quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A Verdade


A verdade que podemos encontrar numa enciclopédia sobre a Verdade não está na enciclopédia, nem nas bibliotecas e não é a Verdade. Esta é a verdade. Não depende de nós. Ou depende? E é banal. É? E depois? Continuamos a procurar a verdade, mesmo falando verdade e não a encontramos? E se a verdade for desagradável? Dolorosa? Insuportável? Queremos sempre a verdade? E se a verdade é contra nós? Que verdade, ou verdades, nos interessam?
Detestamos a mentira, mas há as meias verdades e a verdade das partes e a verdade do todo, mas a verdade não está nas partes e não está no todo.
A verdade, em última análise, é absoluta: ou é ou não é; se é, é para todos e para todas as inteligências. É ou devia ser? Devia? Porquê?
Um juiz disse-me que só o que está no processo é que está no mundo, a verdade dele é aquela.
Um tipo que eu tenho por cientista diz-me que só o que é verificável, mensurável, empiricamente, merece crédito. Esta é a sua verdade.
Um poeta proclamou que «quanto mais poético mais verdadeiro».
A verdade do filósofo com quem falei é um veredicto, são juízos sobre os próprios juízos, sobre a contenda entre falso e verdadeiro entre a ideia e a coisa, embora saliente que ao filósofo interessa uma interpretação cósmica da sua experiência interior e que essa interpretação, qualquer que ela seja, não é a verdade.
O meu pároco diz que Deus é a Verdade, que as verdades do cientista e do juiz e do filósofo são juízos sobre coisas, factos, acontecimentos, acções e ideias. A verdade não é conhecimento nem doutrinas teóricas que, como tais, se possam comunicar. A alma tende para a contemplação da verdade, para a pura contemplação, sem pensar anotar o que contempla para disso se separar e representar isso sob uma forma «válida em geral» com a qual todos pudessem enriquecer o seu saber. Cada pessoa permanece “fora” de interpretações e esquemas analíticos e nunca lhes está submetido; quando quer conhecer-se a si próprio, não é no homem em si, numa teoria da sua vida que se revê e o que lhe vem do íntimo não carece de explicação alguma. 


4 comentários:

Miguel Oliveira Panão disse...

Belíssima reflexão!
... ou seja a Verdade vive-se, vislumbra-se, deseja-se saber, conhecer, mas o que é ou quem é, será sempre a realidade escondida, aquele "M"istério que nos atrai no íntimo e fora dele.

Abraço

Carlos Ricardo Soares disse...

Obrigado Miguel pela leitura e comentário.
Aproveito para desejar-lhe um Feliz Ano Novo.

Miguel Oliveira Panão disse...

Uma Santo e Feliz Ano Novo também para ti :)

Mel de Carvalho disse...

Caríssimo Ricardo,
um dia destes li (ou ouvi, já nem sei ...) que
"a verdade é uma mentira que ainda não foi descoberta". Não levo à letra tal afirmação, mas estou em crer que a verdade é sempre um conceito subjectivo e variável, cujos pesos, dependem do momento a que a tal verdade ocorre.

Bem-haja na partilha
Fraterno abraço
Mel