segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Sem conhecimento não há nada

Um dos fascínios do conhecimento é que, sem conhecimento, não há nada. 
Diria até que, sem linguagem, não há conhecimento.
Toda e qualquer linguagem exprime e comunica alguma forma de representação da realidade e esta é uma elaboração, um processamento, uma resposta a um estímulo captado pelos sentidos.
Por ex., os poetas fornecem-nos, muitas vezes, as palavras necessárias, as metáforas, o discurso, sem os quais muitas coisas ficariam por dizer, como se não existissem, ou não tivessem acontecido.
 
B. Russel, ao telefone, diria, parece que estou a ouvi-lo, "isso é uma estupidez, esta mesa existe mesmo que não saibas da sua existência". 
Eu respondo-lhe, existe para si, mas para mim não. 
Agora, que me disse que existe aí uma mesa, ainda que não esteja a vê-la e não faça nenhuma ideia de que mesa é, nem tenha qualquer prova de que exista, posso acreditar que existe e estou a acreditar em algo que não sei o que é, nem sei se existe.
B. Russel, tem a sua realidade e eu tenho a minha, não tenho a sua. Relativamente à mesa, até que uma investigação científica mo demonstre, não passa de algo imaginário e hipotético. 
Mas antes de B. Russel me ter dito que havia, ali, uma mesa, onde ele se encontrava, mas eu não, essa realidade (se existe, e vou supor que sim) não existia para mim, nem como mera fantasia.

A medida do meu conhecimento é a medida da realidade e não o inverso.
Se eu não tivesse conhecimento, não tinha realidade. Mas também não podia dizer que nada existia, porque não tinha conhecimento disso.

Isto não quer dizer que a pessoa que estivesse ao meu lado não tivesse conhecimento vasto sobre imensas matérias (aqui matéria é no sentido amplo de objecto de conhecimento) e que, portanto, a realidade existia independentemente de mim, só que, para mim, não.

Também é muito curioso e interessante constatar que o problema do conhecimento da realidade é sempre um problema do conhecimento da realidade como ela é. E todo o conhecimento, não só é uma redução da realidade à ideia, ao conceito, à imagem, à fórmula, ao enunciado, mas também um "congelamento", em slides ou formas, descontínuas, que nos não permitem, por exemplo, reproduzir os fenómenos da realidade, mas apenas representá-los, fixá-los em formas de linguagem e, quando muito, no método experimental, replicar ou simular algo muito semelhante.  

O que é evidente, assim que é descrito, ou simplesmente comunicado, deixa de o ser e passa a ser uma declaração sobre uma experiência pessoal. Seja a respeito de coisas, seja a respeito de palavras, de frases, de proposições, escritos ou falados, presenciais, ou à distância, síncronos ou assíncronos, ou mesmo de sons, ou movimentos, ou comportamentos. 

Neste caso, a realidade naturalmente vivida, e mesmo a realidade subjectivamente percepcionada, é uma realidade acontecida, passada, que não coincide, nem pela densidade, nem pela natureza, nem pelo momento e/ou o espaço, com a realidade de que o conhecimento possa dar notícia, exprimir ou comunicar.  

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