sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Ter ou não ter razão


As ciências e o método científico têm sido extraordinários meios de resolução de problemas e de resposta a imensas questões. Mas as questões da importância, ou da relevância, ou da validade, ou da verdade, ou da razão, seja do que for, das ciências (da lógica, da ética, da matemática, jurídicas, políticas, físicas, etc...) são questões "viciadas" porque, em vez de autênticas questões, são uma espécie de postulados valorativos, se me exprimo bem. Ou seja, se me disserem que a física ou a química ou a lógica ou a ética são importantes, ou relevantes, isso é como dizerem que a astrologia e a religião e o futebol e a pirotecnia são importantes ou relevantes. A questão da validade, tão cara à lógica, pode ser uma completa inutilidade, uma sucessão de abstrações sem nenhuma relação com a realidade e que não acrescenta um chavo ao meu conhecimento dos astros. A questão da verdade, por sua vez, seja enquanto juízo, seja enquanto informação ou compreensão de fenómenos, também pode ser completamente inócua. Até podemos estar de posse da verdade, tê-la na ponta da língua e não sabermos ou não acreditarmos nela, ou isso de nada nos valer. O ter ou não ter razão também é indiferente numa perspetiva de questões não viciadas por valorações. No mesmo cemitério poder-se-iam encontrar lápides onde se inscrevesse, numa, «aqui jaz um homem cansado de ter razão» noutra, «aqui jaz um homem cansado de ter tudo» ou, «aqui jaz um homem cansado de nada ter».

Num plano prático, de utilidade, instrumental, de engenharias e de técnicas de resolução de problemas, tudo tem o seu valor e a sua importância relativa, de mercado, de regulação social, etc..
Num plano, digamos metafísico, religioso, moral, das fundamentações últimas, tudo muda de figura.
Por outro lado, as ciências, insubstituíveis e poderosas na resolução de problemas, como por exemplo, construir ou destruir pontes, não nos fornecem critérios, nem nos esclarecem sobre o bem e o mal, o justo e o injusto... 
Ser contra a ditadura das ciências é uma falsa questão, porque não há nenhuma ditadura científica. São realidades diferentes. A ditadura é da ordem da vontade e da organização político-social e militar. A ciência é da ordem do conhecimento. 
E não há consenso sobre o que "deve ser" considerado conhecimento. É sabido que um homem "não se mede pelos seus conhecimentos". As pessoas humanas não o são mais ou menos, nem têm mais ou menos mérito ou valor moral, por terem mais ou menos conhecimentos. E não há conhecimentos que o sejam mais ou melhores do que outros. Pela lógica, não haveria conhecimentos contrários entre si. Na prática, a experiência diz-nos que sempre assim foi. Os conhecimentos dão poder e vantagem e há conhecimentos que conferem mais vantagens (de ordem económica e material e política) do que outros a quem os possui. No entanto, os indivíduos, os grupos, os próprios estados não se coibem de, muitas vezes, agirem contra a razão (qual?), contra a justiça (qual?), contra as pessoas, a humanidade, utilizando todos os conhecimentos e todos os saberes, desde a música, passando pela religião e as matemáticas... Disto nenhuma ciência ainda nos livrou.

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