terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Não há esperança sem Deus


Acho incrível que ateus encontrem interesse em questões que são não questões, como esta. Com ou sem Deus, exista ou não, a esperança não depende do problema da existência de Deus, podendo embora depender da crença em Deus, qualquer que seja, bíblico ou não. Mesmo assim, para o pecador, daqueles pecados de morte, a esperança não está em Deus, mas pode estar numa estratégia psicológica, por mais absurda que seja. Ter esperança não significa ter a solução de um problema.E, porque assim é, com ou sem Deus, o importante é ter esperança, mas a esperança, é o quê? O salvo conduto para o paraíso das maldivas? Ou o que nos livra do inferno? A esperança em Deus é a "certeza" de que a promessa de Deus, tal como os livros sagrados e a igreja asseveram, se vai cumprir. O reino de Deus é feito de promessas, mas de promessas garantidas. Não garantidas ao ponto de as termos por certas, apenas de as termos dependentes do cumprimento de um conjunto de obrigações.Tudo isto não tem nada a ver com Deus existir ou não, mas se retirarmos esta dinâmica do contexto religioso de Deus e das igrejas, a esperança fica reduzida a um conjunto de incertezas muito mais desconfortável e, para existir, fica dependente de um conjunto de variáveis que, em última análise, não se verificam. O mesmo é dizer que não há esperança sem Deus.

sábado, 25 de novembro de 2017

Inteligência artificial


A inteligência artificial vai-se impondo por toda a parte e em todas as áreas, para realização de interesses e objetivos, muitos dos quais derivam dessa mesma IA. Não se fica perante a IA na mesma atitude com que se pensa numa árvore, ou num gato. Em ambas as situações pode haver o fascínio e o sentimento do espantoso maravilhoso. Até agora, que eu saiba, a IA ainda não tomou nenhuma iniciativa de nos morder, ou de nos roubar a carteira, mas com os gatos e os macacos, por exemplo, já estamos habituados a ter precauções, porque eles são capazes de muita iniciativa que pode prejudicar-nos. Até agora, que eu saiba, a IA mantém-se na obediência a critérios de decisão e de ação humanos, gerados por humanos e da responsabilidade destes. Todo o malefício ou benefício da IA decorre de uma cadeia de dependência direta, que nos permite pensar nas coisas em moldes muito semelhantes aos que já estamos habituados, ou seja, a IA é um instrumento nas mãos das pessoas.
Até aqui, as ameaças da IA são as ameaças próprias de tudo aquilo que tem potencial destruidor ou danoso e que as pessoas podem usar. Até o uso bem intencionado, muitas vezes, resulta em desastres, tanto maiores quanto maior for o potencial demolidor.
Em variados aspetos, lidar com inteligências dotadas de autonomia faz parte do nosso percurso natural e humano, desde sempre. Diria que os problemas resultam disso mesmo.
A nossa relação com a inteligência dos seres vivos, em geral, e dos humanos, em particular, pauta-se pela complexidade e pela dificuldade em sermos bem sucedidos no nosso egoísmo ou egocentrismo ou cegueira...
Mas a IA já se tornou, há muito, mais do que uma extensão da inteligência humana e as próprias realizações/desempenhos técnicos há muito que ultrapassam inúmeras capacidades humanas e de tantos seres vivos. No voo e na velocidade, para falar na capacidade de locomoção, já se faz há muito o que, por ex., as aves e os camelos não podem fazer. A IA já é, em inúmeros aspetos ou domínios, um recurso que nenhum humano poderia, por si mesmo, substituir. E, olhando, ainda que de uma perspetiva de controlo, para as capacidades dos computadores, já ninguém garante que possamos realmente controlar que eles fazem o que realmente era suposto que fizessem e apenas isso.
Por exemplo, eles podem fazer fraudes tão bem ou melhor do que uma rigorosa contabilidade do sistema bancário. E todo o sistema de controlo terá de ser necessariamente computorizado, por ser humanamente impossível fazê-lo.
O que me preocupa e assusta é esta capacidade para a fraude e para a indução dos humanos em erro.
No entanto, se as pessoas não podem controlar a IA, mas esta tiver capacidades para o fazer, o problema é menos assustador.
E talvez a IA inspire ainda mais otimismo se vier a ser Inteligência, num sentido Universal, que é o que nos tem faltado, essa Inteligência que não permitirá sequer o erro como caminho para a aprendizagem.
Com a IA talvez esqueçamos de dizer que errar é humano e que o próprio fenómeno da evolução deixe de ser natural.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

O real não é o nosso elemento

O problema humano de sempre, que põe o cérebro em água e que, talvez por isso, interesse distrair, é o virtual versus real, que hoje designamos mais como realidade virtual versus realidade.
O nosso ambiente cerebral é virtual e o nosso contacto com a realidade é algo de "catastrófico", como se fossemos toupeiras que veem representações, mais ou menos arbitrárias, acreditando, mais ou menos, que não são representações e, sobretudo, que não são arbitrárias. 
Já nos despedimos desse desconhecido, o dito real, a quem apertamos a mão e, cada vez mais longe do ponto de partida, acenamos para um horizonte indistinto, de ilusões, esperanças, sabemos lá?! O real não é o nosso elemento. 
Paradoxalmente e curiosamente, a ciência vem desenvolvendo o que poderia ser a descoberta/recuperação do real ou o real como nossa condição desconhecida.
É pela mão dessa ciência que o real se torna, então, mais virtual do que alguma vez pareceu, ao ponto de a ciência se colocar a olhar para si mesma com estranheza e desconforto.
Pode-se obrigar alguém a ser ignorante, mas não se pode obrigar alguém a ser alfabetizado e menos ainda conhecedor das letras, ideias e ciências, técnicas, artes e ofícios, desportos e indústrias, culturas e geografias, leis e filosofia dessas áreas todas, literatura de ler e literatura de escrever, etc...E menos ainda, de tudo isso junto e de gestão dos sistemas financeiros internacionais em proveito próprio, com resultados à vista.
Pode-se obrigar a não ser assim ou assado, mas o contrário não.
Nem é razoável esperar que o saber ou o aprender sejam por si sós, intrinsecamente, aptos a merecer ou a despertar o desejo de dedicação e de empenho de alguém.
Diria que as sociedades, de que os sistemas de ensino são uma expressão não despicienda, estão organizadas segundo esquemas e dinâmicas motivacionais extremamente viciados, demolidores e insustentáveis a muito breve prazo. 
Numa palavra, o futuro nunca foge e parece estar cada vez mais próximo, mas nada já se anseia por nada ter um sinal tranquilizador.