"Ser feliz é uma actividade que requer toda uma vida e não pode existir em menos tempo" - Aristóteles, Ética a Nicómaco
sábado, 17 de maio de 2014
O Estado não tem maneira de dizer que não é nosso
Vivemos tempos de enorme desconforto quanto a saídas para certos bloqueios e sequestros e imposições, para não dizer fatalidades.
A eficiência dos serviços do Estado é sempre bem-vinda na perspetiva de quem "superintende" o Estado, ou se quisermos, numa perspetiva meramente económica.
O que todos devíamos saber é que, tratando-se de mecanismos, ou de fatores económicos, o que é bom para o Estado, muitas vezes não o é para o privado e isto não quer dizer que é mau que assim seja, mas há quem se esgadanhe todo por achar que só o que é bom para o privado pode ser bom para o Estado. Diria, aliás, que o desafio é conceber e racionalizar uma economia, pelo menos tri-fronte: privada, pública e internacional.
O problema da globalização também não está ausente.
A ineficiência da máquina do Estado é um problema que será sempre atual, do mesmo modo que o da ineficiência das empresas privadas. Faz parte do próprio sistema racional (de rácios) de controlo e de auditoria e de avaliação. Mas isso, em suma, não é um problema, é a realidade das coisas.
O que é e será um problema é o investimento público.
Para o privado o investimento é ou não é um problema de quem investe mas, subordinado a rácios de rendibilidade, é um problema sério se for à custa da vida de milhões de pessoas, ou do próprio planeta. Isto é odioso e perigoso e ameaçador, há muito tempo, com muita, muita mesmo, demasiada colaboração e subserviência dos meios científicos e tecnológicos, que se revelam mais insensíveis e despreocupados, do que seria de esperar, quanto às consequências da multiplicação das "máquinas de fazer dinheiro".
O que é (ou não é) problema para o privado, e pode até ser o grande objetivo lucrativo, é ou pode ser um grande problema para o Estado. Falar em investimento público tem esta desvantagem do apagamento em que fica, porque o privado lhe rouba o palco.
É que investimento público é um conceito de investimento que tem poucas afinidades com o de investimento privado. O retorno do investimento esperado/pretendido pelo Estado não é da mesma ordem, sócio-espácio-temporal-económica... do do investimento apostado pelo privado.
A maior parte das vezes o investimento do Estado é um esforço titânico para "remediar" os efeitos nocivos do investimento privado.
E quando isto é mais assumido e declarado por razões especialmente críticas (como a atual crise), vem ao de cima uma incompatibildade feroz, que não devia existir, entre público e privado.
Para tornar as coisas mais desconfortáveis, o público, normalmente, é instrumento nas mãos de poderes privados, mais ou menos organizados, mais ou menos influentes, mais ou menos dominantes. Estes poderes sabem muito bem o que lhes interessa que o Estado seja e o que não lhes interessa. Interessa-lhes que o Estado trate de umas coisas e que não se ocupe de outras. O que é importante é que se averigue e se perceba porquê e se isso interessa ao Estado, enquanto estrutura representativa de realidades territoriais e demográficas e histórico-culturais que não se compadecem com os balanços e contabilidades de A, B ou C. O Estado não tem maneira de dizer que não é nosso.
sábado, 10 de maio de 2014
O direito de não competir
Elogiaria a forma, muito interessante e reflexiva, de expressar quanto a poesia pode ser como a febre, um sintoma de alguma coisa que é preciso solucionar.
Para o poeta, os arrazoados dos que professam a religião das urgências e das pressas e dos progressos, são artifícios como outros quaisquer, mas que não devem ser impostos a ninguém, como ninguém deve ser obrigado a competir com ninguém. Devia ser acrescentado um direito à lista de direitos do homem "o direito de não competir, nem a feijões".
Sabendo nós (previsivelmente) que vai acabar tudo numa nuvem de poeira, seria de esperar que a organização e gestão do nosso tempo fosse feita em função da efemeridade.
