O genuíno entusiasmo pelo conhecimento é contagiante e optimista, como só o conhecimento pode fazer que sejamos. Aliás, mesmo o pessimismo, por exemplo de um Schopenhauer, conquanto seja a constatação de uma realidade (com uma vontade não coincidente com a vontade da nossa realidade humana) que desejaríamos fosse outra, só pelo facto de a constatarmos já nos confere vantagens.
O pessimismo e o optimismo não são variáveis que o Newton ou o Einstein pudessem analisar através de um prisma, como se faz com a luz, ou que os niilistas pudessem descartar como irrealidades, fazendo tábua rasa do sofrimento e da morte, como se não existissem, ou que os realistas não entendessem como manifestações da mesma física que parece estar em tudo e por detrás de tudo, por nada haver que não seja físico, incluindo o pensamento mais estúpido ou o sentimento mais incompreensível.
Atrevo-me a pensar que, se há algo sem o qual nada aconteceria e tudo o que acontece deixaria de acontecer, esse algo é o movimento. Sem movimento haveria causalidade? Haveria alguma coisa?
"Ser feliz é uma actividade que requer toda uma vida e não pode existir em menos tempo" - Aristóteles, Ética a Nicómaco
sábado, 15 de janeiro de 2022
quarta-feira, 5 de janeiro de 2022
Se houvesse um refúgio
Se houvesse um refúgio
Ninguém quereria lá ficar
Chegamos finalmente ao lugarejo
Que chamamos do voo da águia
Bebemos da nascente à entrada
Água que estava a jorrar
Sem temer dragões à espreita
Pelos buracos das construções ao vento
Que ouvíamos a respirar
Fingindo tomar-nos por donos
Deste pensamento
Do mais sagrado que havia
Naquele lugar
Tão longe das encostas nevadas
E dos picos de sol
Como o outono na floresta
Dos líquenes
Na clareira surgiu um vulto
De mulher sorridente
Que a todas as perguntas
Nos indicava em redor
O que havia
Sem sombra de dúvida.
quarta-feira, 29 de dezembro de 2021
Pensar pela própria cabeça
Porque as coisas não têm de ser como são, pensar pela própria cabeça, faz todo o sentido, apesar de não ser de todos os quadrantes que se faz bandeira e apelo ao acto de pensar pela própria cabeça, bem pelo contrário.
O indivíduo nem sempre chega a entender a diferença entre pensar e pensar pela própria cabeça. É uma dicotomia algo artificial e estranha, porque, em rigor, só se pode pensar com a própria cabeça e, mesmo quando pensamos sobre aquilo que é cultura, objectivação de pensamento, ideias, juízos, ainda que não através de objectificação mais ou menos efémera, seja ou não linguagem, ou meio de comunicação, sonora, escrita, visual, qualquer que seja a codificação usada (por ex., dizer amo para significar odeio, etc..) é a cabeça de um indivíduo que “imagina”, “pensa” o que, aparentemente, está pensado, por exemplo, num livro.
Mas podemos ter a certeza, podemos estar seguros de que ninguém pensa pela cabeça de ninguém? Creio que sim.
No entanto, o acto de pensar é apenas uma forma consciente de pensar. Pensar nem sempre corresponderá a um acto consciente. A consciência, aquilo que, neste contexto, considero condição para se poder falar de acto, constitui, no conjunto da vida humana, suponho eu, baseado em mero palpite do tempo que passamos a dormir, ou quase a dormir, distraídos ou em estado “quase comatoso”, sendo a parte da vida que mais directamente testemunhamos, não deixa de ser relativamente muito pequena, embora a que é representativa para a nossa memória, do cronómetro biográfico.
E não é por não estarmos conscientes dos nossos metabolismos fisiológicos e processos neurológicos que eles deixam de ocorrer. Aqui, a nossa cabeça pouco ou nada pode pensar em termos de acto de pensamento determinante do processo. Ninguém, aqui, sequer pensa, nem pela própria cabeça, nem pela cabeça de outrem (se isto fosse possível).
É, não obstante, perceptível a diferença entre pensar como mero descodificador num processo de comunicação e pensar como emissor.
Se, perante uma assembleia de sábios, eu tivesse que falar com a condição de lhes dizer apenas algo que eles não soubessem, em verdadeiro e absoluto nome próprio, sem me ser permitido recorrer a citações, ou quaisquer ideias que não fossem minhas, não sendo aceite sequer que me referisse a qualquer doutrina, autor, teoria, ideologia, devendo mostrar originalidade e conhecimento de tal modo que eles próprios nunca tivessem sequer suspeitado, a minha prova seria algo parecido com uma missão impossível e não teria nada a ver com uma prova acerca do que pensaram os outros, sábios ou não.
Naquela minha hipótese, eu teria que pensar pela própria cabeça.
