terça-feira, 7 de abril de 2020

Entre deus e o diabo


Convidaria um grupo constituído por cientistas de todas as áreas, filósofos, historiadores, pintores, arquitectos, teólogos de todas as religiões, professores de todos os níveis de ensino, políticos de todos os partidos, militares de todas as armas, críticos de arte, de todas as artes, economistas, fotógrafos, poetas, navegadores, cantores, anacoretas, jardineiros, feiticeiros, romancistas, cronistas, psicólogos, pedagogos, banqueiros, capitalistas, arrivistas, astrólogos, malabaristas, agricultores, operários fabris, alfaiates, trolhas e pedreiros, santos, sábios, altezas, vedetas, adivinhos, adultos, crianças, polícias e advogados, juízes, médicos e coveiros...
...Para comentarem este quadro, 

sob a advertência de que isso seria uma prova de avaliação feita por um júri constituído pela santíssima trindade, um Deus e três pessoas distintas, como condição de entrada no paraíso que fica à entrada do paraíso, onde se junta uma multidão de felizes cujo destino é aspirarem à felicidade. Mas, para alívio e incentivo à criatividade, os critérios de avaliação seriam muito gerais, não tão gerais que o Diabo tivesse intervenção na sua formulação, nem tão específicos que Deus recusasse a César o que é de César, nem ao ideal o que é do ideal.
Rafael, neste quadro, ultrapassa tudo o que alguma vez imaginei sobre o que seria a escola ideal, Platão apontando para o céu. Rafael, neste quadro, ultrapassa igualmente o que imaginei sobre o que é a escola que temos, Aristóteles apontando para o chão. E, em vez de deuses ou demónios, santos ou anjos, pinta, na sua escola, sábios, que sabem, que sabem fazer e que fazem. Em vez de símbolos do que deve ser feito, símbolos do que é feito.
Eu gostava de entrar numa escola como quem entra num templo, onde é omnipresente a voz dos sábios que não mandam ajoelhar, mas dos que proíbem que se ajoelhe, dos que provocam a luta e a rebeldia e a crítica e a justiça, a luta entre Deus e o Diabo até que um deles morra.
Rafael estava em pleno século XV, a respirar os ares da Reforma.

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