Quando nos pedem para sermos racionais e científicos, seria de supor que esperassem de nós algo diferente de andarmos a matar-nos antes do tempo porque queremos sobreviver à perseguição, ou pressão, a que estamos sujeitos.
A realidade é a única coisa que interessa à ciência, mas é a única coisa que o homem não aceita e, vai daí, engendra todas as técnicas e mais algumas para a transformar em algo diferente...
Um dia deixaremos de morrer tecnicamente.
terça-feira, 8 de abril de 2014
A aprendizagem dos valores
A
aprendizagem dos valores é o que há de mais subversivo, não porque favoreça uma
vida de acordo com os mesmos, mas porque põe a nu o problema de as pessoas
serem ou não capazes, quererem ou não quererem, serem ou não serem obrigadas, a
conformar as suas condutas com esses valores.
O
Estado, infelizmente, está numa crise plena, no que a valores respeita e, no
entanto, arroga-se o monopólio da coação que, não sendo arbitrária,
institucionaliza e consente (quando não promove) políticas "loucas" e
"vertiginosas" para lado nenhum, mas tudo à volta do dinheiro, o
valor último.sexta-feira, 14 de março de 2014
Terramo(r)tos
O avião em que viajávamos para a lua de mel despenhou-se num local que uns chamam “não sei”, outros “sei lá” e outros ainda “pergunte ali a diante”. Eu fui o único sobrevivente…
O meu partido não existe. Tenho partido, mas ele não existe como tal. O meu partido não é do contra, mas permite-me concluir que não tenho partido, ou por outra, os ditos partidos existentes não servem, não prestam e, como sempre acontece nestas coisas, ninguém dentro do sistema tem influência, poder e coragem para provocar indesejáveis terramotos. O meu partido é a vida, são as pessoas, a liberdade, a justiça, a saúde, a educação, a cultura e a responsabilidade, em todas as vertentes, pessoais, sociais, ambientais… O meu partido é a verdade, até as verdades que preferencialmente ninguém quer saber. O meu partido não é o Estado, nem a União Europeia, nem a Globalização, nem o dinheiro, nem a guerra. O meu partido é contra o estado de guerra em que vivem os trabalhadores que têm de suportar todos os dispêndios e todas as aventuras dos senhores dessa guerra de traições engravatadas.
São cada vez mais os portugueses sem partido. E cada vez mais os partidos existentes são menos partidos e mais associações de malfeitores. Ser sem partido não é o mesmo que ser militante ou estar inserido nas estruturas de um partido. Ser sem partido foi-se tornando uma desvantagem crescente à medida que dois partidos deixaram de ser mais do que marcas que detêm entre si o eleitorado. Deter o eleitorado significa apenas granjear uma parte dos votos dos eleitores, normalmente baixa, muito baixa.
As tuas cartas têm-se espaçado muito. Começaste a escrever-me uma vez por semana. Depois, hebdomadariamente. De mês a mês. Quatro cartas num ano. Um postal pelo Natal e uma foto no Verão. Assim passaram cinco anos. Nesta prisão. Cada vez dizes mais em menos palavras. Na primeira carta, declaravas toda a tua paixão e sofrimento pela distância.
domingo, 9 de março de 2014
O céptico
O cepticismo, por definição, não aquece nem arrefece, seja no domínio filosófico, seja noutro domínio qualquer e, alguém dizer-se céptico, retira-lhe a base de afirmação seja do que for. Um céptico, em rigor, nem pode dizer que é céptico porque, sendo céptico, pelo menos, tem de duvidar. E se pretender contestar ou contrariar alguém que, por exemplo, manifesta uma crença, o céptico está a contrariar-se a si mesmo, pelas razões expostas. Ser céptico, se formos a pensar com rigor, significa "recusar ou impedir-se a si mesmo de tirar conclusões ou ter ideias".
Para que serve uma atitude dessas?
Um
céptico, na acepção filosófica, que é a que está em causa, é céptico
relativamente a tudo e em todas as situações, incluindo o seu cepticismo.
