"Ser feliz é uma actividade que requer toda uma vida e não pode existir em menos tempo" - Aristóteles, Ética a Nicómaco
terça-feira, 25 de outubro de 2016
O conceito de conhecimento poderoso
Quantos de nós começamos por aprender sem buscar nada? E acabamos a buscar conhecer sem ser por nada? Embora, desde cedo, nos tenhamos apercebido, de que tantos outros buscavam e buscam sistematicamente o conhecimento poderoso? De preferência tudo aquilo que não se ensina nas escolas, porque "o segredo é a alma do negócio"?.
De qualquer modo, o conhecimento poderoso não seduz e não interessa a todos. Pode até ser uma boa estratégia, na perspetiva das políticas educativas, mas aí o que está em causa é o interesse coletivo e não o interesse individual.
Para instrumentalizar o conhecimento também é preciso conhecimento sobre instrumentalizar, sobre custos e sobre as finalidades. Isso do conhecimento poderoso, até pode ser fácil de perceber o que é, mas porquê e para quê e à custa de quê, pode não ser tão simples.
Sem considerar outro lado da questão: basta querer para acontecer conhecimento poderoso?
O próprio conceito de conhecimento poderoso é muito vago e relativo, porque o que é poderoso, rapidamente, deixa de o ser, basta generalizar-se...
quinta-feira, 4 de agosto de 2016
Para que serve o humanismo?
Não
deixo de pensar, dramaticamente, que as ideologias têm uma função determinante
na organização social e económico-política.
E que, sem esta organização, o mundo colapsaria (?)
rapidamente (?), tal é o “peso” do fator humanidade na equação.
Não podemos isolar o humanismo personalista das
restantes realizações humanas que têm contribuído para resolver problemas do
homem.
Mas, aparentemente, nem todos trabalham para resolver
problemas do homem.
Incrivelmente, muitas pessoas, mesmo nos sistemas
civilizacionais que, assumidamente, se baseiam na pessoa, são tratadas, afinal,
como sendo o problema, não um problema de ordem teórica, mas de ordem prática,
do tipo “excrescência”… E há quem tenha pesadelos com "máquinas
trituradoras".
Só por si, de nada nos valeriam todas as ciências e
tecnologias se o mundo colapsasse.
No fim, só o humanismo poderia socorrer-nos: a solidariedade (é
coisa e de pobres e desgraçados, os ricos não precisam disso até serem pobres), amor
(é coisa misteriosa que o dinheiro não compra), música (é
coisa de alienados dançantes), religião (é coisa de
analfabetos que só têm defeitos), filosofia (amor pela
sabedoria), história (é coisa que não serve para construir
nada, até ao momento em que é preciso perceber por que é que tudo foi
destruído), memória (quem a não tem não tem nada, não faz
nada, mas não deixa de ser pessoa…)...
E, ainda mais importante, pessoas.
E pessoas com ciência, obviamente.
Sem pessoas, não há problema nenhum para resolver.
Acabem com as pessoas e acabam-se os problemas
todos.
Acabem com o humanismo, promovam a máquina, o robot,
levem-nos ao mercado e deixem de produzir pessoas e verão todos os problemas
resolvidos, de termodinâmica, de física de partículas, de matemática, de
genética, de evolução, de filosofia, de ciência, de artes. Maravilhoso mercado
(químicos, farmacêuticos, traficantes, físicos, mecânicos, banqueiros,
traficantes, militares, terroristas, informáticos…) que trabalha a pensar no
homem e no bem do homem, à escala global, ecológica, inteligente.
Mas faltaria o maravilhoso humano, a indispensável
ideologia, sistema de crenças, sobre o Homem como o valor que deve restar mesmo
que todos os outros fracassem.
Historicamente, por ex. Esparta e Atenas, URSS e
Capitalismo, são exemplos de sistemas ideológicos que apostaram mais ou menos
na pessoa humana como “produto” ou “mercadoria”, meio ou fim da atividade
económico-política e social. É ostensivo, nos tempos de hoje, a redução da
pessoa a valor económico. Tudo se rege cada vez mais pelo critério da economia.
A racionalidade parece exigir que assim seja. Valor, nos tempos atuais, está
praticamente reduzido a valor pecuniário, mais do que a valor económico, ou seja,
o que não tiver valor pecuniário, mesmo que tenha valor económico, que requer
reconhecimento e tutela, não passa de uma idiotice, não serve para quem só vê
mercadoria (como aquele que na floresta só vê lenha).
