzidos a seguir líderes de coisa nenhuma, porque tudo o que têm para nos dizer (limitam-se a ampliar populismos e demagogias à cata de votos ou anuências ou proselitismo) não vale mais, nem é melhor, que aquilo que nós sabemos.
Se soubéssemos (e acredito que há Estados e polícias que sabem) quem são os racistas, etc..., e as razões e motivos que os movem, talvez ficássemos esclarecidos sobre aspectos muito importantes, graves e deploráveis, que podemos e devemos corrigir com justiça.
As cortinas de silêncio, o clima de suspeição, a cultura de bruma e de medo, os fantasmas da guerra... são instrumentos poderosos cuja utilização interessa a quem sabe muito daquilo que nos interessa saber mas não informa, porque tem poderes para “não informar”.
No entanto, não mais basta que um grupo dominante queira isto ou aquilo.
A minha percepção é que este é o problema, mas também é a esperança de mais justiça e de mais racionalidade.

terça-feira, 26 de novembro de 2019

A mais antiga tirania do mundo

Vai-se tornando notório que slogans como Livre, Liberal, Liberdade...são uma espécie de tumores cerebrais que ninguém quer. A tirania da liberdade é a mais antiga tirania do mundo. A da civilização à força vem a seguir. Quando a civilização conseguir conciliar o capitalismo com o socialismo, os interesses individuais com os interesses colectivos, sob a égide do respeito e do "culto" (de cultura) do planeta, submetendo o poder do dinheiro ao poder da razão e da ética, então pode deixar uma via de emergência aberta para quem quiser saltar fora, em vez de querer atirar os outros para fora.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Civilização à força

Ainda está por começar uma República, que seja democrática, respeitadora dos direitos individuais, desenfeudada dos poderes económicos organizados nos bastidores da fachada política, cujos eleitos (representantes) não sejam marionetas de um teatro que a turbamulta toma por vida e gesta de deuses e de demónios a que tem de estar sujeita.
Ainda estamos na antiguidade da organização social e política, mas acredito que não será por muito mais tempo. É como se andássemos a laborar no modelo ptolomaico por não conhecermos o modelo copernicano.
Estamos a remendar um tecido podre com todo o tipo de tecidos. Isto favorece um estado de espírito eufórico e muitas vezes alienado de crença no sistema de soluções, muito mais do que nas soluções do sistema.
Muito pouco daquilo que nos ensinam sobre liberdade e direitos e dignidade é verdade, mas nós só saberemos se descobrirmos.
As incoerências são tantas que ao defendermos a liberdade estamos a defender a prisão, a caixa.
O ensino e a aprendizagem são instrumentos que, como qualquer instrumento, não são desinteressados, nem inócuos, nem inocentes, têm objetivos.
O serem obrigatórios, em qualquer estádio de socialização do indivíduo, não pode deixar de os tornar suspeitos, de muitos pontos de vista, militar, político, económico, religioso...
Numa perspectiva de dogmática jurídico-política, sempre podemos questionar o sentido e a legitimidade da obrigatoriedade de ser civilizado, de frequência e avaliação do sistema de ensino, ou de um sistema militar, ou religioso...
Aliás, o simples facto, anódino e inofensivo, de alguém querer ser selvagem não me parece encontrar solução nem acolhimento no cardápio de direitos, liberdades e garantias, do catecismo das nações civilizadas.
Ou não vivemos numa civilização à força, que tem como bandeira a liberdade?

domingo, 17 de novembro de 2019

Os ideais de todos e a realidade de ninguém

Enquanto as discussões sobre os problemas ocorrem sob a égide de uma suposta bondade estribada numa suposta racionalidade de uma suposta justiça classificativa e seriadora, não temos razões para pensar que aqueles que suspeitam de uma tramóia não sejam, no fim de contas, os mais devotos defensores dos princípios e do paradigma em que a mesma assenta.
Acaso alguma vez os sistemas de ensino, mesmo esquecendo a autocrática supremacia da Teologia, em tempos mais recuados, relativamente a todas as outras disciplinas, corporizaram os ideais de todos e a realidade de ninguém?

