sábado, 14 de janeiro de 2023

O prazer de escrever

Às vezes ainda me pergunto sobre o que me faz intervir com "likes" e comentários, seja em blogues, seja no "facebook". O aparecimento da internet, quanto a isso, veio potenciar imenso o que, para mim, já era um modo de estar na vida.
Em vez de escrever num caderno aquilo que me ocorria, ou de publicar num jornal ou revista, passei a escrever "online" e a experiência foi sendo estimulante e enriquecedora. Em alguns casos poderia ter sido mais interativa, mas depressa percebi que esse caminho não era o meu.
Os meus objetivos foram e continuam a ser um desenvolvimento e um aprofundamento de questões, temas e problemas que me surpreendem quando menos espero, nos quais entrevejo uma perspetiva ou um ângulo promissor.
Não procuro a discussão, nem o debate, nem ser assertivo, nem rebater e não me preocupo com proselitismos de nenhuma espécie. Se for para estar de acordo, se for para dizer amém, se for para parafrasear, não escrevo uma palavra, porque o meu objetivo não é esse.
Divirto-me imenso a escrever e leio e releio o que escrevo, para tentar certificar-me de que não estou a chover no molhado.
Escrever absorve demasiadas energias e demasiado tempo para que o faça só para não estar quieto e calado. É, no meu propósito, um investimento. Acredito nas vantagens de o fazer.
Com o passar dos anos e com o acumular de textos sinto cada vez mais fecunda esta disciplina de organizar as ideias agarrando-as como peças de um puzzle, ou, preferencialmente, como peças de legos, que permitem fazer combinações sempre novas.
Há situações em que os sábios se sentem incomodados se alguém ler o que escrevem e, mais ainda, fizerem algum comentário. Dão a entender que devemos deixá-los a "falar" sozinhos. Mas não podem decidir também sobre o tipo de comentário que aceitam que se faça.
Não ligo a isso, não é assim que funciono e, assim que me dispo do jargão, profissional e burocrático, escrevo como um compositor ou um maestro que tenta dirigir uma orquestra, de autores, para fazer um concerto que seja o menos aborrecido possível.
Por prazer e divertimento, sem constrangimentos, exercendo ao máximo a liberdade de pensar, sem nenhum compromisso com ninguém, a assistir ao surgimento dos frutos que, investir no pensamento crítico, pode dar.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

O amor

O amor nunca é aos poucos

Nunca é pássaro antes de ser mar

Sol antes de ser delírio

Noite antes de se tornar

Canto do entardecer

Dos loucos

O amor

Nunca é aos poucos.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Nada isenta de peso

Nada é isento de peso

Nem esta sensação de ser elevado

Pela música da claridade

Deste pensamento que não tenho

Neste estar com saudade

Por não levar nada

Nem deixar nada para trás

Nem a impressão desta palavra

Nem a paz

Nem o futuro

Nem o passado

Nada é isento de peso

Nem um olhar imaculado

Na ponta de um espinho indefeso.

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

De cigarro na boca

Havia homens e mulheres procurando

Sombras atrás de uma cortina

Escutando música para preencher vazios

Das palavras da canção clássica

No momento de abraçar a imortalidade

Eram abraçados pela novidade

De estarem num cantinho escuro

Que os olhares não devassassem

Com um significado mesquinho

Que não via magia na dança impossível

Nessas devoções em templos improvisados

Invocando deuses e deusas do cabelo

E da roupa perdida

Com tanta humanidade na comoção

Como estavam implorando à solidão

Por felicidade que ninguém alcança

De cigarro na boca.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Estrada

Encontrei uma estrada

Que estava perdida

Que ia de um lado para o outro

E não saía daí

E só então percebi

Por que estava abandonada

A razão de ninguém seguir aquela estrada

Era que ela não levava a nada

E eu quis que essa estrada fosse minha

Como já alguma vez pensei que era

Para um mundo que tivesse sido criado

Só para mim porque sim

E dado assim

Para que eu pudesse fantasiar

O porquê de ter sido abandonada

Antes de saber o que é ser abandonado

Um poema que fosse a resposta ao desejo

De encontrar o fim

Desse poema ainda inconsistente

Que é fundamental escrever

Que é urgente concluir

Mas como? Mas qual?

Se a estrada continua para o desconhecido

Se o poema não resolve a ânsia

E torna maior a dor

Da distância donde vim

Até ali

E não torna menor a dor

Dali

Para diante

Por nada e sem nada

Cada vez mais sem nada

Porque encontrei

Uma estrada.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Se ao menos

Se ao menos fosse cavaleiro pela neve

Sem saber a hora nem o dia

Se ao menos fosse o passo ou a neve

Que pensamento seguiria

Sabendo apenas que a beleza morde

Como um lobo salta para as gargantas?