Às vezes ainda me pergunto sobre o que me faz intervir com "likes" e comentários, seja em blogues, seja no "facebook". O aparecimento
da internet, quanto a isso, veio potenciar imenso o que, para mim, já era um modo de estar na vida.
Em vez de escrever num caderno aquilo que me ocorria, ou de publicar num jornal ou revista, passei a escrever
"online" e a experiência foi sendo estimulante e enriquecedora. Em alguns casos poderia ter sido mais interativa, mas depressa percebi que esse caminho não era o meu.
Os meus objetivos foram e continuam
a ser um desenvolvimento e um aprofundamento de questões, temas e problemas que me surpreendem quando menos espero, nos quais entrevejo uma perspetiva ou um ângulo promissor.
Não procuro a discussão,
nem o debate, nem ser assertivo, nem rebater e não me preocupo com proselitismos de nenhuma espécie. Se for para estar de acordo, se for para dizer amém, se for para parafrasear, não escrevo uma
palavra, porque o meu objetivo não é esse.
Divirto-me imenso a escrever e leio e releio o que escrevo, para tentar certificar-me de que não estou a chover no molhado.
Escrever absorve demasiadas
energias e demasiado tempo para que o faça só para não estar quieto e calado. É, no meu propósito, um investimento. Acredito nas vantagens de o fazer.
Com o passar dos anos e com o acumular
de textos sinto cada vez mais fecunda esta disciplina de organizar as ideias agarrando-as como peças de um puzzle, ou, preferencialmente, como peças de legos, que permitem fazer combinações sempre
novas.
Há situações em que os sábios se sentem incomodados se alguém ler o que escrevem e, mais ainda, fizerem algum comentário. Dão a entender que devemos deixá-los
a "falar" sozinhos. Mas não podem decidir também sobre o tipo de comentário que aceitam que se faça.
Não ligo a isso, não é assim que funciono e, assim que me
dispo do jargão, profissional e burocrático, escrevo como um compositor ou um maestro que tenta dirigir uma orquestra, de autores, para fazer um concerto que seja o menos aborrecido possível.
Por
prazer e divertimento, sem constrangimentos, exercendo ao máximo a liberdade de pensar, sem nenhum compromisso com ninguém, a assistir ao surgimento dos frutos que, investir no pensamento crítico, pode
dar.
"Ser feliz é uma actividade que requer toda uma vida e não pode existir em menos tempo" - Aristóteles, Ética a Nicómaco
sábado, 14 de janeiro de 2023
O prazer de escrever
segunda-feira, 9 de janeiro de 2023
O amor
O amor nunca é aos poucos
Nunca é pássaro antes de ser mar
Sol antes de ser delírio
Noite antes de se tornar
Canto do entardecer
Dos loucos
O amor
Nunca é aos poucos.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2023
Saciar a sede
E quando
Já longevos
Se abeirarem da fonte
Saciarão
Pela última vez
A sede imaginária.
quinta-feira, 29 de dezembro de 2022
Nada isenta de peso
Nada é isento de peso
Nem esta sensação de ser elevado
Pela música da claridade
Deste pensamento que não tenho
Neste estar com saudade
Por não levar nada
Nem deixar nada para trás
Nem a impressão desta palavra
Nem a paz
Nem o futuro
Nem o passado
Nada é isento de peso
Nem um olhar imaculado
Na ponta de um espinho indefeso.
terça-feira, 20 de dezembro de 2022
De cigarro na boca
Havia homens e mulheres procurando
Sombras atrás de uma cortina
Escutando música para preencher vazios
Das palavras da canção clássica
No momento de abraçar a imortalidade
Eram abraçados pela novidade
De estarem num cantinho escuro
Que os olhares não devassassem
Com um significado mesquinho
Que não via magia na dança impossível
Nessas devoções em templos improvisados
Invocando deuses e deusas do cabelo
E da roupa perdida
Com tanta humanidade na comoção
Como estavam implorando à solidão
Por felicidade que ninguém alcança
De cigarro na boca.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2022
Estrada
Encontrei uma estrada
Que estava perdida
Que ia de um lado para o outro
E não saía daí
E só então percebi
Por que estava abandonada
A razão de ninguém seguir aquela estrada
Era que ela não levava a nada
E eu quis que essa estrada fosse minha
Como já alguma vez pensei que era
Para um mundo que tivesse sido criado
Só para mim porque sim
E dado assim
Para que eu pudesse fantasiar
O porquê de ter sido abandonada
Antes de saber o que é ser abandonado
Um poema que fosse a resposta ao desejo
De encontrar o fim
Desse poema ainda inconsistente
Que é fundamental escrever
Que é urgente concluir
Mas como? Mas qual?
Se a estrada continua para o desconhecido
Se o poema não resolve a ânsia
E torna maior a dor
Da distância donde vim
Até ali
E não torna menor a dor
Dali
Para diante
Por nada e sem nada
Cada vez mais sem nada
Só
Porque encontrei
Uma estrada.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2022
Se ao menos
Se ao menos fosse cavaleiro pela neve
Sem saber a hora nem o dia
Se ao menos fosse o passo ou a neve
Que pensamento seguiria
Sabendo apenas que a beleza morde
Como um lobo salta para as gargantas?
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