Se há áreas em que o Estado tem uma função prioritária e de primordial relevância social como promotor e garante do bem comum, da igualdade na liberdade e da liberdade na igualdade, a escola pública é sem dúvida estratégica, mas tem sido um instrumento de instrução e de educação muito negligenciado, como normalmente tem sido negligenciado o investimento na cultura do conhecimento para a democracia, para a justiça e para a paz.
A pessoa, os seres humanos, apesar dos discursos politicamente correctos e muito farisaicos de tantos cónegos Remédios com investidura em cargos políticos da maior responsabilidade, na prática, continuam a ser tratados e considerados, para todos os efeitos, numa vertente económica meramente mercantil de rentabilidade imediata.
Esta redução dos problemas políticos e sociais à expressão mais
simples do seu potencial para gerar negócio lucrativo à escala piramidal das
lógicas financeiras, tem sido o princípio e o critério que presidem a todo o
discurso e acção política, que são assumidos como valores, ou virtudes, quando
deviam ser vistos e assumidos como o grande constrangimento ao Estado, que dita
às forças políticas os seus limites e as condições do seu exercício, ainda
antes de elas se manifestarem.
E este
constrangimento é de tal modo estrutural que os cidadãos o percebem claramente
e está na origem da pobreza das alternativas à governação e também explica em
grande parte a tendência crescente para uma abstenção desencantada.