quinta-feira, 22 de junho de 2017

Fogos-de-artifício

    
    Não faz sentido, é uma loucura, mas verifica-se que, quanto mais se investe em meios de combate aos incêndios, quanto mais tempo de antena, quanto mais palestras, quanto mais exéquias e solenes parlamentos, mais repetitivos e insuportáveis se tornam os fatalismos e os conformismos.
     Porque a minha memória de mais de meio século permite constatar que, todos os anos, chegam os incêndios/fogos florestais e chegam cada vez mais devastadores.
     Para um otimista, como é qualquer criança que acredita que os adultos podem resolver problemas, cada ano seria menos trágico que o anterior. Não foi isso que aconteceu. Mas a criança otimista continua a acreditar que, por alguma razão desconhecida, as coisas pioraram.
     A criança fica estarrecida mas encontra desculpas para os adultos que encolhem os ombros. No ano seguinte, repete-se todo o palavreado. Os incêndios brincam com toda a gente. Não faltam ideias para prevenir, mas o incêndio faz parte da tradição, tal como os foguetes, e pronto. A criança estarrecida deixa de acreditar naquela gente que vem lamentar os fogos e as mortes, etc..., e pensa que vive num mundo a arder, num inferno.
     O fogo não tem culpa, mas é possível imputar responsabilidades pelas consequências dos fogos florestais.

     Eu apostaria que, a manter-se a tendência, apesar da desgraça e do horror de Pedrógão Grande, ainda este ano as coisas não vão melhorar, porque, incompreensivelmente, para muita gente, os fogos florestais não passam de fogos-de-artifício.

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