Como só a harmonia consegue
Quem há-de dizer
Com todas as letras
Para as estrelas
E daí
Obter resposta
Numa língua que não existe
Aplacar em letra morta
O silêncio
Pisar escombros com a planta dos pés
E como antídoto ensurdecer
Com sofismas
Para dores fantasmáticas
Em doses homeopáticas
Diluídas na metafísica
Do maravilhoso aquário
De argumentos
Sem se molharem
Sem afundarem
Patinando artisticamente sobre uma superfície gelada
De postulados cosmológicos
E imunes às forças opostas
Como só a harmonia consegue
Em parcimoniosos compassos
Ou bélicas coreografias
Quem há-de sacrificar
Tudo o que resta
O que importa salvar
Não é a verdade
Nem do que sabemos
Nem do que dizemos
É o que somos
E o que fazemos
É o que as coisas são
Até se tornarem noutras coisas
Que não reconhecemos senão
Na nossa visão
Por mais desculpável que seja
A nossa falta de visão
Por mais que se agigante
O espectro da invisibilidade
Na luta que se encarniça de olhar para si mesma
Como inimiga
Que não pode evitar
Nem vencer
Nem servir de alimento a uma letra
Para não dizer pomba
Morta
Da paz.
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