Vamos
colocar as questões da seguinte forma: nós não aceitamos a natureza, o ser da
natureza, que é um "sendo" contra o qual, sendo nós natureza, não era suposto estarmos,
mas somos a natureza "suicida", um produto da natureza.
O homem não
se limita a ser e esse é o problema: o homem não é.
A natureza que produz o homem
não tem que, nem precisa de, se queixar. O homem também não, a não ser de si
próprio, ou da sua natureza, mas isso é completamente estranho à natureza.
Ou
então temos mais do que uma natureza na natureza e há naturezas que são mais ou
menos naturezas do que outras.
A natureza, sem o homem, não tinha problema
nenhum para resolver e, com o homem, também não, a não ser a tal natureza do
homem que é "contra a natureza", ou que não aceita a natureza e que não
se limita a ser natural, sendo, além disso, moral, religioso, político, mais
caracterizado pelo "dever-ser", que o atormenta, do que pelo "ser",
que não atormenta nada nem ninguém.
A natureza não sabe, nem tem essa coisa do
"dever-ser".
O ateu e o naturalista também não deviam ter e deviam
estar perplexos com o mundo cada vez mais feito/desfeito de dever-ser. A
começar pelo ateu e pelo naturalista, que não se limitam a ser, mas têm um
discurso, ideias, conceitos, ideais, ideologias, "morais".
O porquê
dos naturalistas e dos ateus ainda é mais indecifrável, apesar de todo o
arsenal científico e técnico disponível, do que o já antiquíssimo porquê dos
que acreditam no sobrenatural.
E o para quê, o propósito, a finalidade da
natureza, até para eles é algo central e imprescindível. Não que eles
reconheçam ou apontem, ou acreditem, em alguma finalidade, porque não encontram
nenhuma relação causal, necessária, "construtiva", entre os primeiros
átomos e o homem. Para eles nada faz sentido, nada tem sentido, tudo é obra do
acaso.
E também aqui é a natureza a pensar e a dizer sobre si própria que não
sabe quem é e que todos os seus poderes lhe vêm como se fosse do nada, que também
não sabe o que é e que talvez chame nada ao sobrenatural, às forças, aos
poderes, aos fenómenos que não existiam no princípio, no big-bang, e que
passaram a existir e que, também hoje, surgem, do nada, para se
"acrescentarem" a tudo o que existe.
Desde o primeiro minuto do
big-bang até à atualidade, tudo foi surgindo sem que existisse
antes...criando...as forças, os átomos...etc., etc....E tem de ser a natureza a
interrogar-se sobre si própria, através do homem, porque não sabe de si própria
e nunca agiu em sentido nenhum, com nenhuma finalidade, ou vontade e a própria
inteligência e consciência do homem é um puro acaso, nada mais, mas um acaso
que descobre que nada é por acaso e que a natureza não se explica a si própria,
nem enquanto natureza-homem investigando e refletindo...