quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Ética, moral e religião


O problema da ética, mais do que filosófico, é prático, ou seja, é o das exigências da ética, é o da normatividade, que pode ser jurídica, meramente moral, ou religiosa. 

Dizer que as religiões são antiética não é nada ético, mas não cai na alçada jurídica, ou moral. 

Fabricar anticoncepcionais e usar anticoncepcionais, por exemplo, em condições normais, não levanta problemas éticos, morais ou jurídicos, mas levanta questões religiosas aos católicos.
Não diria questões ético-religiosas, que também ocorrem na religião, mas tão simplesmente questões religiosas. 

O católico sabe que o problema, neste caso, não está em decidir o que é bom ou mau de uma forma universal, mas em aceitar e seguir a doutrina da Igreja, cujos critérios de bom ou mau, no exemplo apresentado, não são os mesmos, tendo a ver, talvez, com virtudes cristãs que, fora da Igreja, são desvalorizadas e que, numa visão ateísta, podem não fazer sentido. 

Neste caso, o católico sabe que tem uma exigência do foro pessoal que só se torna ética na medida em que ele pertence a uma comunidade a cujos preceitos se vinculou. 

De alguma forma a ética está ligada a um dever. Perante os outros, temos deveres éticos, coercíveis, mas perante Deus os nossos deveres são íntimos e pessoais e incoercíveis.

Se há religiões que são antiéticas isso é um problema do (des)encontro de visões, concepções, entre éticas. 

Mais correcto seria, então, dizer que há éticas em conflito. 


Alguém que, ao posicionar-se do lado da ética, está a considerar que só existe uma, quiçá a dele, está a ser obviamente falacioso.


quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Democracia e plutocracia


      As democracias dos países têm muito pouco poder no (des)concerto das nações, ou por outra, perante as plutocracias sem fronteiras. 
      As democracias já têm muito pouco de democracia. Apresentam-se como "pacotes" de propostas estereotipadas de partidos que são, por sua vez, estruturados em função de um sistema eleitoral também gizado para que o sistema político-social dito democrático cumpra, não a vontade do povo, mas a função de "converter" formalmente a vontade do povo numa legitimação do sistema. 
      E assim se conciliam princípios aparentemente inconciliáveis, como o princípio da primazia do lucro (proveito pecuniário) sobre o princípio da racionalidade da exploração dos recursos, ou sobre o princípio da soberania da nação. 
      Cada vez é mais difícil aos poderes políticos estabelecerem e imporem limites aos poderes financeiros e económicos transnacionais, até porque estes se apresentam, cada vez mais, supranacionais e não conhecem fronteiras e, além disso, tendem a ser dominantes nos processos de decisão política dos Estados. 
      A voracidade desta espécie de liberalismo incontrolável é assustadora, porque domina sem se deixar "governar", nem por regras que sejam suas.

      A plutocracia, mafiosa ou não, obtém tudo sem dar garantias de nada, contrariamente ao cidadão que, mesmo para obter "nada", tem de dar garantias de tudo. Basta pensar num empréstimo bancário a um cidadão ou pequena empresa. Todas as garantias, pessoais e reais, lhe são exigidas, desde fianças a hipotecas. Mas um banco consegue obter financiamentos colossais, com dinheiros públicos (e aqui é que está o escândalo), sem dar e sem lhe serem exigidas, quaisquer garantias, como temos assistido ultimamente em Portugal.