A ciência, enquanto tal, enquanto
conhecimento, arriscaria dizer que é boa. A ignorância, arriscaria dizer que
não é boa.
Mas toda a decisão, ou ação/omissão, ainda
que baseada na ciência, nos coloca perante um problema de bem ou mal, bom ou
mau, ou nem uma coisa nem outra.
As consequências, ou efeitos, da ação/omissão
são um problema não menos importante ou crucial do que os problemas da ciência
enquanto conhecimento das coisas.
Não é racional, nem é bom que se deixe o
poder de decisão sobre o uso do conhecimento àqueles que detêm esse poder
porque lá chegaram por qualquer via, autocrática, democrática, plutocrática...
Mas também, não é pelo facto de os cientistas
o serem nas suas áreas específicas, que o sejam na "ciência das
escolhas", no momento de escolher a melhor opção possível.
A ciência das escolhas é uma coisa
"tramada", porque, modo geral, quando se trata de agir, por exemplo, conquistar um país, dominar uma região, toda a ciência se presta a qualquer
escolha, exceto a ciência das escolhas.
Não é apenas um problema de ética. É
sobretudo um problema económico (de sobrevivência da humanidade e bio-ambiental), que
ultrapassa o "logos" da ética e adquire contornos da ordem do
transcendente.
Não parece que possamos prescindir do
contributo e da intervenção crítica muito atenta da ciência das escolhas sempre
que se trate de saber o que é melhor, do leque das ações/omissões disponíveis.
E muito menos prescindir de mecanismos
políticos que garantam a melhor decisão (que não poderá ser meramente política mas, tanto quanto possível, científica). E aqui já deparamos com uma imensa dificuldade.
A história é a demonstração, até à exaustão,
de que o poder, nas mãos dos loucos, transforma o conhecimento num instrumento
de destruição e de domínio e de que o poder, de uma ou outra forma, acaba sempre em
violência mais ou menos camuflada sobre as pessoas e o ambiente e as coisas em geral.
Há que respeitar a vontade das pessoas
adultas sempre que essa vontade não colida com interesses de terceiros e, se
tiver que lhes ser imposta alguma restrição por razões de interesse público,
que seja dada garantia de que o risco é assumido pelo Estado, que responderá
por danos.
Neste aspeto, sempre salvaguardados os princípios da responsabilidade civil e os limites criminais, que têm a ver com publicidade enganosa, burla, etc...., a questão das vacinas não
parece diferente de outras situações em que há intervenções na saúde.