sábado, 16 de julho de 2011

Podemos saber

                                                                                                                                                           
Há imensas coisas que não sabemos, mas havemos de saber. É um capricho injustificado dizer «nunca podemos saber». Mas mesmo que assim fosse, a simples eventualidade de poderem ser verdade não pode deixar de manter-nos atentos e averiguadores. Quem poderia contribuir para alguma descoberta intercontinental se não desse margem para o desconhecido e a descontinuidade, preferindo religiosamente navegar à vista do que se sabe?

De qualquer modo, não há que forçar as coisas. Convencer os outros não me interessa e pode até ser demasiado fácil. O que me interessa verdadeiramente é convencer-me. No que respeita aos quês (porquês, para quês, e como) eles são da ordem do conhecimento, científico ou outro. É falaciosa a argumentação de que a ciência responde aos porquês e para quês da construção das pirâmides com a mesma aptidão com que responde aos porquês e para quês, por exemplo, da existência do Homem ou da existência de Deus. O que está em causa não é a aptidão da ciência para fazer perguntas e responder-lhes, mas sim para fazer certas perguntas e responder a certas perguntas.

Aliás, se um cientista falasse em conflito entre religião e ciência, isso quereria dizer, pelo menos, que a ciência era contestada e rejeitada. Ora, a ciência não conhece restrições nem constrangimentos que a forcem a ser o que não é. No dia em que a ciência entrar em conflito com a religião esta cederá. A religião tem como grande força a ciência, justamente porque não teme, antes encoraja a ciência, que lhe é essencialmente cara. Ninguém, mais do que um crente, aspira à verdade e ama a verdade. O que a ciência não pode é lamentar que a religião não lhe ensine aquilo que ela não sabe mas só ela tem obrigação de saber.
                                                                                                                                                                  

sábado, 2 de julho de 2011

Ciência e conhecimento



É abusivo reduzir conhecimento a ciência, como é abusivo reduzir o que quer que seja a conhecimento. Nada se deixa reduzir a conhecimento porque o conhecimento, a bem dizer, nem sequer existe. O método científico como método para obter conhecimento permite-nos conhecer, de certo modo, coisas e fenómenos, mas não de todos os modos possíveis ou prováveis. Permite-nos conhecer, até certo ponto, fenómenos como as religiões, a fé, as crenças, a matemática, a trovoada, o efeito do atrito no movimento dos corpos, etc..., mas não nos permite conhecer, por exemplo, como as coisas seriam se não fossem como são. Neste caso, se me faço entender, as nossas conjecturas ficarão à espera da confirmação pela experiência. De mais a mais a ciência e o método científico, não são senão isso, processos de linguagem e de pensamento cuja neutralidade afectiva, estética, valorativa, ética, há-de ser garantida. E não é assim porque não existam afectos, emoções, valores, sentidos. Então é porquê? Deixo a pergunta.
Com a mesma força, ou mais, com que o método científico exige neutralidade, as religiões exprimem e realizam os afectos, as emoções, os valores, os sentidos, a fé, as crenças. E não são menos racionais e inteligentes e essenciais ao homem. Por outro lado, se a ciência lograr explicar tudo, não será por isso que ficará em condições de tudo poder experimentar, ou sequer observar, porque as coisas são como são e não porque têm de ser como são.