Não nos basta
bater com a cabeça na parede para podermos responder às questões do que é a
realidade, se a parede é real, se o que pensamos é real e se essa realidade é
como é, se tem de ser como é, se sempre foi o que é e se alguém sabe se será e
o que será, etc..
O título do
livro, o mundo como ele é, do físico sueco Ulf Danielsson, independentemente daquilo que o autor defenda, é
sintomático de que estamos perante um problema de magnitude filosófica e
científica, mas não nos permite esperar que o mundo seja “como ele é”, a não
ser no sentido em que “o ser” do mundo é “não ser como é”. E não apenas num
plano estrito de processo ou de possibilidade de provar o que se diz, o que
reduziria o problema a uma limitação teórico-científica. O ser do mundo é não
ser como é, essa é a sua realidade. Nenhum fenómeno se repete. Nada ocorre duas
vezes. Neste ponto, mesmo as experiências e verificações científicas reconhecem
uma dificuldade.
A necessidade de
explicar como é que o mundo é não parece ter tanto a ver com as aparências de
ser (que são) mas sobretudo com o que parece mas não é (parece mais uma contradição).
Os filósofos
sabem-no desde que reflectiram sobre a natureza, pelo menos desde os jónicos e
os cientistas, nomeadamente os físicos, parece saberem-no melhor do que ninguém,
não apenas ao tentarem saber como as coisas (realidade) funcionam, mas também
ao tentarem explicar porque é que funcionam assim, se sempre funcionaram e se
funcionarão.
Há pelo menos
duas questões que podemos colocar para experimentar as dificuldades com que
deparamos no tocante à realidade: saber/dizer/declarar o que é “isto” e
provar/demonstrar o que se declara. À dificuldade de responder à questão, concreta,
por exemplo, “isto é uma pedra?”, acresce a dificuldade de provar e demonstrar.
Normalmente, as pessoas não questionam, nem discutem se a parede existe ou não,
se é real ou não. O que tem suscitado discussão é “o que é a parede?” e a prova
e demonstração do que se diz. Não é se a parede está lá. Os físicos também não
discutem se existe o sol e a terra. Mas a questão não me parece disparatada.
Voltando à
questão de saber “o que é isto?”, os cientistas têm dado um imenso contributo,
é certo, mas ainda não chega, como se pode ver do facto de a física manter em
aberto questões fundamentais sobre a realidade física. Mas também temos de
considerar a existência de realidades que os físicos não estudam, como os
pensamentos e os sentimentos e a biologia que, ao que parece, não deixam de ser
realidades físicas, ainda que mais efémeras umas do que outras.
Não obstante, e
isto toca com o problema de o mundo “ser como é”, se fossemos capazes de
responder à questão “o que é isto?” e de o provar, essa resposta,
provavelmente, teria de responder às outras questões “o que isto foi?”, “o que
isto será?”, sabendo nós, por experiência, que, na realidade, mesmo para os
físicos, se há um modo de ser das coisas esse modo de ser é que elas (mesmo se sabemos
como foram), não são como são, nem sabemos como serão.
Haverá forma de
saber se este problema se resolveria se um poder para isso suspendesse o
movimento dos corpos (e das partículas, ou cordas, ou outra coisa desconhecida,
cancelando a gravidade, a força electromagnética e as forças nucleares)? Os
cérebros não seriam suspensos também?
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