terça-feira, 12 de novembro de 2019

A educação da linguagem/a linguagem da educação


O mundo em que vivemos atinge graus de complexidade cada vez maiores, não apenas por serem mais e maiores os problemas que enfrenta, mas também por ser tendencialmente desgovernado, se tivermos em mente a noção de governo em que fomos "educados", mas sobretudo a ideia, generalizada, mas não aceite, de que os governantes são tão inteligentes que nem precisaram de estudar para nos darem ordens e de que, nós, os governados, somos tão burros que precisamos de estudar toda a vida para tentarmos perceber as ordens que eles nos dão.
Os governantes "sabem", mas eu não sei, se é a educação que perverte a linguagem ou se é esta que perverte aquela, ou se a linguagem, pervertida, perversa, ou não, é um problema para a educação, ou vice-versa, embora o problema, na realidade, seja o problema da educação e não o problema da linguagem.

sábado, 9 de novembro de 2019

Nada será como antigamente

Torna-se cada vez mais patente, para não dizer evidente, que muita coisa está a mudar e, no ensino, também.
Se é para melhor ou pior, eis o problema.
Mas nada será como antigamente. E antigamente era o que se sabe: nem tudo se recomendaria.
O antigamente seria recomendável nas situações em que o presente fosse tão abonatório do passado que nem havia necessidade de o recomendar. Assim, estamos forçados a censurar e a louvar o passado pelo presente que nos "legou".
Se é preciso trabalhar muito para que tudo continue na mesma, quanto mais ou quanto menos não é preciso para mudar?

sábado, 2 de novembro de 2019

Fugir ao destino big bang


Será que podemos fugir ao destino? O destino, por natureza, é triste e, muitas vezes, trágico. Não precisamos de ser muito sábios para constatarmos a realidade do destino. Tudo isto é fado, tudo isto é triste, ou, tudo isto é triste, tudo isto é fado. Não se trata de optimismo ou de pessimismo. Optimismo ou pessimismo, cada um toma o que quer.
Talvez nenhuma espécie, como a humana, viva o dilema e o problema de as coisas não terem de ser como são, mas serem como são, apesar de não deverem ser como são.
Volto ao princípio: será que podemos fugir ao destino?
Tudo indica que sim e tudo indica que não. O big bang pode ser entendido como uma fuga ao destino. No entanto, cumpriu o destino. E, assim, tem sido ao longo de milhões e milhões de anos. Nos últimos séculos, os registos históricos revelam que a humanidade tem estado tão obcecada a fugir ao destino, que quase não tem tempo nem disponibilidade para mais nada. E, assim, cumpre o seu destino de fugir ao destino.
Inventa-se tudo, pensa-se em tudo, sacrifica-se tudo, faz-se tudo, para escapar ao destino. Mas o destino é cada vez mais destino.
Sem querer ser "totalitário", diria que todas as revoluções, toda a discussão e dialéctica entre o bem e o mal, toda a cultura e todas as guerras, quiseram moldar o destino e conseguiram-no.


quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Democracia e boa governação

O estado crítico da matéria é um dos mais avançados estados que a matéria pode atingir.
No momento atual, quando me perguntam em quem vou votar, sinto um nó na garganta, porque penso que está instituída uma cultura de perseguição pelo voto.
Um pouco mais de "propaganda" e essa cultura deixaria cair a máscara e mostraria, com orgulho, o rosto de alguma máfia. Se eu estivesse metido no aparelho político não falaria assim, sob pena de me considerarem louco.
Mas a sacrossanta democracia paira, com a sua auréola, apesar da inaptidão dos partidos, que têm provado não ser dignos dela.
Todos a invocam, mas fazem-no porque transferem as suas incompetências e falta de ideias para governar, para o inequívoco potencial da democracia para proporcionar as condições para o melhor dos governos. Como se a democracia, por si só, resolvesse os problemas, ei-los à cata de votos. Mas isto é enganoso, é querer que as pessoas pensem que votar resolve os problemas. Mas os problemas que a democracia resolve, ou previne, não se confundem com os problemas que os partidos são chamados, mandatados, para resolver. Democracia não é garantia de boa governação. A boa governação não é possível com os partidos que têm governado. Lançaram o país num pântano e não têm ideias de como sair dele. Eles mesmos estão atolados, atados, acusados, descredibilizados, a precisar que os salvem através do voto. O voto, para eles continua a ter um valor inestimável. Para eles, porque, para o cidadão, só tem valor na medida em que tem valor para os partidos. O que era importante, que o voto tivesse valor porque podia resolver problemas, ainda não está ao alcance do voto. A democracia não tem culpa de não termos partidos com as soluções de que tanto precisamos. Não basta ficarmos a saber de que lado está a maioria. Falta concretizar políticas que sejam as melhores.

