Correndo o risco de cair em contradições e de incorrer em dislates, aproveito para fazer um pequeno exercício verbal atinente ao problema académico
das contradições, dos paradoxos e da lógica.
Ser e não ser, ser A e não ser A, ser A e não ser B, C, D...
Ser ou não ser, ser A, ou não ser A, ou não
ser B, C, D...
Ser e poder ser, ser A e poder ser B, C, D...
Ser e não poder ser, ser A e não poder ser B, C, D...
Ser e dever-ser, ser A e dever ser B, C, D...
Ser e não dever-ser,
ser A e não dever ser B, C, D...
Importa pensar que a palavra “ser” é um verbo, mas também é um substantivo, ou um adjetivo. E levanta um problema muito particular e curioso,
em termos de racionalidade científica, não metafísica: o ser é o que é. Esta constatação da realidade impede-nos de considerações sobre o que foi e sobre o que
será, porque estas remetem para o que não é, para o não existente.
Mas, sendo assim, não há nada que possamos dizer sobre o que quer que seja, porque tudo o que dizemos é
em diferido, quer dizer, é sobre algo que já não é.
As questões de lógica são manifestações de racionalidade através de uma linguagem, através
de uma codificação significante.
Penso que são fundamentalmente questões verbais, ser, não ser, poder ser, dever-ser, por exemplo, no que respeita a coisas (tenho na mão um objeto
que designo de livro, mas é um copo. É falso o que digo, mas não é falso o objeto. Há aqui, nestas frases, um conjunto subentendido de operações racionais que poderíamos
analisar e explicitar ainda mais em raciocínios lógicos, inclusivamente, para justificar o que digo).
Penso que a lógica é um processo de linguagem, seja verbal, seja numérica, ou outra,
e tem a ver com a racionalidade, ou melhor, no caso dos humanos, a racionalidade é um processo consciente, embora seja automatizado em grande parte das operações de tipo mais abstrato.
Penso que,
sem linguagem, embora exista racionalidade, não há lógica.
Ou seja, os processos racionais tornam-se lógicos, ou problemas de lógica, através da linguagem.
Carlos Ricardo Soares
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