A um céptico nunca se perguntará o que pensa. A opinião dele está estabelecida a priori, ou seja, não tem. Ser
céptico nem sequer é uma opinião.
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
Gerir o público e gerir o privado
É preciso mais do que explicar e justificar, tanto quanto é
necessário, a relação que existe entre o “dinheiro” e o “preço do dinheiro” e
entre a “importância do dinheiro” e o “mercado do dinheiro”.
Gerir dinheiro e produzir ou reproduzir dinheiro é uma
ciência e uma arte.
Espantar-me-ia se me dissessem que as maiores inteligências gravitam
em torno desse astro, uma vez que encandeia quem o vê e priva da vida os outros.
Mas do ponto de vista da ciência e da arte, nada a opor, é
uma ciência e uma arte com o valor das ciências e das artes.
Só que, a ciência e a arte e o dinheiro, não valem por si
mesmos, senão pelo que representam ou possibilitam. Nesse aspeto o dinheiro,
pela fungibilidade, é o bem de liquidez por excelência.
Dentro da lógica fechada do “dinheiro gera/pode gerar
dinheiro” e de que tudo o que gera dinheiro é bom, o investidor privado não tem
muito por onde escolher. Os custos de oportunidade equacionam-se sempre em
função de uma rentabilidade, mais ou menos imediata, sem consideração, por ex.,
por externalidades negativas.
Na minha perspetiva, o nosso tempo está a produzir a
inteligência necessária e urgente (e obrigatória) para organizar e gerir o
mundo enquanto planeta que está em perigo, por culpa dos humanos (e mesmo que o
não fosse).
Vamos ter que ser muito claros e entendidos sobre aquilo que
queremos, não enquanto investidor privado, mas enquanto coletividade, não
enquanto EUA, mas enquanto Comunidade Mundial de países.
A questão do “valor económico” vai ter de prevalecer sobre a
lógica do retorno do investimento e do lucro. E isso só será possível se se
pré-ordenarem os fins do privado aos fins do público.
Gerir o privado e gerir o público são realidades e
problemáticas diferentes, senão antagónicas.
A justificação dos fins pelos meios, no privado, é uma
coisa, no público, é outra, completamente diferente.
No privado, o lucro “justifica” que me vendam três sacarrolhas
mesmo que eu não use.
No público, não existe justificação para que alguém compre
algo de que não precisa. Mas todos conhecemos muitos exemplos bem mais
eloquentes do que este, como o do homem que compra vinte ferraris com o único
objetivo de os destruir.
Para o privado, a ciência, a educação, a religião e a arte
são mercadorias. Tudo o que possa gerar dinheiro.
Para o público, o dinheiro começa por ser o maior problema,
porque os fins não são o dinheiro. Qualquer política que, por equívoco ou não,
não pressuponha claramente que os fins do Estado não são o retorno, será
desastrosa para todos.
Ao Estado compete, ao contrário dos privados, promover o bem
estar, o desenvolvimento, a saúde, a educação, a paz, a justiça, o ambiente
saudável.
Ao investir em ciência e tecnologia o Estado, em teoria, é a
entidade que não pode deixar de agir com inteligência, sob pena de não obstar
ao descalabro para que nos encaminhamos.
Nenhum investidor privado tem a obrigação de se preocupar, por
exemplo, com o facto de o retorno do seu investimento ser ilegítimo, ou
resultado de um efeito desastroso para a economia (por ex., numa perspetiva de
consumismo destrutivo).
Infelizmente, para a população em geral, os partidos que “conquistam”
o Estado fazem-no sem uma visão para o papel e as funções do Estado num mundo que
tem de ser gerido e partilhado coletivamente, com ciência, economia,
consciência, justiça e não, como até aqui, ao sabor da ambição, aventureirismo
e poder de espada de cada um.sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
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A aprendizagem dos valores, paradoxalmente, é (pode ser) um factor de agitação, indisciplina, descontentamento, decepção, revolta... A civilização não é pacificadora, justamente porque o mundo está nas mãos de quem não faz o que deve e não olha a meios para fazer o que quer, podendo.