quinta-feira, 25 de abril de 2024

A bandeira da Liberdade

A bandeira da Liberdade. Porque abril é sempre primavera.
A minha esperança na educação, como no resto, é fruto da minha constatação, desde sempre, de que, em liberdade, havendo condições de liberdade, a cultura, por si mesma, gera progresso. Ou seja, o progresso é inerente ao processo cultural, que é o processo pelo qual o homem, em liberdade, escolhe o melhor, no quadro das possibilidades.
A Educação deve abster-se de agitar bandeiras.
A única bandeira, se houvesse uma, que ficaria bem à Educação, seria a da Liberdade.
O conceito de progresso é muito problemático e quando vejo alguém a usar o termo como uma bandeira fico preocupado, mesmo que esse uso se tenha banalizado, ou faça parte daqueles lugares comuns a que todos torcem o nariz e ninguém é capaz de dizer não.
Quando é um grupo, ou um partido, seja de humanistas, da verdade, de Deus, ou de outra coisa qualquer, a agitar a bandeira de progresso, ainda fico mais preocupado.
É na Liberdade, no quadro das possibilidades, subjetivas e objetivas, que o indivíduo opera as suas escolhas (e não as dos outros), e estas devem ser o mais livres possível, não devem ser tolhidas com repressões e opressões e práticas de submissão que se reproduzem em espirais de discriminação, de desigualdades, de violência e de injustiça.

Sabemos que só há um modo de o indivíduo realizar e exercer as suas capacidades e aptidões mentais conscientes a que não temos diretamente acesso: é pelo processo do seu próprio pensamento, pela sua racionalidade, pelo “cruzamento de dados e de informações” que opera. Não sabemos o que vai na sua cabeça, mas podemos, até um certo ponto, saber que cada cabeça sua sentença. Cada indivíduo é uma instância moral irredutível, ainda que não seja uma instância irredutível de conhecimento.

De qualquer modo, e também por isso, os efeitos, as consequências, as implicações, os imprevistos, a criatividade, a inovação, da Educação, tirando um escasso espectro de adestramentos e de manifestações de competências aprendidas, que são normalmente avaliadas e classificadas para fins académicos e profissionais, extravasam imensamente tudo o que se possa imaginar. Caso para dizer que há mais vida para além da Educação.
Onde as pessoas têm liberdade de escolha o progresso acontece "naturalmente", diria mesmo que só na liberdade de escolha o progresso acontece como um determinismo. E isto deve dar-nos esperança e tranquilidade, desde que asseguremos a tal liberdade sem a qual os problemas se multiplicam. Em liberdade, o confronto com o tradicional faz parte do tradicional e é desse confronto que, também, resulta o progresso. Mas não se promove a liberdade quando se trabalha para a desinformação.
Iria mais longe, até ao paradoxo democrático, de dizer que não se promove liberdade quando se promove um partido, nem talvez quando esse partido fosse o partido da liberdade.

Carlos Ricardo Soares

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Parecendo que não

Parecendo que não

A fanfarra acaba

Na noite de luar

Não meço anos-luz

Nem fulgem rios

De memória

Como se um barco

Afinal

Não estivesse parado

No meu tempo.


Carlos Ricardo Soares