O problema é que pensar pela própria cabeça não é tão cómodo, nem tão fácil, nem tão compensador, nem tão “inteligente” e “económico” e, do ponto de vista da comunicação, é um desafio com obstáculos brutais, tanto para quem emite, quanto para quem recebe.
O indivíduo nem sempre chega a entender a diferença entre pensar e pensar pela própria cabeça. É uma dicotomia algo artificial e estranha, porque, em rigor, só se pode pensar com a própria cabeça e, mesmo quando pensamos sobre aquilo que é cultura, objectivação de pensamento, ideias, juízos, ainda que não através de objectificação mais ou menos efémera, seja ou não linguagem, ou meio de comunicação, sonora, escrita, visual, qualquer que seja a codificação usada (por ex., dizer amo para significar odeio, etc..) é a cabeça de um indivíduo que “imagina”, “pensa” o que, aparentemente, está pensado, por exemplo, num livro.
Mas podemos ter a certeza, podemos estar seguros de que ninguém pensa pela cabeça de ninguém? Creio que sim.
No entanto, o acto de pensar é apenas uma forma consciente de pensar. Pensar nem sempre corresponderá a um acto consciente. A consciência, aquilo que, neste contexto, considero condição para se poder falar de acto, constitui, no conjunto da vida humana, suponho eu, baseado em mero palpite do tempo que passamos a dormir, ou quase a dormir, distraídos ou em estado “quase comatoso”, sendo a parte da vida que mais directamente testemunhamos, não deixa de ser relativamente muito pequena, embora a que é representativa para a nossa memória, do cronómetro biográfico.
E não é por não estarmos conscientes dos nossos metabolismos fisiológicos e processos neurológicos que eles deixam de ocorrer. Aqui, a nossa cabeça pouco ou nada pode pensar em termos de acto de pensamento determinante do processo. Ninguém, aqui, sequer pensa, nem pela própria cabeça, nem pela cabeça de outrem (se isto fosse possível).
É, não obstante, perceptível a diferença entre pensar como mero descodificador num processo de comunicação e pensar como emissor.
Se, perante uma assembleia de sábios, eu tivesse que falar com a condição de lhes dizer apenas algo que eles não soubessem, em verdadeiro e absoluto nome próprio, sem me ser permitido recorrer a citações, ou quaisquer ideias que não fossem minhas, não sendo aceite sequer que me referisse a qualquer doutrina, autor, teoria, ideologia, devendo mostrar originalidade e conhecimento de tal modo que eles próprios nunca tivessem sequer suspeitado, a minha prova seria algo parecido com uma missão impossível e não teria nada a ver com uma prova acerca do que pensaram os outros, sábios ou não.
Naquela minha hipótese, eu teria que pensar pela própria cabeça.
O problema é que pensar pela própria cabeça não é tão cómodo, nem tão fácil, nem tão compensador, nem tão “inteligente” e “económico” e, do ponto de vista da comunicação, é um desafio com obstáculos brutais, tanto para quem emite, quanto para quem recebe.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2021
Todas são uma
As
mulheres
São
tão secretas
Que
só o poeta sabe
Que
todas são uma
Imprescindível
aparição
Que
não acontece
Nas
ocasiões mais felizes
Que
nas tristes
Todas
não são
E
o poeta cuida
Que
figurem na íntima narração
Das
criações belas
Que
povoam as telas
De
quem confia sem receio
Em
todo e qualquer devaneio
Que
elas são.
segunda-feira, 29 de novembro de 2021
O que tens a dizer sobre o que quer que seja
Se
o que tens a dizer
Sobre
o amor
Ou
o que quer que seja
É
que já foi tudo dito por outros
Essa
charada
De
ti
Não
diz senão
Que
estás de porta trancada
Mas
ninguém atira uma estrela
Pela
janela
Como
quem dispensa dons
De
profetizar
A
partir do céu
Vestires-te
de conchas
Das
profundezas marinhas
Não
te tornará mais cromo
Do
que apanhares banhos de sol
Ao
luar
Entre
os ópios do povo
Que
venha o diabo e escolha.
quarta-feira, 24 de novembro de 2021
Virtudes e defeitos do capitalismo e do liberalismo
Os capitalistas e os liberais vão ter de aceitar e de se sujeitar, se outra não for a vontade democrática actualizada em função da evolução histórica, às novas condições de promoção e desenvolvimento de iniciativas económicas, financeiras, laborais, impostas pelos ecossistemas e suas implicações, ou pelos imperativos legais ditados pela actual realidade do conhecimento e dos poderes das tecnologias.
