Admito que, em grande parte, as questões do facto e da prova do mesmo não são redutíveis à questão da verdade. Esta é mais do que
o facto e do que a prova.
Não me custa admitir que ocorram mais factos do que aqueles que somos capazes de verificar e de provar.
Eu penso que existo e, no entanto, não seria capaz de prová-lo, filosoficamente
falando.
Até para provar que nasci, frequentemente as autoridades me exigem uma certidão. Diante de mim, eles não se questionam sobre o facto da minha existência e do meu nascimento. Não lhes
passa pela cabeça perguntar «prove-me que nasceu». E não importa se a certidão é um documento falso, o que interessa é que cumpre a sua função de representar a realidade
de um indivíduo ter nascido.
O mérito e a importância prática e teórica da filosofia têm a ver com o discurso sobre o ser (ou não ser).
Historicamente, os filósofos deram-se conta de que a linguagem, os sistemas de codificação e descodificação, tal como acontece atualmente com os
sinais de rádio e de televisão, e dos sistemas de codificação informáticos, são por si mesmos uma realidade acerca da realidade que levanta problemas, não apenas práticos,
mas também teóricos.
A necessidade de justificar o que afirmamos sobre a realidade pode ser vista como a fonte da filosofia e do conhecimento, mormente científico.
As religiões tentaram resolver, ou contornar, ou responder ao problema do ser com «não sabemos o que é o ser mas sabemos aquilo que ele deve ser».
Os filósofos depararam com este problema maior e questionaram «o ser deve ser o que é ou o que sabemos que deve ser?».
Mas, num certo sentido, é
logicamente irrecusável que o conhecimento do ser deve ser como deve ser. Isto é o reconhecimento de que o conhecimento como ato humano que é não está fora da alçada da necessidade
de escolha, neste caso, da escolha certa (verdade).
Carlos Ricardo Soares