sábado, 25 de abril de 2020

Arte de pensar

Para quem gosta de pensar, não só pela necessidade de pensar mas também, e sobretudo, pelo prazer/sofrimento de pensar, que o pensar, entre ser espontâneo e ser acto pode não ser nada e pode ser muito. 
E se for expresso em palavras e se forem gravadas, sobreleva às armas e às bombas e a todas as batalhas e guerras, como é fácil de comprovar na história. 
Apesar de, ou embora perdurem os ecos das explosões e dos gritos e os efeitos da destruição de há mil anos, não passam de ecos distantes, a que quase todos são surdos e, mesmo assim, é preciso procurá-los em alguma forma de escrita. 
Tem mais impacte e poder demolidor sobre uma cultura, e é mais subversiva, a declaração de uma "verdade", do que uma bomba atómica. 
As armas e as bombas calam-se de imediato, as vítimas também, mas as palavras, mesmo soterradas, podem ressuscitar milénios depois. 
Platão, Aristóteles...calaram-se, mas as suas palavras falaram cada vez mais e mais.
Entre as forças da natureza que a física declarou, ainda falta declarar, em alguma fórmula consistente, a força do pensamento.
Muitas vezes os pensamentos parecem surgir e fluir por si mesmos, permitindo-nos o prazer de os “observar” e de os avaliar, podendo até conduzi-los, detê-los, recuar e retomá-los, de igual modo ou de modo diferente.
Outras vezes, eles tomam-nos de assalto e brotam sem que os possamos simplesmente parar, podendo mesmo atormentar-nos fazendo-nos desejar desligar o cérebro e descansar.
As características do pensamento são muito curiosas porque este parece desdobrar-se, uma vezes mais facilmente do que outras, em pensamento e pensamento que se pensa a si mesmo, com intensidades que variam de um para o outro, por razões que nem sempre podemos controlar muito bem.
Este pensar sobre o próprio pensamento é algo como ter uma ideia e pensar sobre ela e pensar sobre este pensamento e sobre o outro e assim sucessivamente, dependendo a dificuldade do empenho que pusermos em não perder de vista a teia de raciocínios, de silogismos ou de ilações, ou de induções.
Assim sendo, há a possibilidade de uma disciplina sobre o pensamento, pelo menos enquanto acto, e é possível desenvolver estratégias e habilidades e arte de pensar.

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