Em Portugal, há uma
cultura de chico-espertismo brutal, em que, se entras grande, tens de sair
pequeno. Depois de morto, para proveito do mesmo chico-espertismo, podem
sentir-se obrigados às homenagens póstumas do costume. Mas, aqui, já são os
chico-espertos, que entraram pequenos e saem grandes.
"Ser feliz é uma actividade que requer toda uma vida e não pode existir em menos tempo" - Aristóteles, Ética a Nicómaco
quarta-feira, 21 de julho de 2021
Os chico-espertos
sábado, 10 de julho de 2021
Quem é autómato, não é gago.
Saber algo de cor e salteado pode ter interesse em alguns casos, sendo vantajoso identificar essas situações para reforçar a memorização de cor, nesses casos. Por exemplo, se quero dizer ou declamar um poema, cantar uma canção, posso não ter outro remédio, assim como se pretendo representar uma personagem numa peça de teatro falada, ou se me exigem num exame que saiba a tabuada de cor, ou, como antigamente, o código da estrada de cor. Em nenhum destes casos, todavia, a capacidade para papaguear as falas e os textos fornece qualquer indício, e menos ainda garantia, de que corresponde a outra aprendizagem para além disso.
Compreender o poema, a canção, a personagem, a multiplicação e os números, as regras de trânsito e a importância e significados disso tudo, pode, simplesmente, não ter sido alcançado.
Se for um sábio a ouvir, ou um professor a ler a resposta do aluno, até pode ficar deslumbrado com o que ouve, ou lê, e recolher do que ouve, ou lê, imensos ensinamentos, mandamentos e julgamentos, que nunca lhe tinham ocorrido, embora sendo sábio e não saiba nada daquilo de cor.
Mas quem fala de cor para o sábio, pode, muito simplesmente, não saber nada daquilo que diz. Aqui, as semelhanças do que fala de cor com um robot parecem-me evidentes. O “papagaio” bem podia começar por dizer “eu sou um robot” e não fazer nenhuma ideia do que estava a dizer e menos ainda da razão pela qual o sábio desatara a rir.
Já as semelhanças do sábio com um robot não são nenhumas e talvez um robot nunca venha a ser sábio porque, dificilmente ou nunca, virá a ter a noção e a ser capaz de compreender as linguagens que opera automaticamente.
Quem é autómato, não é gago.
sexta-feira, 9 de julho de 2021
Aproximações à verdade XII
Hilário: tive uma namorada que nunca me
disse como se chamava
Amiga: e sabes porquê?
Hilário: não sei, nunca lhe perguntei
Amiga: nunca lhe perguntaste o nome?
Hilário: não, nem nunca lhe perguntei
por que não me disse o nome
Amiga: e ela perguntou-te?
Hilário: o quê?
Amiga: tu é que sabes
Hilário: ela não me perguntou porque é
que lhe não perguntei o nome
Amiga: e perguntou-te como te chamavas?
Hilário: não
Amiga: homessa?!
Hilário: fomos apresentados por um
amigo
Amiga: ah, então sabiam o nome um do
outro?!
quinta-feira, 1 de julho de 2021
Aproximações à verdade XI
Hilário: há pessoas que
não podem jogar umas com as outras
Amiga: eu não posso jogar
contigo, nem a feijões
Hilário: e tu não és
minha irmã, imagina se fosses
Amiga: nem tudo tem a ver
com prazer e dor física localizada
Hilário: que o meu prazer
não seja a dor dos outros
Amiga: que a minha dor
não seja o prazer dos outros
Hilário: se nos tirarem a
dor, ficaremos privados de imensos prazeres
terça-feira, 22 de junho de 2021
Aproximações à verdade X
Hilário: neste momento, os meus problemas são apenas filosóficos
Amiga: quais?
Hilário: o que quero dizer é que estou feliz por estar aqui e nem sei por
que falei
Amiga: mas isso é um poema
Hilário: pois, um poema e mais nada
Amiga: um poema sem consequências
Hilário: já começo a sentir-me menos feliz
Amiga: por causa do poema, ou por eu dizer que era
um poema, ou por dizer que era sem consequências?
Hilário: por causa das consequências
Amiga: mas se é um poema sem consequências?
Hilário: tudo tem consequências
Amiga: mas nem sempre nos agradam
quarta-feira, 16 de junho de 2021
O que é, então, o erro?
Teremos imenso a aprender sobre o erro e uma teoria do erro, ou dos erros, ajudar-nos-ia a esclarecer se há erros colectivos e, havendo, em que diferem dos erros individuais.
A humanidade erra?
A ideia de que a humanidade possa errar parece inconsistente com a ideia de erro, pelo menos com a ideia de que a natureza não erra.
Mas, se a natureza
não erra e se o homem é natureza, o que é, então, o erro?
E o livre-arbítrio?
A ciência não é apenas uma
maquinaria de previsão do futuro a partir do presente, mas também pode ser de
adivinhação do passado, ou retrovisão. Ou seja, não apenas permite antever os
efeitos a partir das causas, como determinar estas a partir dos efeitos.
Há, porém, um problema sério que não ganhamos nada em ignorar: tudo o que
aconteceu não podia ter acontecido de outro modo.
Quando buscamos causas é
sempre do que acontece e nunca do que poderia, ou poderá, acontecer. Não há
causas do que não acontece.
O determinismo, neste aspecto da questão, é irrefutável, ainda que não sejamos
capazes de explicar todas as causas de um facto.
Aliás, aproveito para
introduzir aqui a discussão sobre o livre-arbítrio, que é fascinante.
Se tudo o que acontece é determinado por causas e se não conhecemos nada que
não tenha acontecido, onde é que vamos situar o livre-arbítrio?
Já li bastantes coisas à volta do assunto, umas mais confusas do que outras,
mas ainda não vi ninguém a colocar a questão desta forma.