"Ser feliz é uma actividade que requer toda uma vida e não pode existir em menos tempo" - Aristóteles, Ética a Nicómaco
segunda-feira, 11 de outubro de 2021
A toque de caixa
Ao toque de tambores e de clarim. Muitas batalhas foram perdidas
porque o fragor dos ferros e dos gritos não permitiram que os combatentes
ouvissem os toques da ordem. Ficavam assim à mercê do inimigo, desorientados,
em vez de fugirem, resistiam, mas sem rectaguarda, ou fugiam desordenadamente
na direcção errada. A comunicação, nas batalhas, sempre foi um dos pontos chave
e mais difíceis de conseguir e de coordenar, sobretudo antigamente, em que os
sinais sonoros para chegarem às tropas, não deviam confundir-se com os sinais
do inimigo, perderem-se no espaço ou serem distorcidos pelo ruído produzido
durante a batalha. A comunicação é, se prestarmos alguma atenção ao problema, o
calcanhar de Aquiles, da guerra como da
paz.
A guerra é para
especialistas, como a ciência é para especialistas, mas as técnicas e os
combates são para todos. À ciência não pode ser imputada nenhuma
responsabilidade. A pólvora não tem culpa de ser explosiva, nem as máquinas têm
culpa de demolir, nem o fogo tem culpa de devorar e liquefazer tudo, até um
certo ponto. Nenhuma droga, ou aeronave, podem ser responsabilizadas dos danos
que causam. Assim como um cão ou um vulcão. Mas podemos sempre tentar metê-los
a todos numa prisão. Só que, enquanto o homem continuar a existir, à solta, ou
não, vai ser obrigado a lutar pela sobrevivência e isso tem de ser colectivo. Infelizmente,
a humanidade não tem sido muito bem-sucedida na tentativa de fazer o melhor. A
natureza, incluindo a humana, é indócil e rebelde, para não dizer inábil, relativamente
a uma bondade objectiva dos nossos actos construtivos, tantas vezes com imenso
trabalho e sacrifício. Afinal, temos andado a construir destruindo, ou a
destruir construindo? Quanto das construções são destruições irreversíveis? E
como remediar e evitar continuar?
É preciso
trabalhar arduamente para que tudo continue na mesma, e não se consegue. Mas
para que as coisas mudem, basta não fazer nada.
A ciência não
tem defeitos morais, é como a sabedoria, e como Deus. São bons por definição e
não são virtuosos, em sentido moral, porque virtuoso é atributo moral de acto
humano. Não fazem e nunca fizeram mal a ninguém. São edifícios ideais,
abstractos,
Já a guerra tem
de ser vista de outro modo e noutra perspectiva. A guerra é actividade humana,
conjugada para infligir mal. Se porventura alguém faz ciência para infligir mal,
não é o acto de fazer ciência que faz mal, mas o acto de guerra, em intenção ou
execução consequente.
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