"Ser feliz é uma actividade que requer toda uma vida e não pode existir em menos tempo" - Aristóteles, Ética a Nicómaco
sábado, 22 de abril de 2023
sábado, 8 de abril de 2023
Quantos gumes tem a faca
Desconhecia o poeta húngaro, Attila József, e este seu poema esplendoroso.
Quando nasci tinha uma faca na mão.
Dizem: é poesia.
Mas peguei na pena, melhor ainda que a faca.
Nasci para ser homem.
Dos que ficam na memória a rebobinar, a rebobinar. Saltou-me à ideia o estereótipo de Luís de Camões com a espada numa mão e a pena na outra. Uma faca de dois gumes. Mas quantos gumes pode ter uma faca? E muito mais. Humano, simplesmente humano, como a páscoa.
domingo, 26 de março de 2023
É preciso dizer
O dia sem manhã
mas com versos
a abrir caminho
a felicidade pode chegar
através das palavras
muitas vezes
só as palavras têm poder
para tranquilizar
ou demover
é preciso dizer
certas palavras que têm o efeito
de serem as palavras certas
por parecerem certas
ainda que não façam crer
que aquilo que é preciso
que seja
é
ou será.
quinta-feira, 9 de março de 2023
Não alimento mitos
Não te encontro defeitos
amor
mas a vida é imperfeita
por vezes bela
atordoa
estonteia
a aconchegar dois animais
que não cabem dentro de nós
que farejam tudo
e a miragem
na sua humanidade.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2023
As casas
Havia uma casa no nascente
donde esvoaçavam pássaros
aos raios de sol
pelas manhãs
à passagem da padeira
com sua voz de manteiga
enevoada
a atravessar o rio
num ligeiro batel
e isso era apenas uma parte
da vida nesse lado verde do mundo
dos incansáveis
também havia uma casa no poente
onde se recolhiam as sombras
das tardes
as fadigas desajeitadas
quando a última locomotiva
vinda de muito longe
entrava a roncar
no escuro
com um farol baço de mineiro
e fazia estremecer o cemitério
sem acordar as flores
em sono profundo
junto à linha.
sábado, 11 de fevereiro de 2023
Caminhar sem ver para onde
Na hora de dormir
olhei para as estrelas
e suspirei de preocupação
tinha a vaga ideia
de aquele lugar escuro
ser numa serra
afastada do mar
mas ouvia rebentações de ondas
e rajadas de vento uivante
nas árvores que vergavam
e pensei nas histórias
que ouvi na noite anterior
na taberna
junto às ruínas da ponte
acerca de pessoas desaparecidas
no desfiladeiro dos lobos
onde não há sinais de abrigo
nem trilhos visíveis
fiz de conta
fingindo de monstro
para assustar feras noturnas
e parei com muito cuidado
para não por os pés em falso
era muito arriscado
caminhar sem ver para onde.
domingo, 29 de janeiro de 2023
Paraísos terrestres
Paraísos terrestres
Querer elevar o corpo
Como se tivesse uma alma
Que lhe desse asas
Que o ajudasse a suportar
O peso
Que um pássaro tem
Para descer à terra
E sentir o chão debaixo dos pés
Não ser levado pelas nuvens
Não ser arrastado pelas correntes
E pousar
Oh como é bom pousar
Nos paraísos perdidos.
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