"Ser feliz é uma actividade que requer toda uma vida e não pode existir em menos tempo" - Aristóteles, Ética a Nicómaco
terça-feira, 10 de abril de 2018
Se Deus ouvisse as preces
Ter ou não ter esperança, no que a Deus respeitar, é irrelevante. Adorar a Deus, idem. O que tiver que ser será. Até agora, nada nem ninguém provou o contrário e é bom que assim seja, que nada dependa de rezas e de bênçãos. Como seria impossível viver se Deus ouvisse as preces e atendesse às oferendas?! No AT Caim matou Abel por acreditar nisto...
segunda-feira, 9 de abril de 2018
O poder dos que não têm poder
Inclino-me a pensar que os que não têm poder influenciam muito e de muitas maneiras a vida dos que têm poder.
O poder nada seria sem aqueles que não têm poder.
domingo, 1 de abril de 2018
Deuses deus religiões fé
Propunha, a quem se interesse pela questão de Deus, ou dos deuses,
que recuasse no tempo para tentar restabelecer o trato sucessivo deste
problema, que é uma herança religiosa e mitológica, mas que os gregos, fazendo
incidir a Razão sobre essa herança pré-filosófica, transformaram em filosofia
sobre o mundo, sua origem e suas forças…
Para
Aristóteles, que alguns consideram pai da Lógica Formal e do método científico,
«até o apaixonado pelo mito é, à sua maneira, um filósofo».
Tomemos,
por momentos, o Atomismo de Epicuro, a atitude mental com que o filósofo
abordou a matéria. Não obstante ser racionalista e materialista, não era ateu.
Para um
bom observador, mesmo do nosso tempo, a natureza é uma “luta”, uma “dinâmica”
de forças motrizes, aparentemente antagónicas, que culminam numa hierarquia
entre deuses e gigantes e os outros. «A sugestão de Anaxágoras de que a força
motriz podia ser uma Inteligência capaz de ordenar todas as coisas, foi
retomada por Platão e incorporada na sua religião».
Ora,
já em tempos mais recuados, os nossos antepassados revelavam um pendor
impressionante para se interrogarem e refletirem sobre questões que não
“podiam” depender da observação e da perceção sensorial.
Então,
como agora, com as devidas proporções, o empírico não era revelador, pelo
contrário, parecia ocultar. E o oculto aos sentidos tornava-se um desafio à
curiosidade e ao desejo de explicação.
Nesses
tempos, o empírico era menosprezado nas respostas que podia dar às grandes
questões desses tempos. O próprio Epicuro, com o Atomismo, e paradoxalmente,
porque afirmava fundamentar-se no testemunho dos sentidos infalíveis, não
passava de um dogmático. “A teoria atomista não é uma hipótese que possa ser
verificada pela sensação, nem se põe a questão de ela ser rejeitada como
falsa”.
Nesses
tempos, a preocupação, em termos de conhecimento, focava-se na
“inteligibilidade”, “na intuição imediata de uma proposição evidente em si
mesma”, na “evolução” das coisas, desde um “princípio” até à ordem conhecida,
de verdades e de objetos do domínio do totalmente impercetível, problemas
insolúveis que estão para além do alcance da observação, a origem do mundo e o
“que se passa no céu e debaixo da terra”…
Somos
capazes de pensar e chegar a conclusões verdadeiras, em muito mais coisas do
que conseguimos experimentar, observar ou imaginar.
Ao
olharem para o mundo, ao observarem uma ordem, ao pensarem num processo, os
nossos antepassados pré-helénicos, seguiram uma via racional e inteligente,
diria mesmo, surpreendentemente condizente, ou, ainda assim, próxima das
modernas teorias cosmogónicas.
