Há que
trabalhar para resgatar o homem e a humanidade da situação humilhante em que hoje, talvez mais do que nunca, nos encontramos.
Conduzir a humanidade é uma expressão com sentido, mas não passa disso. A
humanidade não se conduz, porque não é condutível e porque não há quem fosse
capaz de o fazer. Se alguém tentou fazê-lo, o mais que fez foi agregar um grupo
em torno de um objetivo concreto e mais ou menos definido, no tempo e no
espaço.
Os poderes, as instituições, as religiões, as culturas...e o estilo de
vida, com seus hábitos de consumo e suas expectativas, as promessas
propagandísticas, os aliciamentos, acenos publicitários e modelos de sucesso
socioprofissional, ditam grande parte do que devemos pensar e do que devemos
viver e, até, do que devemos sentir. A subjugação é de tal ordem que, ela
própria, nos é apresentada como o jogo da vida, o único jogo que vale a pena.
Recursos, matéria-prima, otimização, mais-valia, competitividade, empreendedorismo,
lucro, são as virtudes deste tempo apressado, que vieram substituir (e matar)
as virtudes de outros tempos com mais tempo.
Quem for capaz, ou tiver a oportunidade de trocar tempo por dinheiro, ou
dinheiro por tempo, se optar por ter mais tempo para pensar, pode refletir não
só sobre o que devemos pensar, mas também sobre como devemos pensar; não só
sobre o que devemos viver, mas também sobre como devemos viver; não só sobre o
que devemos sentir, mas também sobre como exprimir o que sentimos.
Temos de conseguir pôr fim à balbúrdia e ao estapafúrdio dos pifos
mirabolantes que logram fazer girar tudo na roleta do dinheiro que eles
dominam.
Os valores de troca são algo de abstrato e complexo que depende de fatores
especulativos, que têm vindo a transformar-se no jogo da vida.
Espero que os valores de uso (e não os valores de troca) tenham a palavra
mais importante a dizer sobre a condução da humanidade.