O cérebro não nos engana, nem nós
enganamos o nosso cérebro.
Como é que isso poderia ser?
Como é que isso poderia ser?
Não se faça confusão entre ideia de
realidade e percepção da realidade. Desde sempre o homem teve necessidade de
filosofias e de religiões para "explicar" a realidade percepcionada.
É patente a diferença entre o que
percepcionamos, com os sentidos, e a ideia que fazemos ou podemos fazer daquilo
que percepcionamos, mas isso não significa que percepcionamos de modo errado.
Pode haver distorção na percepção, por ex., por anomalia ou distúrbio dos
sentidos, mas isso não é engano.
Por outro lado, depois de conhecermos a
física de partículas continuamos a percepcionar a pedra, com os nossos olhos e
ouvidos e mãos, como percepcionávamos antes. A tua mão percepciona igualmente
os átomos da pedra, antes e depois de saberes qual é a sua estrutura atómica. O
mesmo se diga quanto ao sol girar à volta da terra...
Em geral, as tuas percepções das coisas não se alteram porque se alterou o teu conhecimento acerca delas.
Em geral, as tuas percepções das coisas não se alteram porque se alterou o teu conhecimento acerca delas.
Nisto o cérebro funciona como tem de
funcionar, ou não funciona, mas isso é outra questão.
Ser induzido em erro também ocorre com
frequência, mas diria que o erro é da ordem das ideias e dos juízos e não das
percepções.
Daí que também seja frequente as nossas
ideias e juízos e cálculos sobre a realidade reclamarem ou exigirem percepções
que não temos e que procuramos, supondo que há coisas que deviam ou devem estar
lá, algures. É o que imagino que acontece muito na quântica, embora aqui, na
falta de percepções diretas, se procurem deteções indiretas...
Procurei
restringir o conceito de percepção ao do contacto dos sentidos com o exterior.
O que
enfatizo é que o mapeamento cerebral desse contacto, a representação mental
desse contacto, o pensamento gerado, estão noutro plano do processo.
Por sua
vez, tudo o que a pessoa possa exprimir, comunicar, sobre isso, já é também
algo diferente.
Apesar da simplificação, ilustra a
complexidade do processo de acesso à realidade.
Podemos perguntar: qual é o nosso acesso
à realidade? É um acesso adequado a quê? A senti-la? A fruí-la? A
compreendê-la? A conhecê-la? A explicá-la?
É que, antes de analisarmos a realidade,
temos o problema do acesso à mesma e o problema da linguagem e da representação
e vice-versa. Realidade não é o mesmo que noção de realidade.
Depois há a questão de quem administra a
verdade sobre a verdadeira realidade.
A realidade não é um dado.
Aliás, pensando bem, a realidade
disponível não é toda a realidade, mas a que resta. Se me faço entender, a
realidade disponível é algo que fica no fim de um processo imenso de factos
indisponíveis.A realidade não é um dado.