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Património da Humanidade e Apropriação Privada

Dois indivíduos com os mesmos direitos, sendo um muito rico e poderoso e outro destituído de posses e de poder, colocam dois problemas diferentes face ao direito e à justiça e à liberdade.
Mesmo considerando/admitindo que os direitos do(s) indivíduo(s) são ditados pelo "colectivo" (de preferência qualificado e legitimado), a história da humanidade é a história de um colectivo não qualificado, nem legitimado, mas poderoso e privilegiado, a ditar os direitos e os deveres do indivíduo.
Nem precisamos de pensar que a melhor forma de estabelecer deveres e obrigações é pela positiva, pelo reconhecimento de direitos, uma vez que os deveres, em geral, são o outro lado da moeda (ex: quanto mais forte for o meu direito à vida mais forte é o teu e o nosso dever de respeito recíproco).
Para abreviar, o que me interessa sobremaneira, nos tempos actuais, é a necessidade imperiosa (não no sentido filosófico de necessidade lógica, mas no sentido biológico e social de sustentabilidade e sobrevivência) de o colectivo assumir o controlo dos interesses colectivos, sem cedências ao egoísmo e à ganância e à irresponsabilidade social de indivíduos e grupos poderosos que não têm outros critérios, nem outros objectivos que não sejam acumular riqueza.
Nem que, para isso, tenham de destruir a humanidade.
O liberalismo e o individualismo, doravante, só têm espaço dentro de uma política de subordinação aos interesses e aos valores da comunidade, entendida como comunidade de países e de Estados responsáveis. Não obstante, tarda muito esta subordinação e tenho dúvidas acerca da sua concretização, porque até parece estar a acontecer o contrário, ou seja, o colectivo é cada vez mais insignificante e irrelevante nos cenários político-económico-financeiros.
Indivíduos e grupos detêm e dominam cada vez mais o planeta, em detrimento do colectivo (entendido como igualdade de direitos humanos, relativamente ao património da humanidade, reconhecido e a reconhecer, liberdade e não discriminação...)

sábado, 7 de setembro de 2019

Democracia e partidocracia

Não existe a alternativa/opção de voto contra.
As extremas (esquerda e direita) apresentam-se como representantes do voto contra e têm vindo a ser bastante sufragadas.
Mas votar em qualquer outro partido não é votar contra o(s) partido(s) que governa(m). 
Aliás, quanto mais informação e noção das realidades político-partidárias houver, apostaria que, maior será a abstenção. 
A democracia, que existe enquanto modelo teórico, com algumas concretizações institucionais e que, sem dúvida, está consagrada na Constituição da República, está refém das instituições político-partidárias, mas a inversa não é verdadeira. Se as instituições político-partidárias estivessem reféns da democracia, isso seria um bom princípio de governabilidade.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

