"Ser feliz é uma actividade que requer toda uma vida e não pode existir em menos tempo" - Aristóteles, Ética a Nicómaco
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
O saber sempre me fascinou III
Perguntam-me pela realidade das aparências e eu pergunto pela aparência da realidade.
Penso que não temos acesso à realidade, mas apenas às aparências e, não raro, ou sempre, as aparências são a realidade, estranha é certo, mas a única que temos. Não me refiro apenas à realidade do que pensamos ou sentimos (o que é o sentimento de justiça, por exemplo? O que é uma mulher sexy, por exemplo? Ou uma boa acção?), refiro-me também à realidade das coisas físicas. Realço que coisa (res) e realidade são termos equivalentes.
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
A (in)Segurança social
Sem
enveredar pela teorização (económica, jurídica, social) dos problemas da
Segurança Social e dos cortes nas pensões, uma vez que, em teoria, tudo é
defensável (embora nem tudo mereça ser defendido), parece que há um
"fracasso" do sistema que é também um "fracasso" do sistema
normativo se as obrigações (mais do que as expectativas) legal, institucional e
contratualmente assumidas deixarem de o ser para ambos os lados e passarem a
ser suportadas unilateralmente, por força do princípio da prevalência da "razão"
do fracasso do poder. A tentativa de justificar esse fracasso pode ter
consequências ainda mais indesejáveis e perigosas para os ordenamentos sociais
presentes e futuros, porque tenderá a ser uma justificação para que qualquer
pessoa, privada dos seus direitos, adquiridos ou por adquirir, deixe de cumprir
(e não deva ser obrigada a cumprir) as suas obrigações. E será muito difícil
fazer com que alguém, de livre vontade, entre ou permaneça num sistema desses,
sem credibilidade. A noção de falibilidade que todos temos das coisas, ao
adquirir tais proporções, não deixa margens para confianças em soluções que,
não podendo ser propostas e sendo da esfera da imposição, não se propõem sequer
satisfazer condições de direito, imprescindíveis à justiça, à solidariedade e à
paz social.
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Poderes alternativos
A riqueza material, até para os mais simples dos mortais, tem uma carga "negativa" iniludível, porque ela simboliza e é poder que, sempre ao longo dos tempos, tem merecido as censuras mais bradantes e nunca, ou tão raramente, confirmou méritos que lhe são requeridos. Os governos não têm conseguido ser mais do que "maus gestores" do aparelho do Estado. E não o fazem com "espírito" de gestão de uma máquina fortemente interventiva e dominadora, com prerrogativas que não reconhece a mais ninguém. Fazem-no no pressuposto e na perspectiva de que o Estado serve e tem servido para alguma coisa e, como tal, importa que sirva para aquilo que eles, governantes, entendem que deve servir. Quanto àquilo, que pode ser imenso, para que o Estado serviria, continuaremos a aguardar que os políticos e o poder o digam. E esta falta de saída, de soluções, que leva o povo a um desespero nas respostas que têm sido dadas de todos os quadrantes. Nenhuma solução que envolva o sistema político tal como o conhecemos fará algo mais do que perpetuar os vícios que lhe são visceralmente denunciados.
sábado, 18 de agosto de 2012
domingo, 17 de junho de 2012
Estética, arte e moral
Não me parece que haja moral "fora" da consciência
axiológica do homem, do mesmo modo que não concebo que haja estética se não
houver experiência estética. A relação entre perceção estética e experiência
estética é algo "circular" se pensarmos que o juízo estético, por
ténue que seja, é constitutivo de uma e de outra, tal como a experiência moral
envolve um juízo moral. E não será por isso que a "aprendizagem", a
"educação", a visão do mundo e da vida, parecem estar sempre
implicados no processo de reconhecimento e avaliação do estético?
No domínio dos valores, como será o da estética (nas obras de
arte) e da moral, o formalismo terá a ver principalmente com o reconhecimento
de que "umas coisas" são mais "valorizadas" e "apreciadas"
do que "outras". Grande parte das obras de arte não passam de
formalismo porque aproveitam e laboram excessivamente aquilo que é suposto
provocar reações estéticas, como se houvesse "coisas" estéticas por
definição. Em determinado momento, o juízo estético também é um juízo (mais ou
menos consciente) de mérito artístico acerca do autor.
Diria que, se de tudo, até do que pensamos, temos ou podemos
ter experiência estética, então, toda a experiência é, ou pode ser, estética
(do feio, do bonito, belo, horrível, agradável, desagradável, assustador,
apaziguante, animador...). Nesta ordem de ideias, a (s) arte (s), também nos
proporciona (m) (e não podia (m) deixar de proporcionar) experiências
estéticas. A diferença é que, proporcionar experiências estéticas não só é
objetivo essencial das artes, como, ainda, estas o fazem intencional e
deliberadamente.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
O saber sempre me fascinou II
Há algo de potencial demolidor na filosofia que faz sempre falta para nos libertar. É como se ela fosse o único direito que ninguém pudesse tirar. É um sentimento que lembra o da literatura, a liberdade que só conhece os limites da imaginação e do engenho verbal.
Mas a filosofia é tão rebelde que não pactua com imaginações e engenhos, de tudo "suspeitando" e se distanciando, ao ponto de suspeitar de si própria. E era este tipo de "autofagia" ou inquietação que eu não desejava para a minha vida. A liberdade não me parecia, em caso algum, independente. O triunfo da filosofia, na minha perspectiva, não estaria na filosofia, mas em mim.
sábado, 19 de maio de 2012
O saber sempre me fascinou
O saber sempre me fascinou e com seu quê de desconcertante, do intuir ao pensar e sentir, pensar o que se sente e sentir o que se pensa, do formular ao comunicar e do representar ao fundamentar, a filosofia esteve sempre no centro das minhas atenções, como algo de indomável, sobre objectos indomáveis, tais como o pensamento histórico, ou económico, ou religioso. As assolapadas, e não raro pretensiosas, certezas das ciências não me seduziam tanto. O pão pão, queijo queijo, ocultava sempre qualquer coisa que eu ansiava desvelar. No fundo, talvez fosse a minha rebeldia em não me conformar com que as coisas tenham de ser como são. E a filosofia era como um oceano de vastos horizontes que não cessavam de se metamorfosear, ou tomar novas configurações, como um baralho ou uma mente que se desenvolve pela força do pensamento. Pensar sobre objectos presentes e pensar sobre memórias, de objectos, ou de acontecimentos, ou de pensamentos...Em vez de me sentir derrotado pela perspectiva das dificuldades, senti-me animado a progredir passo a passo, como se aprende a andar. E foi de pequenos prazeres de ir entendendo, ou de pensar que entendia, que me fui confirmando nessa curiosidade e nessa paixão (não declarada, insegura, hesitante e temerosa) do discurso filosófico.
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