segunda-feira, 13 de junho de 2022

Máquinas pensantes que sentem

Se em qualquer situação, seja de bem estar, de violência, de maus tratos, de ambientes e de interações inteligentes, de paz ou de guerra, de contemplação ou ascetismo, de sonho ou de paixão, o ser humano, como máquina pensante que é, como máquina que discorre e analisa e conclui sobre o que sente e, metodologicamente ou não, reverte o que pensa para a mesa da experiência, numa interação, ou controlo dos sentidos pela razão e da razão pelos sentidos, o problema da educação tem a ver sobretudo com os limites que são impostos pelo respeito devido ao educando, muito mais do que os que são devidos pelo educando ao educador. 
A responsabilidade do educador precede, em toda a linha, a do educando. 
Num primeiro momento, em que este nem sequer tem habilidades e capacidades de entendimento e de vontade e de liberdade, porque a máquina pensante humana é uma máquina biológica melindrosa e delicada, além de ser muito sensível (quanto à inteligência deixo o assunto para especialistas) está na roda viva de uma realidade que o antecede e o condiciona imenso. 
A evolução dessa máquina viva é ditada e determinada, em grande parte, por aqueles que a rodeiam e por aquilo que acontece. 
Gostar ou não das “propostas”, do “menu”, do “cardápio” de credos, disciplinas (o termo disciplina é muito interessante para estas minhas considerações gratuitas), possibilidades, expectativas, é fundamental, mas o que é decisivo é a oportunidade e a capacidade para alcançar o que, nesse horizonte de possibilidades, mais ou menos ilusórias, mais ou menos enganadoras, se deseja alcançar, sem detrimento dos motivos e das razões pelos quais se deseja.
A máquina pensante assemelha-se em tudo a um estômago triturador, cujos refluxos não dependem da vontade, por mais incómodos e indesejáveis que sejam. Mas, com ou sem refluxos, a máquina aprende sempre e aprende com tudo. 
Com ou sem educação, aprende. 
O problema está em saber o que deve aprender (se é que deve), na perspetiva da máquina, que merece todo o respeito, ainda que seja diferente de todas as outras, e na perspectiva das outras máquinas, que sabem o que lhe ensinar (se ela quiser e puder aprender, sem prejuízo daquilo que for seu desejo e sua vontade). 
Não basta ter uma mesa repleta de iguarias, é necessário apetite, vontade de comer, acto de comer e, a parte também complexa, sujeita a muitos percalços, de fazer a digestão, usar a energia e defecar.

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