As soluções e os problemas, progresso e desenvolvimento

É bom que não percamos de vista as proporções e as comparações e que tenhamos referenciais de análise e crítica, se pretendemos dizer o que é melhor. 
É inevitável, quando se olha para o passado, a ideia do balanço. Mas o balanço pode ser difícil ou impossível de realizar, consoante os casos. 
Fazer propaganda, com entusiasmo, seja em que situação for de avaliar serena e objectivamente, é um mau sinal. A realidade não precisa de "álcool" ou "adrenalina" para ser o que é. E nós não precisamos de "drogas" para vermos a realidade.
No fundo, tentar comparar o mundo actual com o do passado, mais ou menos recente, é tentar um exercício de ciência histórica que não está ao alcance de todos. 
Tenho lido escritos de assumidos optimistas que só vêem progresso em tudo, porque acreditam que nada pode regredir e que nunca há regresso e que, aconteça o que acontecer, o que resultar será o melhor possível e que nada é melhor do que o possível. Estes, decerto, nunca se lamentam, nem queixam. 
Não obstante, parecem-me deterministas a tal ponto que são os mais refinados pessimistas. 
Porque "o que pode acontecer" é que lança o jogo e os humanos podem jogar muito forte, num determinado sentido. Quando olhamos para o passado e constatamos que houve um progresso, não podemos deixar de pensar que progresso é esse, qual o seu custo...
Se o progresso destruir o planeta, ainda assim é progresso?
Mais promissora e interessante do que a ideia de progresso, é a ideia de desenvolvimento e felicidade. 
À luz destas ideias, vemos que, antigamente, havia problemas que nós não temos e que, actualmente, existem problemas que os antepassados não tinham. 
A relação entre a quantidade e a qualidade dos problemas existentes e a capacidade, eficiência, na sua resolução, parece-me um bom rácio para fazermos comparações. 
Posso estar enganado, mas a minha percepção é que a nossa capacidade para ver problemas e encontrar problemas aumentou imenso, talvez muito mais do que a nossa capacidade para resolver problemas. 
Diria até que, por cada problema que resolvemos, criamos mais...

domingo, 11 de agosto de 2019

A poesia está para além das estrelas e leva-as


A poesia está para além das estrelas e leva-as para lugares onde elas não podem estar, mas fazem falta. A poesia está para aquém das estrelas e trá-las para lugares e momentos em que não seriam poéticas, se não fosse a distância. A poesia das estrelas e a ciência das estrelas não se prejudicam, mas se quiseres fazer um poema sobre o sol é inútil reproduzir o que a ciência diz no respetivo manual. E, se quiseres explicar o que é o sol, podes precisar de citar/escrever apenas um poema... As estrelas e o astro... sol... não são poemas, nem são ciência, mas as estrelas da minha noite e o sol do meu paraíso, ou inferno, podem ser mil poemas...

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Uma estranheza chamada Direito


O problema da justiça é que há o falar de justiça, há o dizer de sua justiça e há o fazer justiça. A única justiça (não há outra) é que é feita. Justiça injusta é coisa que nem ao diabo lembra. É como injustiça justa. 
É óbvio que a justiça é (vai ser) justa. 
Mas existe uma estranheza chamada Direito. 
Aqui é que "a justiça" torce o rabo ou se torce o rabo à justiça. 
Chamem justiça ao que puderem e quiserem dentro desses poderes, legislativos, executivos, "democráticos", porque a justiça não é só dos tribunais, a destes é uma ínfima parcela e até eles não são "senhores" absolutos de si próprios, porque o legislador é o grande justiceiro. 
O Direito é o imortal fantasma que persegue os justiceiros até ao inferno, quiçá para os libertar das garras de um diabo inexistente.

sábado, 29 de junho de 2019

Estado? Capturado


A principal característica do Estado, mas que, ironicamente, não faz parte da sua definição (consultem um dicionário ou uma enciclopédia) é que sempre esteve capturado. O que desmoraliza mais é não podermos dizer que houvesse/haja governantes e agentes políticos merecedores de distinção pela positiva. Nos últimos tempos, graças às tecnologias, vai-se "fiscalizando" um pouco mais, mas não tem passado disso. Os processos arrastam-se, os acusados, ou suspeitos, aguentam a pressão, e o sentimento de impunidade grassa, com graves consequências, tanto no plano ético, quanto no moral e sócio-político. Enquanto os altos "dignitários", sobretudo os envolvidos e próximos, não tomarem uma posição de responsabilidade e de dignidade e de direito, ninguém vai mais dar crédito a uma palavra que digam. As penas previstas e aplicadas para certos crimes que punham em causa a confiança no uso do cheque (lembram-se, ou não são desse tempo?) sustentavam-se num valor que parece não ter qualquer relevância, quando se trata de "dignitários" políticos. Felizmente, a sociedade atual vai reagindo e vai sendo cada vez mais intolerante com os desmandos dos "eleitos". Que estes reajam à altura, em vez de se acobardarem. Mas não, declaram-se inocentes e queixam-se de serem perseguidos. Viva a democracia!

