segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O ser das coisas, o dever-ser, o poder-ser e o querermos que sejam




Em matéria de política, ciência, moral, religião, filosofia, direito, os problemas são muitas vezes transversais e não ajuda nada a metodologia de os isolar por disciplina. 

Por exemplo, ainda a ciência está a braços com o problema da realidade natural e já não faltam cientistas interessados em dizer como as coisas devem ser, ou seja, ainda não resolveram o problema do ser e já pretendem ter resolvido o do dever-ser. Mas isto é compreensível. Toda a gente se acha autorizada a pronunciar-se sobre como as coisas devem ser, porque e enquanto não se sabe o que as coisas são. Por outro lado, o saber-se o que as coisas são e como são não resolve o problema de como devem ou deviam ser. O problema que apoquenta é sobretudo este e não aquele. A realidade, a maior parte da vezes, ou não nos agrada ou , simplesmente, não nos interessa. Se nos agradasse ou simplesmente nos conformássemos com a realidade, nada teríamos a opor, por exemplo, à doença e às nossas incapacidades. 
Nós queremos que as coisas não sejam, simplesmente, como são. Por exemplo, se pudéssemos decidir sobre o modo como o mundo e a vida funcionam, quantos de nós achariam bem o sofrimento, a doença, a morte?... E a ciência está implicada nesta dinâmica. É acção, instrumentalização, tanto ou mais, do que descrição ou investigação.  É manipulação e "aproveitamento". A ciência funciona com objetivos e finalidades que não são simplesmente de conhecimento. Há um domínio que se exerce crescentemente com a noção de que esse domínio é possível, de que é possível levar a água ao moinho. As coisas, afinal, até podem ser como nós queremos que sejam.

O dever ser da moral não coincide necessariamente e pode até conflituar com o dever ser da religião e do direito e da ciência. O dever-ser, em qualquer caso, depara-se com o querer-que-seja.


De qualquer modo, nenhuma ciência e nenhum dever ser impede que, por nossa vontade, capricho, veleidade, ignorância, maldade, ódio, etc., desejemos ou queiramos outra coisa.

E é sabido que há quem prefira o vício à virtude, a morte à vida, a mentira à verdade, a injustiça à justiça, a destruição à construção. 
Quanto a isto, a ciência não resolve nada, porque tanto serve uns como outros. Tanto serve os bons como os maus, os ditadores como os verdadeiros democratas, os torcionários sanguinários como os benfeitores humanitários...


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