Atenas derrotada pelas armas veio a ser vencedora pela
memória. A URSS derrotada pelas próprias contradições dos DÍNAMOS e
pelos inimigos “humanistas”, parece estar, fatalmente, a sobreviver através da
MÁQUINA GLOBAL a que todos os humanismos se curvam.
Vai ser preciso organizar um sistema de democracia
global, em que o primado do poder não sejam as MÁQUINAS do dinheiro, nem já a
lei, mas a pessoa humana…Se houver pessoas que acreditem nisto.
terça-feira, 12 de julho de 2016
Tudo tem a ver com tudo
Tudo tem a ver com tudo: ciência com poesia,
cultura com ciência, artes com desportos, ciência com artes, tecnologias com
humanidades, matemática com música, estrelas com lágrimas, saudade com
diamantes, etc...
O problema das relações entre ciência e cultura, todavia, parece-me não ser um
problema de concorrência e de rivalidade, (na competição pela valia e domínio,
mais do que pela verdade), como o não são as relações entre as diversas artes e
desportos.
Incrivelmente, dado o estatuto da ciência, alguns profissionais de ciência,
tal como alguns profissionais de santidade, e de fantasias, mais do que verem
rivalidade (ou perigo) entre o que seja manifestação cultural e ciência, de
preferência matemática, física ou química, laboram numa espécie de menosprezo
recíproco.
Em meu entender, o problema não é das ciências, nem das artes, nem dos desportos, nem das humanidades. O problema é querer vê-lo onde não existe.
Em meu entender, o problema não é das ciências, nem das artes, nem dos desportos, nem das humanidades. O problema é querer vê-lo onde não existe.
As perspetivas sobre a realidade (e que realidade?) não são o problema, nem
o objeto de análise/síntese (e que tipo de análise/síntese?) nem os objetivos,
interesses, etc.. E, por exemplo, no que respeita às artes e às práticas
desportivas, as perspetivas podem não fazer parte.
A minha música e o meu futebol vão lindamente com a minha sardinha assada e
o meu telemóvel e o Álvaro de Campos e a minha matemática e a minha farmácia e
a missa do sétimo dia.
A minha poesia nunca vai interferir, ainda que eu o quisesse, com o teorema de Pitágoras ou a Segunda Lei da Termodinâmica.
A minha poesia nunca vai interferir, ainda que eu o quisesse, com o teorema de Pitágoras ou a Segunda Lei da Termodinâmica.
O problema surge quando, por exemplo, um matemático me diz que tudo é
matemática e que eu, sendo matemática não posso ser, por exemplo, pessoa.
Ou, quando dedico a minha vida à música, vem um químico dizer que a música
não existe ou um físico dizer que a música nada mais é do que acústica (de novo
Pitágoras), ou um juiz do tribunal declarar que é ruído.
Ou, tendo um diamante, para mim precioso, a coisa mais bela e significativa, que não troco por nada deste mundo, vem um químico e diz que o diamante é uma das formas alotrópicas do elemento químico carbono, que pode ser encontrado na Natureza em três diferentes formas simples: amorfo, grafite e diamante, ou um comerciante vem dizer que não vale mais do que dez milhões de u.m..
Ou, sendo especialista em nanotecnologias, vêm dizer que não sei nada sobre o amor, nem Deus e, dada a minha inabilidade para esse grande edifício da cultura humana que é o futebol, é como se não soubesse ler.
O problema é, em grande parte, de valoração, muito mais do que de
utilidade. Noutra parte é um problema de querer comparar aquilo que é diferente
como se fossem a mesma coisa.Ou, tendo um diamante, para mim precioso, a coisa mais bela e significativa, que não troco por nada deste mundo, vem um químico e diz que o diamante é uma das formas alotrópicas do elemento químico carbono, que pode ser encontrado na Natureza em três diferentes formas simples: amorfo, grafite e diamante, ou um comerciante vem dizer que não vale mais do que dez milhões de u.m..
Ou, sendo especialista em nanotecnologias, vêm dizer que não sei nada sobre o amor, nem Deus e, dada a minha inabilidade para esse grande edifício da cultura humana que é o futebol, é como se não soubesse ler.
