Para
evitar desvantagens de estarmos dependentes e condicionados pelo
mercado da atenção, é indispensável que se leia, sobretudo, o que
não é o discurso da "verdade oficial". A função do
livro é de tal modo indomável e imprevisível, que os autores da
clandestinidade, os desmancha-discursos, os "malditos", os
"proscritos", os "excomungados", todos quantos
não alinham nem servem cartilhas, grémios, associações, partidos
ou religiões, são a melhor garantia de podermos aprender alguma
coisa importante sobre o que pensam outros, loucos ou não ou só um
pouco, ou aqueles que são tomados como tais, algo que nos interesse
ou sirva de aviso e de esclarecimento, ou lição, ou de visão, ou
de, outra, chamada de atenção. Podem ser como as raras pessoas que
se incomodam a dizer verdades que normalmente ninguém deve saber. Os
livros podem ser a única forma de acesso a verdades que não têm o
direito de existir, por qualquer razão, conhecida ou desconhecida, a
informação muito relevante, que não poderemos encontrar noutro
lugar, nem de outro modo. Os livros, que não chateiam ninguém, que
estão quietinhos e não fazem barulho, são dos objectos que, ao
longo da história, mais foram odiados, perseguidos, queimados e que,
ainda assim, sobreviveram aos seus algozes e inimigos, muitas vezes,
devido ao amor dos seus leitores.
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