segunda-feira, 11 de outubro de 2021

A toque de caixa

Ao toque de tambores e de clarim. Muitas batalhas foram perdidas porque o fragor dos ferros e dos gritos não permitiram que os combatentes ouvissem os toques da ordem. Ficavam assim à mercê do inimigo, desorientados, em vez de fugirem, resistiam, mas sem rectaguarda, ou fugiam desordenadamente na direcção errada. A comunicação, nas batalhas, sempre foi um dos pontos chave e mais difíceis de conseguir e de coordenar, sobretudo antigamente, em que os sinais sonoros para chegarem às tropas, não deviam confundir-se com os sinais do inimigo, perderem-se no espaço ou serem distorcidos pelo ruído produzido durante a batalha. A comunicação é, se prestarmos alguma atenção ao problema, o calcanhar de Aquiles, da  guerra como da paz.

A guerra é para especialistas, como a ciência é para especialistas, mas as técnicas e os combates são para todos. À ciência não pode ser imputada nenhuma responsabilidade. A pólvora não tem culpa de ser explosiva, nem as máquinas têm culpa de demolir, nem o fogo tem culpa de devorar e liquefazer tudo, até um certo ponto. Nenhuma droga, ou aeronave, podem ser responsabilizadas dos danos que causam. Assim como um cão ou um vulcão. Mas podemos sempre tentar metê-los a todos numa prisão. Só que, enquanto o homem continuar a existir, à solta, ou não, vai ser obrigado a lutar pela sobrevivência e isso tem de ser colectivo. Infelizmente, a humanidade não tem sido muito bem-sucedida na tentativa de fazer o melhor. A natureza, incluindo a humana, é indócil e rebelde, para não dizer inábil, relativamente a uma bondade objectiva dos nossos actos construtivos, tantas vezes com imenso trabalho e sacrifício. Afinal, temos andado a construir destruindo, ou a destruir construindo? Quanto das construções são destruições irreversíveis? E como remediar e evitar continuar?

É preciso trabalhar arduamente para que tudo continue na mesma, e não se consegue. Mas para que as coisas mudem, basta não fazer nada.

A ciência não tem defeitos morais, é como a sabedoria, e como Deus. São bons por definição e não são virtuosos, em sentido moral, porque virtuoso é atributo moral de acto humano. Não fazem e nunca fizeram mal a ninguém. São edifícios ideais, abstractos,

Já a guerra tem de ser vista de outro modo e noutra perspectiva. A guerra é actividade humana, conjugada para infligir mal. Se porventura alguém faz ciência para infligir mal, não é o acto de fazer ciência que faz mal, mas o acto de guerra, em intenção ou execução consequente.

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