É necessário libertar a instituição pública Escola dos discursos opinativos casuísticos, ou, pelo contrário, demasiado generalizadores, que têm direito de existir e não há como evitar, mas que, infelizmente, são como ventoinhas numa superfície de pó, ou seja, não apanham o pó, nem contribuem para ver melhor o pó e o que ele cobre. São uma espécie de dissipadores de obscuridade e de poluição. Numa altura em que poucos são os que não passaram pela escola, poucos são os que não têm uma ideia ou representações do que ela é, ou do que deve ser. Cada um tenderá, naturalmente, a manifestar o que pensa sobre uma realidade que, legitimamente e por experiência direta, conheceu. Mas as experiências individuais e as conclusões que cada um pode tirar delas, têm o valor que têm, são subjetivas e muito parcelares acerca de uma realidade dificilmente abarcável, mesmo recorrendo aos métodos e técnicas científicos mais avançados para conhecer a Escola.
A dificuldade de conhecer a Escola é notória e é imensa.
A Escola não é, nem de longe nem de perto, a minha escola, ou a tua escola, ou a escola deles.
Ninguém se atreve a fazer uma espécie de anatomia, fisiologia e neurologia da Escola, em geral, como instituição pública e particular. No entanto, como sempre acontece quando não sabemos o que as coisas são, toda a gente está à vontade para dizer o que as Escolas devem ser, o que as coisas devem ser.
Este é um tema que me é muito caro em cada abordagem que faço de qualquer assunto.
Se antes de lermos um texto tivéssemos alguma maneira de saber o que ele diz, isso evitaria que o lêssemos caso não nos interessasse.
Há uma dependência arcaica, tendencialmente diferenciadora e exclusivista, dos discursos linguísticos e da linguagem simbólica, da cultura livresca, focada no significado e no suposto valor da linguagem, que não deve ser promovido pela Escola, nem como sua principal razão de ser, nem como sua função primordial, nem como seu horizonte preferencial.
A Escola estaria condenada ao fracasso se fosse tão basicamente organizada à volta e por causa das aprendizagens especificamente dirigidas ao sucesso académico tal como ele é entendido num dado momento.
Aliás, é necessário libertar a Escola do academismo pernicioso em que alguns académicos bem sucedidos não devem ser apresentados como prova da sua bondade nem como justificação da sua eficiência. Julgo que todos sabemos que não é para isto, ou só para isto, que a Escola pública deve ser desenhada.
De qualquer modo, não me parece que a Escola alguma vez, fosse com que meios e recursos fosse, tivesse capacidade para realizar mais ou diferente do que aquilo que a realidade indivídual, social e cultural proporciona e permite operar.
Não há como dispensar os contributos das ciências humanas e sociais, nomeadamente as psicologias, as neurociências, as ciências da educação, a sociologia, e outras, não apenas para saber educar mas também como ensinar. É fundamental que se saiba boas formas de ensinar e de aprender, que se desenvolvam boas práticas de ensino e de aprendizagem, que se conheçam métodos e procedimentos adequados de avaliação e de classificação. E, já agora, que se esteja a par dos recursos existentes e disponíveis, bem como da utilização das ferramentas mais eficazes em cada situação, tanto para quem ensina como para quem aprende.
Nada disto é inerente ao facto de se ter uma habilitação especializada numa área disciplinar. E este requisito não é de somenos importância porque ao professor não basta ser especialista ou ter habilitações numa disciplina, ou área disciplinar, é necessário que, além dessa formação, seja professor.
Ser professor, como também acontece noutras profissões, está sujeito a uma redefinição acelerada, mercê de uma atualização sem precedentes das condições para o seu exercício e das funções concomitantemente solicitadas. Ninguém é professor por defeito.