quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Seja lá o que isso for

IV

Pensava que eras mulher

A ver mundos desabar

Não vi que saíste ilesa

Seja lá o que isso for

É da tua natureza

                   Carlos Ricardo Soares 


segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Seja lá o que isso for

III

Pensava que eras palpável

Confiei-me

Não vi que o teu perfume

Seja lá o que isso for

É da natureza do lume

                 Carlos Ricardo Soares

domingo, 12 de janeiro de 2025

É da natureza do amor

II

Pensava que eras um corpo

Esculpido neste mundo

De flagelos e de angústias

Não vi que és uma pérola

Escondida

Seja lá o que isso for

É da natureza do amor

                               Carlos Ricardo Soares

 


sábado, 11 de janeiro de 2025

Seja lá o que isso for


I

Pensava que eras de carne e osso

E aproximei-me

Não vi que és da natureza das musas

Seja lá o que isso for

                     Carlos Ricardo Soares

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Mensagem de Ano Novo

 

Podes ter que lutar
Pelo sonho de teres
O teu lugar ao sol
Mas não esqueças
Que às vezes quem está ao sol
Procura uma sombra
Sem a encontrar

É preciso saber valorizar
O que se tem
Antes de pensar em obter
O que falta
Talvez seja possível trocar
Uma parte do que sobeja
Por aquilo que desejas

Não serias a primeira pessoa
A chegar onde tanto ambicionaste
Para então compreenderes
Que afinal o que está a dar
É aquilo por que trocaste.

        Carlos Ricardo Soares

 


domingo, 22 de dezembro de 2024

Este Natal

Este Natal
está ainda mais cheio
de memórias
mais vazio de riquezas
perdidas
mas o meu coração
está onde está
o meu tesouro
não as minhas certezas
este Natal está ainda mais cheio
de incertezas
e isso dá-me esperança
num mundo em que as pessoas
parecem senhores
de uma verdade
triste.
Carlos Ricardo Soares

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Literacias e literacia financeira


Das múltiplas áreas da Educação para a cidadania, a literacia financeira apresenta-se a si mesma como um manequim de alta costura vestido à custa dos que só se podem culpar a si mesmos de alguma vez terem acreditado que se pode ganhar dinheiro seguindo os conselhos e artes mágicas dos prestidigitadores que a si mesmos se intitulam de financiadores da economia e garantes do sistema monetário nacional e internacional.

Nada mais aliciante para quem aspira a essa espécie de estrelato e tem a autoconfiança necessária para não temer as alturas dos truques e dos malabarismos desse mundo tanto mais desconhecido quanto mais se apresenta como objeto de literacia primária generalizada.

Tudo simples, tudo legal, tudo bem intencionado, mas até os mais jovens suspeitam e não confiam nessa forma de publicidade com seu quê de libidinoso.

Assim, mais do que alfabetizar para um mundo a que estamos umbilicalmente ligados pelos fluxos monetários, do que se trata é de uma espécie de anestesia preparatória para a aceitação indolor da agulha ou da faca.

Chamar formação ou consciencialização para a cidadania à campanha de descrição do papel e importância social e económica da função financeira e monetária das instituições financeiras, nomeadamente bancos, seguradoras e bolsas/mercados de valores, como pilares fundamentais dos circuitos das economias, até faria sentido e seria da máxima importância para os formandos cidadãos se em vez de ser no formato de cartilha de promoção e de validação das instituições promotoras, fosse no formato de análise crítica da realidade histórica desse tipo de instituições, nomeadamente quanto ao facto de serem instituições de capital alheio que assentam fundamentalmente num esquema sofisticado de pirâmide em que, invariavelmente, quem chega ao topo não lega às bases. Ou, para usar palavras mais simples, seria bom se a literacia financeira tivesse como objetivo e interesse central apresentar a realidade do poliedro das instituições financeiras e as regras desse jogo de espelhos, tantas vezes envergonhados, dos perdedores, sem esquecer de denunciar a batota dos ganhadores.

Mas os promotores da literacia financeira preferem fingir não compreender e desdenhar dos embirrentos, ao mesmo tempo que não ignoram que estas críticas são demasiada areia para a camioneta dos formandos cidadãos e que estes preferem surfar na onda dos ademanes do manequim de “haute couture”.

       Carlos Ricardo Soares