É do senso comum que, quando o
financiamento existe, tudo é possível. As duas últimas grandes guerras foram
assumidamente projetos dependentes de dinheiro, dinheiro e mais dinheiro. Nessa
altura, no mundo cristão, havia quem dissesse "acima de cristo,
isto".
É natural que, onde está o ouro, o
privilégio, o poder, a liberdade, o prazer, a vaidade, a (vã) glória de reinar,
estejam os cardumes ofuscados e os tubarões não menos ofuscados e, um pouco
mais longe, os que, simplesmente, detestam toda essa miséria.
Não censuro uns nem outros, mas observo
como se torna difícil, triste, cruel e revoltante ter de morrer na esperança de
sobreviver.
No fundo, já não acreditamos que o
financiamento seja instrumental da construção de um mundo melhor. Muita gente
pensa que não há melhor mundo do que o que temos vindo a destruir. E não
aceitamos a dificuldade, a tristeza, a revolta e a morte como um preço que nem
sequer podemos negociar. É tudo, mais ou menos, da ordem do facto consumado.
Fazer primeiro e pensar depois. Falar e, na melhor das hipóteses, pensar
depois. Construir à vontade, porque demolir é facílimo. Os seres vivos não
param quietos, nem enquanto dormem.
É mais fácil fazer do que pensar e do que
falar das coisas e do que escrever sobre as coisas (exceto quando se tem um
manual, ou outro reportório, para reproduzir).
É fundamental que se incentive e financie
o pensamento e o discurso sobre o ser e o fazer. Não a reprodução do discurso,
que é uma praga fatal para a inventividade e a crítica e a ciência.
Vivemos um tempo de reprodução mecânica,
que é uma resposta a algum tipo de procura, mas a nossa atenção não pode deixar
de focar-se no que isso representa de estéril e de perigoso em termos de
sustentabilidade.
Neste ponto, as humanidades vêm abrindo
mão de um certo antropocentrismo, que pode ser muito salutar.
Espero que a questão "ou o homem ou
o planeta" nunca venha a colocar-se, porque não faria sentido nenhum.