domingo, 30 de agosto de 2020

Pena de morte

O argumento que me faz hesitar perante a pena de morte é que ela seria mais um instrumento dos usurpadores do poder e dos poderosos. 

De resto, aceitaria, sem pestanejar, a pena de morte para um assaltante, de um carro, de um apartamento, de uma casa, de uma pessoa, desde que fosse julgado e, quanto mais facilidades apresentasse em indemnizar os lesados, mais difícil seria a sua absolvição. 

Compreendo mais facilmente um homicídio do que um roubo ou um furto. 

Tenho horror a ladrões. 

Os ladrões não roubam só os anéis, mas não roubam as consequências, nem a memória. 

E não venham com a treta de que todos são ladrões, porque isso é falso. 

Há imensas formas de roubar, é verdade. Mas, na minha escala de valores, que vale o que vale, roubar é o pecado capital. 

E há sempre os bons e os maus. 

Mas não há ladrões bons. 

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

É só uma questão de tempo

Estou convencido de que é só uma questão de tempo e que deixará de fazer sentido dizer "eu sou português" ou "eu sou camaronês". 
Cheguei a acreditar piamente que era cidadão do mundo e que, em França, nos EUA, ou na China, não tinha que me preocupar se estava a "desrespeitar" alguém por manifestar a minha opinião. 
Estar num país estrangeiro não deve ser e, futuramente, não será, estar fora do seu país. Muito menos será como estar em casa da sogra e ter que "abaixar as orelhas". 
Um homem deve poder ser o que é, independentemente do sítio em que se encontre. 
A territorialidade não deve ser, e não será futuramente, critério ou condição para a liberdade de expressão. Aliás, nações colonialistas, ou colonizadoras, deviam saber isto melhor do que ninguém.
Quanto à polícia e às forças da ordem e da segurança, incluindo militares, ainda não se queixaram, nem se queixarão, porque isso não faz parte da definição de polícia...
Basta-lhes fazer cumprir e cumprir a lei. Para isso têm todos os meios. 
Aqueles que não compreendem isto e promovem manifestações "com pena" das polícias, parece que pensam que ser polícia é andar a levar porrada, sem poder defender-se.
Do mesmo modo, quando virmos um Estado rico e poderoso, que sempre fez "quase" tudo o que quis, que sempre teve "quase" tudo o que quis, ainda que nem sempre, ou raramente, dentro da legalidade e do direito, a queixar-se de que são os outros o problema ou a causa dos problemas, haja quem compreenda.
Um homem, porque fala em Paris não tem menos razão do que se falasse na lua, a menos que dissesse qualquer coisa como "estou na lua", estando em Paris, ou "estou em Paris", estando na lua.

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Comunismo, fascismo, nazismo, democracia

O comunismo deu e dá argumentos aos fascistas.
O nazismo é uma forma de interpretação e de aplicação à letra do marxismo-leninismo, mas pelo lado do capitalismo, legitimados pela lógica da luta de classes.
Aliás, os partidos comunistas, mais pelos princípios e pela doutrina do que pela prática, não só inspiraram os movimentos fascistas e "legitimaram" o nazismo, como lhes deram razões para existirem.
Historicamente o fascismo é um reflexo/espelho/réplica das teorias marxistas-leninistas.
A política e o futebol e as religiões padecem do mesmo problema de os partidos, clubes e igrejas, não estarem interessados em justiça, ou direito, se isso não lhes der jeito e vantagens.
A humanidade está refém desta lógica do egoísmo e da esperteza, deste determinismo "invencível", desde que sinta alguma onda de ameaça. E há especialistas que, sem encontrarem obstáculos, se dedicam a gerar estas ondas.
A democracia, para funcionar, deveria impedir isso, que partidos anti-democráticos, que preconizam a violência e a desigualdade e o racismo e o chauvinismo e a xenofobia...pudessem candidatar-se a lugares no parlamento. E deviam responder por ataques ilícitos, não apenas à democracia, como à Declaração Universal dos Direitos do Homem e à Constituição da República Portuguesa.
E devia haver um controlo, explícito e expressamente assumido pelo Estado, das pessoas e dos grupos que ameaçam a democracia e os valores do Direito. Essas pessoas e esses grupos deviam ser identificados e, se necessário fosse, chamados a responder pelos seus actos, nomeadamente, apresentando provas de cidadania.E não estou a pensar apenas nos desgraçados dos "sem abrigo", estou a pensar em elites.
Pela via democrática, um dia poderemos ver fascistas, comunistas, cristãos, ateus, muçulmanos, etc., a imporem a sua ditadura. A democracia não deve ser a porta para qualquer tipo de ditadura.
A democracia não deve conter em si mesma a possibilidade da sua negação.