Os filósofos
gregos perceberam que nos mitos cosmogónicos havia problemas implícitos. De
pergunta em pergunta, chegaram a questões essenciais sobre o estado original
das coisas, a formação do universo, a composição da matéria, o aparecimento da
vida, a ocorrência das forças antagónicas, o movimento, a inteligência, a
faculdade da sensação, a maneira como é adquirido o conhecimento, a teoria das
ideias, “como podemos procurar uma coisa que não conhecemos e como havemos de
saber quando a encontramos?”, “pode a virtude ser ensinada?”…
De
certa forma, a mitologia era a linguagem possível de uma racionalidade sobre
“casos” passados que permaneciam desconhecidos. A perceção de que o oculto, o
desconhecido, o “inadvinhável”, o incontrolável poderoso, o misterioso
inatingível, o “indeterminado” de Anaximandro, vai ganhando vulto à medida que
as questões vão sendo colocadas, faz aumentar a margem de especulação e de
tentativas de explicação.
Se os
poetas criaram os deuses, também “tiveram de” criar a explicação da sua origem.
No poema de Parménides, “o Ser não pode surgir do Não-Ser, nem pode deixar de
ser”.
“A
natureza das coisas ou origem do mundo ordenado é uma substância única”, etc….
“Toda a
filosofia se baseia no postulado de que o mundo tem de ser uma ordem
inteligível e não apenas uma confusão de vistas e sons a inundarem-nos os
sentidos a cada momento”.
“A
filosofia é responsável por um dos alicerces de uma religião monoteística e
universal, na qual foi possível ao Logos de Heraclito e ao Espírito de
Anaxágoras fundirem-se com um Zeus espiritualizado”.
No
sistema de Epicuro, “uma das suas três partes tratava das coisas que eram
totalmente impercetíveis aos sentidos e acessíveis apenas ao pensamento: os
deuses e as realidades materiais últimas, os átomos e o vácuo”.
Volvidos tantos séculos, nem o cristianismo, nem o islamismo, nem a revolução
técnico-científica parecem ter acrescentado algo de consideravelmente
esclarecedor sobre os deuses, Deus, Logos, empirismo…
Surpreendentemente,
se alguma religião deu um contributo para resolver o problema da origem do
mundo, foram as mitologias pagãs.
A
filosofia dos gregos encontrou nelas o problema e as hipóteses para a
investigação.
Os deuses
ou o deus necessário não parecem ter correspondência com o Deus
hebraico-cristão, nem quanto aos atributos, nem quanto à função. A invenção de
deuses ou de Deus, não tendo sido arbitrária, porque respondeu a uma série de
processos silogísticos, deixou de ser uma simples questão de conhecimento e foi
sendo, cada vez mais, ao longo dos tempos, uma questão de autoridade, domínio e
influência. É desta apropriação dos poderes de Deus, ou dos deuses, pelos
profetas, sacerdotes, reis, alguns dos quais se entronizaram como divinos, e
pelos fiéis, que a humanidade tem estado dependente e, consentidamente, refém.
Os
poderes transformaram a questão de Deus, ou dos deuses, numa questão de fé no
divino.
Se bem
que nenhum escrito tenha sido atribuído a Jesus Cristo, o que o absolve das
graves acusações que referi, tenho a convicção de que nada sabemos sobre Deus,
ou deuses, a não ser o que filosoficamente nos permitem as deduções.
Neste
caso, aceitar um deus ou deuses, segundo os mesmos princípios de conhecimento e
a mesma lógica, implica concluir que não fala, não se faz entender, não
intervém, não dá qualquer sinal da sua existência, nem das suas características
ou atributos… Se o meu testemunho não for tido em menos conta do que o
testemunho dos profetas ou dos videntes, ou dos poetas inspirados pelas musas.
(As frases colocadas entre "comas", foram copiadas do livro Principium Sapientiae, as origens do pensamento filosófico grego, de F. M. Cornford)
(As frases colocadas entre "comas", foram copiadas do livro Principium Sapientiae, as origens do pensamento filosófico grego, de F. M. Cornford)
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