sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Do sentir ao pensar

O nosso corpo é maior, é mais, do que a nossa consciência. A realidade é incomensuravelmente maior, mais, do que o nosso conhecimento, do que o nosso saber, mesmo implícito.

A representação que fazemos da realidade é como um fogo de artifício da linguagem.

Do que não esquecemos, ficamos com o osso da memória, essa construção labiríntica de que a humanidade procura a chave, não uma chave, como se a realidade fosse a memória e o seu discurso e não também o corpo e a linguagem à revelia de qualquer consciência.

O corpo e a linguagem são a memória, ainda antes de sabermos que existem e de sabermos o que eles são, o mais complexo edifício que não obedeceu a um projecto, embora possamos tentar desenhá-lo, “a posteriori”, e licenciá-lo nalguma câmara de racionalidade.

A memória é viva o suficiente para acordar, ou adormecer, quando menos desejamos ou esperamos e é muito maior e mais do que a nossa consciência. Não sei se a memória é mais ou maior do que o corpo, mas é mais inteligente do que a consciência e do que a linguagem e o discurso.

Pode ser muito difícil de apagar, sem apagar o corpo e, ainda assim, pode sobreviver através de outros corpos. E pode ser ainda mais difícil de recuperar, o que é desesperante quando dela mais precisamos.

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