O Velha apresentava-se sempre como Alberto Caeiro e dizia ser pastor de transístores.
Para muitas pessoas isso correspondia ao anúncio de uma seita esotérica, religiosa ou política. Mas não era.
O Velha não era pastor de uma seita, era mesmo pastor de rebanhos de ovelhas e de cabras.
Com o tempo, foi-se tornando também pastor de transístores e, pouco a pouco, declarava-se a si próprio como pastor de transístores que deixara de ser pastor de gado.
Na infância, foi pastor de gado. Nunca pertenceu a uma tribo. Aprendeu a viver sozinho e a lidar sozinho com os seus medos. Mais tarde, frequentou a escola para adultos e descobriu que era Alberto Caeiro e que tinha mais que um heterónimo, sendo um deles Fernando Pessoa.
Mas a maior descoberta da sua vida foi o transístor.
Desde o dia em que o descobriu que passou a fazer-se acompanhar dele para os montes com os rebanhos. Assim que pôde comprou mais alguns e levava-os todos para os sintonizar em estações diferentes.
Enquanto as ovelhas pasciam, colocava os transístores em posições estratégicas no solo e ouvia de tudo em simultâneo.
Se mais estações de rádio houvesse mais transístores teria comprado.
"Ser feliz é uma actividade que requer toda uma vida e não pode existir em menos tempo" - Aristóteles, Ética a Nicómaco
segunda-feira, 26 de abril de 2010
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Escuto as dores do mar
É nessas dores que se banha a lua
Nem todas as janelas já estão fechadas
As dores do mar
O balançar das árvores ao alto
É nessas cores que a torda da alegria
Perde peso
E a alma de magreza voa
Do mar
A olímpica fantasia
Que atordoa
Quem poderá domar?
quinta-feira, 1 de abril de 2010
O pregador e o propagandista
Está sol num grande largo povoado de sombras um pregador sob uma árvore adverte em nome do bem como um sol que faz desaparecer sombras no canto de lá um propagandista reclama liberdade como um sol que faz sombras.
quarta-feira, 31 de março de 2010
Aceito o teu convite
Aceito o teu convite para ir a tua casa
Tomar café
Mas como estarás vestida?
E não aparecerá ninguém
(a cantar numa voz de ópera?)
Já te vi subir o pano
Como o suave sol de Maio
Sobe a colina
Faz-me ver grandes nuvens brancas
E temer adormecer
Sem o desejar.
domingo, 28 de março de 2010
Porque é que estou a lembrar estas coisas
Um caminho abandonado há tantos anos
Interrompido por uma estrada
A única coisa valiosa que possuo
Recordações da minha juventude
Como se as tivesse lido em livros
De aventuras que não li
Até ao fim
Por me aborrecer
De morte.
quinta-feira, 25 de março de 2010
Ao amor desconhecido
Se tivesses uma morada ou telefone
Que eu soubesse
Um telemóvel ou e-mail que
Provavelmente tens
É improvável que escrevesse esta carta sem endereço
Nem sequer a escreveria
Faço-o porque não te conheço
E sou fiel
Ao sonho e mais profundo desejo
Sem trair o anjo do meu cortejo
E sem temer
Vir-me a arrepender
Pelo menos enquanto não te encontrar
Se tivesse dúvidas sobre o ridículo das cartas de amor
Elas cessariam com esta
Não por ser simples carta de amor
Mas por ser ao amor desconhecido
Que confiança pode merecer-te alguém que viveu
Oitenta anos sem te ter tido
Ou que o afirma
Mais indigno de ti
Quem diz que amou sem te conhecer
Ou quem não amou à espera que isso acontecesse
Mas tu não vieste?
terça-feira, 9 de março de 2010
Dezenas de AUTORES Lusófonos COMENTADOS NESTE LIVRO
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