domingo, 23 de junho de 2019

Capitalismo/Socialismo e quejandos

Sem entrar em detalhes teóricos e históricos, sugeria que analisassem o assunto na seguinte perspetiva: o capitalismo é uma prática arreigada ao longo dos séculos, um modo ainda primitivo, selvagem e natural de organizar a sociedade e a economia, praticamente desde sempre, apenas com os ajustamentos impostos pelas revoluções.
O marxismo/socialismo/comunismo foram iniciativas teóricas, de pendor científico, altamente criativas, mas terrivelmente revolucionárias, de assumir o controlo racional dos factos, políticos e económicos e culturais, em vez de ficarmos sujeitos a eles.
Quis ser uma espécie de "medicina" contra a "feitiçaria", uma espécie de ciência contra a religião e a mitologia, uma espécie de "poder da razão" contra a "razão do poder".
Não se limitaram a ser uma análise da realidade histórica do capitalismo, foram uma crítica, uma refutação da sua fatalidade e uma proposta de solução para os graves problemas do capitalismo.
Mas nunca foram, até porque depararam com tremendas resistências e oposições dos sectores capitalistas, uma prática instituída.
Na minha opinião, acabar-se-á por ter de organizar a sociedade de um modo em que o capitalismo será subordinado aos interesses coletivos e aos imperativos ambientais, da preservação da saúde e do planeta.
O que tem acontecido, até ao presente, é o contrário, é o capitalismo a subordinar e a tirar partido de tudo, inclusive de governos e de recursos naturais preciosos...

domingo, 19 de maio de 2019

Res Publica

A Res Publica, na realidade, é um equívoco tão requintado como a liberdade.
Todos sabemos que o Estado está capturado por todos os lados, sendo as partes mais interessantes e valiosas para quem tem mais liberdade de o fazer. 
O património do Estado é um colosso de ativos tangíveis e intangíveis, de goodwill, que só uma ampla liberdade de acesso restrito (e aqui é que está o problema, o acesso restrito a quem pode e manda) permite canalizar para interesses privados (dos mesmos que, por regra e tradição, são a favor da iniciativa privada, do individualismo, do liberalismo económico e político, enfim, de quanto menos Estado melhor). 
O paradoxo está neste preciosismo de culparem o Estado de ser Público e Colectivo e Interventivo, quando estão cheios de lucros e de soberba e de o sugarem até à falência, quando já colocaram os lucros fora do alcance do Estado, de quem se tornam devedores e caloteiros sem vergonha. 
De qualquer modo, o Estado está nas mãos deles, tanto na fase dos lucros como na fase dos prejuízos. 
Eles são realmente livres. 
Outros nem tanto.

domingo, 12 de maio de 2019

Política, futebol e religião

Às vezes temos a sensação de que, em política, vivemos num mundo de pernas para o ar. 
O Presidente da República nem precisa de ser soldado para ser o Comandante Supremo das Forças Armadas. 
O Ministro da Educação não precisa de ser professor para mandar em todos os professores. 
O Primeiro-Ministro, qualquer que seja a sua formação, pode avocar todas as pastas ministeriáveis...
Um analfabeto, um crocodilo, um cabrão...Se forem eleitos por meia dúzia de votos, se tiverem a maioria, mandam (governam?) no mundo? 
Não. 
Há mais mundo para além da política e dos políticos. O problema são os políticos.
É o serviço que eles prestam a quem eles prestam.
Mas ainda não se enxergaram. 
Ainda vivem no tempo dos Reis e dos súbditos.
Em comparação, o futebol é uma religião santa e a religião um futebol de pecadores.

