sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Produtividade


Uma coisa é a produtividade enquanto conceito, enquanto rácio entre quantidades, por exemplo, de produção física e unidade de trabalho, ou unidade de capital…ou de valor da produção e quantidade de fatores, sempre numa perspetiva do custo (preço), em cada momento. Neste caso, a produtividade depende dos valores disponíveis para cada um dos termos da relação. Estes valores são encontrados através de registos, de um determinado período, como por exemplo o PIB. 
Associar a “bondade” da produtividade, sem mais, ao crescimento económico, é algo perverso, porque este pode ser obtido à custa de sacrifícios desproporcionados…
Outra coisa é a produtividade enquanto realidade (mensurável ou não), que pode ser maior, menor ou igual, à de diferentes períodos e que, ainda assim, varia de setor para setor e de ramo para ramo… Mas, em geral, só conta com “ganhos/perdas de eficiência” empresarial, quando há ganhos/perdas de eficiência das famílias e das instituições, em múltiplos níveis e não apenas dos custos.
Em ambos os casos estamos a falar de quantidades, independentemente das qualidades e nem sequer estamos a falar de melhorias ou piorias.
Em termos de valor acrescentado, não podemos ignorar, por exemplo, que o acesso aos computadores e à internet veio revolucionar a relação dos consumidores/famílias/particulares, com os outros agentes económicos, e também o modo como resolvem inúmeros dos seus problemas de autoprodução /autoconsumo.
Infelizmente, não será para breve que os humanos deixarão de trabalhar. Digo infelizmente porque bom seria que o trabalho fosse feito por robôs e os humanos pudessem viver para a especulação, a conjetura, a investigação, as artes, o desporto, o amor, a justiça, a paz. 
Para além destes, não é fácil vislumbrar domínios em que os robôs não sejam melhores do que nós a fazer o que lhes ensinamos.

Entretanto, não é de esperar que o crescimento e a produtividade ocorram em cenários de uma concentração dos rendimentos que ultrapasse os limites críticos do consumo, abaixo dos quais aqueles não podem ocorrer. 
De resto, e considerando que existem mecanismos e sistemas de medida e controle das quantidades/tipos de riqueza e respetivas apropriações/distribuições, tudo acabará por ser apenas um problema de cálculo em busca da máxima rendibilidade possível, sim, possível, com mais ou menos robôs.

Carlos Ricardo Soares

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

A virtude do vício e o vício da virtude


  Vamos sendo viciados. 
O vício, como antónimo de virtude, não me interessa. 
Pode-se ser viciado em virtude? Penso que sim.
O vício da virtude não deixa de ser um vício. 
Então, qual a diferença entre a virtude do vício e o vício da virtude? 

sábado, 10 de dezembro de 2016

Fins lucrativos

Os fins lucrativos...Não é que justifiquem coisa alguma, mas são a charneira do capitalismo, justificados pelo capitalismo enquanto modo de produção que tem tido uma história cujas coerências, até "há pouco", sobrelevavam as incoerências. Refiro coerências como poderia dizer lógica do jogo, ou lógica dentro de um universo. A atenção dos agentes económicos está e "não pode" deixar de estar "presa" a tudo e quase só o que é susceptível de lucro. Existe outra coisa?-pergunta o jogador.
As humanidades (direito, ordem, segurança, filosofia, educação, antropologia, história, ciência da religião, arqueologia, teoria da arte, cinema, dança, teoria musical, design, literatura, letras, filologia, etc.) estão para as outras ciências, de algum modo, no que respeita a lucros, como o campo está para o agricultor e os oceanos para o pescador.
A democracia e a plutocracia são duas faces da realidade atual, a pobre a quem é concedido sobreviver mediante vassalagem e a rica que se louva nas virtudes da pobre.
Se porventura houvesse investimento nas ciências humanas, que de longe se parecesse com o que tem sido feito nas outras ciências/tecnologias (que também são humanas, obviamente), e nem precisava de ser aproximado do que se faz, por exemplo, no futebol, acredito que todas as causas da humanidade perdidas nos últimos séculos, incluindo guerras, teriam sido ganhas no tribunal do conhecimento. Mas a cegueira ocupa o topo da hierarquia dos poderes, não por mérito de visão, mas por inerência da cupidez...e dos fins lucrativos.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Perspetivas críticas


Não vou alargar-me em considerações, mas louvo a análise que é feita com abertura de perspetivas críticas.
Todas as estratégias e metodologias para ensinar padecem do mesmo vício, qual seja o de, eficientemente, quererem "levar" o aprendiz a saber, fazer, reproduzir, determinadas matérias que lhe são alheias.
Há em tudo isso uma violência, que alguns louvam, mas que uma boa parte, preferia não ter sofrido.
Sempre (sempre) no pressuposto do interesse do próprio, submete-se o indivíduo, não apenas a uma visão (religião, ideologia, crença), mas também a uma condição inelutável de "estar sujeito".
O haver "um preço a pagar para..." já é uma situação de privilégio. Abandonada a pedagogia da palmatória e do chicote, nem por isso se deixou de recorrer a instrumentos de persuasão, de coerção e de humilhação e de castigo.
Em geral, assiste-se, hoje, a uma culpabilização da criança e do jovem, primeiro, por viverem à custa de alguém, nomeadamente dos subsídios para a sua formação (obrigatória).
É óbvia a dificuldade de lhes imputar responsabilidades pelo que quer que seja. Sê-lo-ia se fossem adultos, muito mais por o não serem.

É toda uma filosofia e uma concepção sobre a natureza do homem e os processos de socialização/aprendizagem, que subjazem ao paradigma educacional atual, que vale a pena questionar e pôr em causa.