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

O Estado deveria ser laico

O Estado deveria ser laico, não apenas relativamente à religião e às igrejas, mas também relativamente ao capitalismo. Capitalismo e Estado não devem promiscuir-se.


segunda-feira, 20 de julho de 2020

Pensamento crítico

Pensar é difícil, dá muito trabalho e pode ser frustrante, sobretudo quando se pensa com a própria cabeça, com alguma independência e liberdade. 
A sociedade tem vindo a "dispensar" a necessidade e o esforço de as pessoas pensarem pela própria cabeça, como se isso fosse uma forma de facilitar a vida a toda a gente. 
Basta ser adepto de um clube, de uma seita, de um partido, ou um sindicato, de uma fé, ou corrente filosófica, para, do ponto de vista do pensamento, ter todas as dificuldades e dúvidas resolvidas. 
Dentro de cada uma dessas bandeiras funciona um sistema de argumentação que é adoptado acriticamente pelos seus adeptos e que parece satisfazer todas as suas necessidades de conhecimento. 
Quando o indivíduo está inserido, ou tem preferências, numa corrente, grupo, igreja, seita, clube, partido, mercado...não podemos esperar qualquer pensamento crítico do mesmo, porque ele já tomou a sua posição relativamente aos problemas. 
Ainda que seja capaz de questionar a posição dos outros, o mais provável é que não se coloque a si mesmo em questão.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Dentro das capelas de muitas disciplinas.

Os processos de aprendizagem não são menos complexos do que os processos de ensino e não existe grande correspondência entre uns e outros. Todas as disciplinas se perfilam na linha do pensamento crítico, do domínio da linguagem e de algum modo ou tipo de conhecimento funcional. Mesmo que os resultados não sejam imediatos, podem aparecer dezenas de anos mais tarde, vale sempre a pena apostar e investir na provisão de dados e de informações sobre a realidade, individual, social, física...
Promover nos estudantes hábitos de pensamento científico é fundamental, mas muitos têm dificuldade em integrar o método científico nos seus processos de abordagem e análise da realidade. As coisas não são simples quando tudo se passa num plano de linguagem, que é preciso dominar. As várias disciplinas, no modo como são enquadradas e posicionadas, induzem logo a considerar diferenças que perturbam no único e fundamental objectivo de todas elas, qual seja, o de proporcionarem o acesso mais adequado e fecundo possível ao conhecimento, seja de que matéria for.
A escola e as suas disciplinas não devem estar estruturadas por forma que sejam o processo pior (mais difícil, complexificador) possível de chegar ao conhecimento, seja de que matéria for.
Por exemplo, nós usamos os métodos de conhecimento, muito antes de nos dizerem que esses métodos são dedutivos, ou indutivos, científicos, empíricos, racionais, etc..
Por outro lado, nas ciências físicas, não raro, ficamos com a sensação de que nos querem dizer que foram os cientistas que criaram o sistema solar, a gravidade, ou a electricidade, etc..
Ainda há imenso pensamento encriptado, reverencial, sacerdotal e esotérico dentro das capelas de muitas disciplinas.

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Racismo é racismo

Racismo é racismo e não é para tentar desculpar, porque isso não o torna menos mau.  Não adianta tentar consolar as vítimas, dizendo-lhes que não acontece só a elas, etc..., ou que a sociedade é e sempre foi racista. 
O pior que tem acontecido, ao longo dos tempos, é a adaptação e a resignação ao racismo. As sociedades e as suas culturas assentam em factos consumados de racismo, que se tornam situações inelutáveis de ordem social. 
E é sabido que a humanidade tem uma aptidão espantosa e assustadora para banalizar e até sacralizar os crimes mais hediondos. 
Olhando para o passado e o presente e fazendo algum tipo de introspecção e pensamento crítico, ao ajuizarmos, sem dó nem piedade, sobre as condutas humanas e as suas motivações, tantas vezes frívolas e vaidosas, é difícil não odiar o "humano", tão deprimente se mostra a história política e social, mas aqui está também uma armadilha e um perigo, porque o discurso e a cultura do "ódio ao humano" e do "ódio ao humano racista" são autodestrutivos e tendem a racionalizar o ódio pelo que não satisfaz os supostos modelos e padrões de algum elitismo fervoroso, para não dizer religioso, e levam à cegueira, quando não perversidade, do julgamento em tribunais com vistas para o abismo. 
No entanto, esse ódio não justifica nem pode justificar qualquer tipo de agressão ou extermínio, como já ocorreram e ocorrem, por ódio, indiferença, desumanidade ou alienação, desinteresse..., por exemplo, com a pandemia da fome. 
O maior desafio continua a ser o de saciar a fome de justiça. 
Que cada ser humano o seja entre humanos e respeitado como tal, quer se goste, quer não, e nunca permitir que alguém coloque outra pessoa numa situação de subjugação, ou de privação do que é seu por direito natural, ou positivo, nem que essa subjugação ou privação, eventualmente, tenha consagração legal, como já aconteceu e, provavelmente, ainda acontece. 
E que haja concertação e institucionalização de mecanismos político-jurídicos universais nesse sentido.