Uma religião ao ser perspectivada «de fora» é reduzida a objecto que, enquanto tal, não lhe corresponde. O crente sabe que o essencial da sua religião não é o que ele pensa, mas o que ele faz e sente e testemunha, não apenas com palavras. Todo o pensamento se torna possível a todos, toda a palavra pode ser por todos usada, mas a Verdade é virtude e não existe nas palavras, nem nos livros, nem nas enciclopédias que explicam o que é a Verdade. E é com a Verdade que o crente se confronta, não com a verdade de uma fórmula, de um juízo ou de uma conclusão, mas com a virtude de ser verdadeiro, em tudo. O cristão sabe que o amor é a verdade, o amor à verdade não é só o primeiro mandamento, mas é a Lei. E a verdade é Deus e Deus está no mais pequenino de nós. O amor à verdade pode não estar no cientista, no filósofo, no literato, no político, no investigador, mas está no cristão. Ou não está a ser cristão.
Aliás, aposto que, se Jesus Cristo não tivesse existido, o Novo Testamento, enquanto texto inventado, ganharia uma importância que não lhe é reconhecida. Enquanto texto inventado, ser-lhe-ia tributada uma atenção e um valor que tem, mas por outras razões. Mas são os próprios evangelistas que não se assumem senão como relatores.Não obstante, tudo o que puder contribuir para desiludir e desenganar e deitar por terra a mentira é bem vindo a quem não desespera da causa da verdade, que só teria a desesperar da causa da mentira e dos mentirosos.