domingo, 28 de abril de 2019

A liberdade não é uma bandeira

A liberdade que abril quis é uma liberdade dos amordaçados pela ditadura e dos oprimidos pela exploração e dos arregimentados à força...Mas não apenas uma liberdade de contestação, manifestação e protesto.
A liberdade dos criminosos e dos fascistas e dos arrivistas, dos corruptos, vendilhões, oportunistas, vigaristas, mafiosos...É a negação da liberdade.
A liberdade não existe simplesmente para todos. A liberdade de uns, não raro, é falta de liberdade de outros. A liberdade, em abstrato, não existe, nem sequer a liberdade de pensamento.
Ou temos liberdade de pensar, fazer e de escolher, ou de pouco vale a liberdade de protestar.
Quanto à liberdade de votar, é do mais falacioso e perverso que pode haver.
Basta ver as eleições nos regimes ditatoriais.

sábado, 6 de abril de 2019

Em nome de Deus


É desconcertante, para não dizer desconchavado, que existam profissionais da apologia e defesa de Deus, como se esse fosse o produto com mais garantia de venda e de sucesso, pelas suas qualidades intrínsecas...
Ou como se Deus fosse um coitadinho indefeso que precisa de imensos representantes e defensores que se voluntariam para falar em seu nome...
Ou como se Deus não tivesse quem o defenda...
Creio que este tipo de pensamento/procedimento é que Nietzsche denominou de niilismo.
A não aceitação do ser, da realidade, do que é, da natureza, de tudo o que existe ou se acredita que existe, incluindo Deus, é niilismo.
Então, tudo o que seja normativo, seja ou aspire à mudança da realidade, para se ajustar a algum ideal, ou, simplesmente, a algum interesse, é niilismo.
As religiões, e não só, laboram num processo de mobilização social para um dever-ser, como se o "ser" não bastasse e estivesse nas nossas mãos criar um outro "ser"... Talvez Deus.
Muito antes de haver uma preocupação com conhecer a realidade, o ser, já havia toda uma mobilização social e cultural, política e religiosa, no sentido do dever-ser. 
Ou seja, ainda desconheciam o ser e já lutavam denodadamente pelo que devia-ser.
Mas essa mentalidade foi interrompida com o irromper do método científico, mais focado no ser.
Até dá a impressão de que o ser pouco importava, desde que fosse aquilo que aprouvesse aos sacerdotes do dever-ser.
Não é despiciendo considerar que os sacerdotes do dever-ser falassem em nome de Deus, do sagrado, desse poder das palavras (Deus, com quem tinham conversado e de quem tinham registado, por escrito, as falas, tendo-se investido do mérito da comunicação com o poder divino), enquanto os arautos do método científico falavam em nome próprio, sem recurso à autoridade de musas, divindades ou potestades mas, tão simplesmente, com recurso à racionalidade.
O ser nunca foi acessível senão pelo dever-ser? O ser é um dever-ser que não é? O dever-ser é um ser que não é?

sábado, 26 de janeiro de 2019

Juízos de ciência e juízos de valor


O problema da verdade ou falsidade não existe em variados níveis de discurso. 
Uma pergunta não é falsa nem verdadeira. 
O bem ou o mal, também não. A própria realidade não é falsa nem verdadeira, em qualquer sentido, científico ou filosófico… 
O falso ou verdadeiro é uma questão de juízo. 
Juízo de ciência, nos termos e condições que o método científico estabelece. 
Mas outros juízos, não menos queridos e não menos humanos e não menos benignos, como os juízos de valor, têm uma palavra a dizer, antes, durante, depois e independentemente dos juízos de ciência, como é o caso dos juízos de valor.
De qualquer modo, tanto os juízos de ciência quanto os juízos de valor não têm objetividade. 
A objetividade não é uma característica dos juízos.
Os valores e a realidade material não se equiparam justamente porque aqueles são “juízos”. 
Não obstante, são juízos sobre condutas ou comportamentos humanos, reais. 
Tanto os juízos, quanto as condutas, ativas ou passivas, intencionais ou não, voluntárias ou não, são reais, pese embora a determinação dessa realidade.