terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

O futuro já começou ontem

O que torna o futuro mais apetecível é este presente sofrível, para não dizer deprimente. 

Há muita gente que se apazigua e encontra panaceias na imaginação do passado. Outros procuram sair do presente, o mais rapidamente possível, dispondo-se a pagar um preço por isso. Outros ainda, fazem todo o tipo de esforços para não saírem do presente, por várias razões, entre elas, não quererem voltar ao passado (como se isso fosse possível), nem quererem o futuro, onde, de certo, só há coisas más ou menos boas, tudo o mais tem de ser construído, edificado, com imenso esforço, muito mais do que aquele que é necessário, todos os dias, para que tudo continue na mesma.

Mas o futuro já começou ontem.

Os ovos do futuro já estão a incubar. Podem não eclodir todos, mas os que eclodirem serão mais determinantes do que os outros. Ovos de víboras e de serpentes, de pombas e de andorinhas, de peixes e de galinhas...E ovos de ouro...E muitos outros ovos em cestas de investimentos diversificados, em apostas...

Mas isto dos ovos é terrível, porque os ovos de uns são uma ameaça, ou um perigo, para os ovos de outros. Há quem se ocupe em destruir e devorar os ovos dos outros.

E, na realidade, por mais ecografias que se façam, nunca se sabe se vai eclodir um monstro.

Mais do que uma esperança, o futuro apresenta-se como uma fatalidade.

É preciso estar imbuído de uma boa dose de desespero e de infortúnio para forçar a casca e tentar uma saída. Uma saída é isso mesmo, não necessariamente para um local melhor, para uma situação melhor (pode ser para a boca de um predador), mas mesmo quando se conhecem os riscos, nem sempre é possível deixar de os correr e pode ser melhor corrê-los.

Se isto é aplicável a qualquer época, ou momento histórico, o nosso apresenta a particularidade de, em geral, os riscos, aparentemente, estarem ou poderem ser controlados. Acreditamos nisso.

Isto pode não encorajar suficientemente a tal saída, mas o nosso maior desafio é esse: ousar, que nunca o risco foi tão pequeno, nem as expectativas tão grandes, e não deixar os nossos “negócios” ao acaso, nem os nossos créditos por mãos alheias.

 

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