Não nego a matemática da música, nem a química do diamante, mas para mim a música não é interessante por poder ser traduzida matematicamente, nem o diamante é precioso por ser carbono…
sábado, 25 de junho de 2016
Jogo da vida (valores e virtudes)
Há que
trabalhar para resgatar o homem e a humanidade da situação humilhante em que hoje, talvez mais do que nunca, nos encontramos.
Conduzir a humanidade é uma expressão com sentido, mas não passa disso. A
humanidade não se conduz, porque não é condutível e porque não há quem fosse
capaz de o fazer. Se alguém tentou fazê-lo, o mais que fez foi agregar um grupo
em torno de um objetivo concreto e mais ou menos definido, no tempo e no
espaço.
Os poderes, as instituições, as religiões, as culturas...e o estilo de
vida, com seus hábitos de consumo e suas expectativas, as promessas
propagandísticas, os aliciamentos, acenos publicitários e modelos de sucesso
socioprofissional, ditam grande parte do que devemos pensar e do que devemos
viver e, até, do que devemos sentir. A subjugação é de tal ordem que, ela
própria, nos é apresentada como o jogo da vida, o único jogo que vale a pena.
Recursos, matéria-prima, otimização, mais-valia, competitividade, empreendedorismo,
lucro, são as virtudes deste tempo apressado, que vieram substituir (e matar)
as virtudes de outros tempos com mais tempo.
Quem for capaz, ou tiver a oportunidade de trocar tempo por dinheiro, ou
dinheiro por tempo, se optar por ter mais tempo para pensar, pode refletir não
só sobre o que devemos pensar, mas também sobre como devemos pensar; não só
sobre o que devemos viver, mas também sobre como devemos viver; não só sobre o
que devemos sentir, mas também sobre como exprimir o que sentimos.
Temos de conseguir pôr fim à balbúrdia e ao estapafúrdio dos pifos
mirabolantes que logram fazer girar tudo na roleta do dinheiro que eles
dominam.
Os valores de troca são algo de abstrato e complexo que depende de fatores
especulativos, que têm vindo a transformar-se no jogo da vida.
Espero que os valores de uso (e não os valores de troca) tenham a palavra
mais importante a dizer sobre a condução da humanidade.sábado, 11 de junho de 2016
Faz-te bravo
É importante saber o que faz um empreendedor e se é possível "fazer" um empreendedor. Dizer, por exemplo, como já ouvi em jornadas de empreendedorismo, que o empreendedor não se faz, nasce, é dizer às pessoas que não estão ali a fazer nada.
Quando olhamos para exemplos de empreendedores, ou que são convidados e apresentados como tal que, pouco depois, foram à falência, seria muito positivo para a causa do empreendedorismo convidá-los e apresentá-los novamente, nas jornadas do empreendedorismo.
Por outro lado, o próprio conceito de empreendedor, nunca ou raramente é abordado, tendendo a ser confundido, simplesmente, com alguém que se tornou "empresário de sucesso", baseados numa imagem que se tem e não, propriamente, em auditorias contabilísticas e avaliações sociais.
O empreendedor, para o dito empreendedorismo, é um estereótipo sui generis que, de alguma forma "pedagógica", pretende legitimar e sobrevalorizar o mundo empresarial.
Aliás, o empreendedorismo é mais uma iniciativa de caráter empresarial. Quanto aos ingredientes ideológicos, o empreendedorismo só é viável em ambientes favoráveis, como tudo na vida.
Não obstante, se pudermos ver no empreendedorismo uma cultura de formação e de informação e de concorrência de esforços e de meios para "promover a facilidade" a quem quer abrir negócios ou concretizar uma ideia empresarial, isso parece-me ótimo.
Quando olhamos para exemplos de empreendedores, ou que são convidados e apresentados como tal que, pouco depois, foram à falência, seria muito positivo para a causa do empreendedorismo convidá-los e apresentá-los novamente, nas jornadas do empreendedorismo.
Por outro lado, o próprio conceito de empreendedor, nunca ou raramente é abordado, tendendo a ser confundido, simplesmente, com alguém que se tornou "empresário de sucesso", baseados numa imagem que se tem e não, propriamente, em auditorias contabilísticas e avaliações sociais.
O empreendedor, para o dito empreendedorismo, é um estereótipo sui generis que, de alguma forma "pedagógica", pretende legitimar e sobrevalorizar o mundo empresarial.