Mas isso não quer dizer que eles tenham de aceitar ou de se sujeitar a algo de mau ou de menos bom para eles. Só quer dizer, nesse âmbito, que, ou o capitalismo e o liberalismo serão condicionados e limitados para áreas de intervenção económica mais restritas e consentâneas com a necessidade de sustentabilidade social e ambiental e natural, ou, concomitantemente, poder-se-ão assumir como parte da solução, serem factores da mudança e agirem como motores e agentes concorrenciais das tão urgentes e hercúleas mudanças que os actuais paradigmas políticos, económicos, sociais e financeiros e jurídicos, reclamam e exigem.
Das muitas críticas que se podem fazer ao capitalismo e ao liberalismo tal como os conhecemos desde a revolução industrial, algumas podem ter a ver com a aptidão do capitalismo e do liberalismo para gerar e promover riqueza, através da exploração desenfreada e insustentável e injusta de recursos, mas esta aptidão também pode funcionar ou operar, com igual eficácia, nas actividades de salvaguarda e de preservação e de desenvolvimento de soluções economicamente interessantes de grande envergadura, com benefícios directos para a humanidade que talvez fossem ou sejam impossíveis de alcançar tão eficazmente num modo de produção diferente, de tipo colectivista ou socialista.
As virtudes do capitalismo e do liberalismo não são tantas que obriguem os capitalistas e os liberais a serem virtuosos, mas também não são tão poucas que não permitam que estes o sejam, como devem ser.
sábado, 20 de novembro de 2021
Direito, igualdade, imperativo categórico
Imperativo
categórico – é a norma a que necessariamente deves obedecer por ser o princípio
e critério necessário de um juízo de direito. A ideia de direito, a definição
de direito, implica que a tua norma é também a norma do outro e que,
consequentemente, serás julgado pela norma pela qual julgares o outro.
A esfera dos teus direitos só encontra fundamento e justificação na medida em que fundamenta e justifica a esfera de direitos do outro. Qualquer direito que te arrogues só será direito se for universal. Por ex., se alguém reclamar para si o direito a ter um avião, é imperativo categórico que qualquer outra pessoa possa igualmente reclamar esse direito. Mas o imperativo categórico, em termos de consciência política e de justiça social e ambiental, conduz a que não seja direito, por exemplo, que um indivíduo se prevaleça e se aproveite de mais recursos do que aqueles que lhe são estritamente necessários se calculássemos a parte dos recursos disponíveis estritamente necessários a cada ser humano. Grosso modo, por ex., se é impossível que todas as pessoas tenham um avião, eu não tenho direito a ter um. Ou, por outras palavras, o imperativo categórico não comporta que haja dois pesos e duas medidas.
O teu quinhão não pode ser composto à custa e com prejuízo do quinhão do outro, entendido como todo e qualquer outro ser humano.
O princípio da igualdade é o reconhecimento e a expressão de um imperativo categórico: a norma que escolheres para ti é válida para o(s) outro(s). No fundo, corresponde ao princípio da não contradição.
A discussão em torno das questões de justiça social teria imenso a ganhar, seria muito mais fértil, se não se distraísse do imperativo categórico da igualdade.
Até podes arvorar-te em medida e critério de todas as coisas, mas é imperativo categórico, quer dizer, não tens razão alguma para recusar, que todas e quaisquer pessoas façam o mesmo.
A menos que faças como os profetas e o messias, que apelaram à sua natureza alegadamente divina.
A esfera dos teus direitos só encontra fundamento e justificação na medida em que fundamenta e justifica a esfera de direitos do outro. Qualquer direito que te arrogues só será direito se for universal. Por ex., se alguém reclamar para si o direito a ter um avião, é imperativo categórico que qualquer outra pessoa possa igualmente reclamar esse direito. Mas o imperativo categórico, em termos de consciência política e de justiça social e ambiental, conduz a que não seja direito, por exemplo, que um indivíduo se prevaleça e se aproveite de mais recursos do que aqueles que lhe são estritamente necessários se calculássemos a parte dos recursos disponíveis estritamente necessários a cada ser humano. Grosso modo, por ex., se é impossível que todas as pessoas tenham um avião, eu não tenho direito a ter um. Ou, por outras palavras, o imperativo categórico não comporta que haja dois pesos e duas medidas.
O teu quinhão não pode ser composto à custa e com prejuízo do quinhão do outro, entendido como todo e qualquer outro ser humano.
O princípio da igualdade é o reconhecimento e a expressão de um imperativo categórico: a norma que escolheres para ti é válida para o(s) outro(s). No fundo, corresponde ao princípio da não contradição.
A discussão em torno das questões de justiça social teria imenso a ganhar, seria muito mais fértil, se não se distraísse do imperativo categórico da igualdade.
Até podes arvorar-te em medida e critério de todas as coisas, mas é imperativo categórico, quer dizer, não tens razão alguma para recusar, que todas e quaisquer pessoas façam o mesmo.
A menos que faças como os profetas e o messias, que apelaram à sua natureza alegadamente divina.
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