"Ser feliz é uma actividade que requer toda uma vida e não pode existir em menos tempo" - Aristóteles, Ética a Nicómaco
segunda-feira, 12 de dezembro de 2022
domingo, 4 de dezembro de 2022
Felicidade dos bichos da fruta
Dizer que me fazes tanta falta
Que muitas vezes me recolho ainda
No pomar onde me surpreendias nua
Quando andava a estudar a felicidade
Dos bichos da fruta
Sem fazer ideia de quem tu eras
Te tomava por uma depravada astuta
Destapando-se maliciosamente
De entre as videiras
Atravessando-se nos meus olhos incrédulos
Que te fixavam
Como ofegante me apressava para ti
Dizendo espera espera
Enquanto desaparecias
Furtando o sexo ao meu desejo
E eu ficava com as uvas
E o sol
Em todas as partes que tocava
Projetava a tua sombra.
sábado, 19 de novembro de 2022
Falar idiota
Os estranhos sentidos das coisas transformadas
Em sombras de outras coisas
Que não foram
Em barcos ancorados sobre o dorso
Que alguma vez tiveram
Quando foram nadas
Ou apenas eram
Desejadas
Estranhas ilusões
Que nos povoam realmente
E nos percorrem
Como se fossemos estradas
Que deixamos para trás
Porque não imaginamos
Que viriam sequer a existir
De uma forma que está longe
De ser a melhor possível
De alguém sentir outonos
Ou falar idiota.
terça-feira, 15 de novembro de 2022
Sensacional
O hábito ao que é sonante
E ensurdece
Ao que destoa e preocupa
Ao ruído esgotante
Às ladainhas e às rimas
Ao esquerdo direito
“Up” is...
Esquerdo
Como um rio murmurante
Que fica para trás
E se ouve constante
Ao que é doce
E viciante
Ao se não é
Que fosse
Comediante
À espoleta do relógio
E ao monólogo do lente
Entediante
É uma azáfama
Frustrante
E por aí adiante.
quinta-feira, 10 de novembro de 2022
O poeta é o criador das musas
Sem pretender acrescentar um chavo ao que se tem dito e escrito sobre poesia e poetas, não resisto a expender algumas notas sobre uma matéria que sempre tive no centro dos meus
circunlóquios, não apenas para escapar a uma força centrípeta insuportável, mas também para não me perder em coisa nenhuma, porque, sem poesia, a função da vida
é muito mecânica e, com poesia, pode ser menos satânica.
De modo que o poeta, se constrói memórias, é sem o saber e evita essa cilada que o tempo coloca no caminho de que reflete
e sente o que lembra e pensa isso tudo de um modo que não é de todo inocente e ingénuo e "naïf".
O poeta desconstrói memórias, dele e dos demais, do que aconteceu fora
e dentro do seu mundo, como se elas desconstruíssem os mundos, interiores e exteriores, de tal modo que ele não encontra o seu lugar, por mais que lho reservem.
O poeta é desconstruído pelas
memórias, que tem, que perdeu e que não foi capaz de reconhecer, como um corpo pelo oxigénio em que arderam as suas células.
O poeta é o criador das musas que o enjeitam e julga saber
disso, até certo ponto.