Aliás, o empreendedorismo é mais uma iniciativa de caráter empresarial. Quanto aos ingredientes ideológicos, o empreendedorismo só é viável em ambientes favoráveis, como tudo na vida.
Não obstante, se pudermos ver no empreendedorismo uma cultura de formação e de informação e de concorrência de esforços e de meios para "promover a facilidade" a quem quer abrir negócios ou concretizar uma ideia empresarial, isso parece-me ótimo.
quinta-feira, 7 de abril de 2016
Rei Midas
Quanto mais observo o que tem acontecido
desde a 1ª revolução industrial, mais me parecem ridículos e levianos os que se
vangloriavam do "progresso".
Em pouco mais de 2 séculos, aí temos o
resultado, já não falando do que aconteceu durante esse período, de exploração
humana, guerras e de destruição de recursos naturais. Esta curta era da
história não tem paralelo, como galeria de horrores.
Há sempre os que preferem ver
o lado bom das coisas, e esquecer ou ignorar tristezas mas, neste caso, o
balanço negativo é esmagador. Quando se olha ao espelho, o Homem não tem motivos
para sorrir.
A voragem dos humanos é algo de louco e assustador. As nossas
sociedades têm de estar constantemente a destruir para produzir e construir o
que, pouco depois, destroem de novo, não com o objetivo de satisfazer
necessidades essenciais, mas encandeados pelo brilho do lucro. A humanidade
transformou-se numa máquina monstruosa e imparável que engole o planeta e o
defeca sobre si própria, sob a forma de lixo, tóxicos, dinheiro ou ouro.
Nunca
como hoje o mito de Midas teve tanto significado, mas, enquanto Midas pôde
voltar aos campos, o Homem talvez não tenha essa possibilidade.
quinta-feira, 31 de março de 2016
A ciência das escolhas
A ciência, enquanto tal, enquanto
conhecimento, arriscaria dizer que é boa. A ignorância, arriscaria dizer que
não é boa.
Mas toda a decisão, ou ação/omissão, ainda
que baseada na ciência, nos coloca perante um problema de bem ou mal, bom ou
mau, ou nem uma coisa nem outra.
As consequências, ou efeitos, da ação/omissão
são um problema não menos importante ou crucial do que os problemas da ciência
enquanto conhecimento das coisas.
Não é racional, nem é bom que se deixe o
poder de decisão sobre o uso do conhecimento àqueles que detêm esse poder
porque lá chegaram por qualquer via, autocrática, democrática, plutocrática...
Mas também, não é pelo facto de os cientistas
o serem nas suas áreas específicas, que o sejam na "ciência das
escolhas", no momento de escolher a melhor opção possível.
A ciência das escolhas é uma coisa
"tramada", porque, modo geral, quando se trata de agir, por exemplo, conquistar um país, dominar uma região, toda a ciência se presta a qualquer
escolha, exceto a ciência das escolhas.
Não é apenas um problema de ética. É
sobretudo um problema económico (de sobrevivência da humanidade e bio-ambiental), que
ultrapassa o "logos" da ética e adquire contornos da ordem do
transcendente.
Não parece que possamos prescindir do
contributo e da intervenção crítica muito atenta da ciência das escolhas sempre
que se trate de saber o que é melhor, do leque das ações/omissões disponíveis.
E muito menos prescindir de mecanismos
políticos que garantam a melhor decisão (que não poderá ser meramente política mas, tanto quanto possível, científica). E aqui já deparamos com uma imensa dificuldade.
A história é a demonstração, até à exaustão,
de que o poder, nas mãos dos loucos, transforma o conhecimento num instrumento
de destruição e de domínio e de que o poder, de uma ou outra forma, acaba sempre em
violência mais ou menos camuflada sobre as pessoas e o ambiente e as coisas em geral.
Há que respeitar a vontade das pessoas
adultas sempre que essa vontade não colida com interesses de terceiros e, se
tiver que lhes ser imposta alguma restrição por razões de interesse público,
que seja dada garantia de que o risco é assumido pelo Estado, que responderá
por danos.
Neste aspeto, sempre salvaguardados os princípios da responsabilidade civil e os limites criminais, que têm a ver com publicidade enganosa, burla, etc...., a questão das vacinas não
parece diferente de outras situações em que há intervenções na saúde.
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