domingo, 28 de abril de 2019

A liberdade não é uma bandeira

A liberdade que abril quis é uma liberdade dos amordaçados pela ditadura e dos oprimidos pela exploração e dos arregimentados à força...Mas não apenas uma liberdade de contestação, manifestação e protesto.
A liberdade dos criminosos e dos fascistas e dos arrivistas, dos corruptos, vendilhões, oportunistas, vigaristas, mafiosos...É a negação da liberdade.
A liberdade não existe simplesmente para todos. A liberdade de uns, não raro, é falta de liberdade de outros. A liberdade, em abstrato, não existe, nem sequer a liberdade de pensamento.
Ou temos liberdade de pensar, fazer e de escolher, ou de pouco vale a liberdade de protestar.
Quanto à liberdade de votar, é do mais falacioso e perverso que pode haver.
Basta ver as eleições nos regimes ditatoriais.

sábado, 6 de abril de 2019

Em nome de Deus


É desconcertante, para não dizer desconchavado, que existam profissionais da apologia e defesa de Deus, como se esse fosse o produto com mais garantia de venda e de sucesso, pelas suas qualidades intrínsecas...
Ou como se Deus fosse um coitadinho indefeso que precisa de imensos representantes e defensores que se voluntariam para falar em seu nome...
Ou como se Deus não tivesse quem o defenda...
Creio que este tipo de pensamento/procedimento é que Nietzsche denominou de niilismo.
A não aceitação do ser, da realidade, do que é, da natureza, de tudo o que existe ou se acredita que existe, incluindo Deus, é niilismo.
Então, tudo o que seja normativo, seja ou aspire à mudança da realidade, para se ajustar a algum ideal, ou, simplesmente, a algum interesse, é niilismo.
As religiões, e não só, laboram num processo de mobilização social para um dever-ser, como se o "ser" não bastasse e estivesse nas nossas mãos criar um outro "ser"... Talvez Deus.
Muito antes de haver uma preocupação com conhecer a realidade, o ser, já havia toda uma mobilização social e cultural, política e religiosa, no sentido do dever-ser. 
Ou seja, ainda desconheciam o ser e já lutavam denodadamente pelo que devia-ser.
Mas essa mentalidade foi interrompida com o irromper do método científico, mais focado no ser.
Até dá a impressão de que o ser pouco importava, desde que fosse aquilo que aprouvesse aos sacerdotes do dever-ser.
Não é despiciendo considerar que os sacerdotes do dever-ser falassem em nome de Deus, do sagrado, desse poder das palavras (Deus, com quem tinham conversado e de quem tinham registado, por escrito, as falas, tendo-se investido do mérito da comunicação com o poder divino), enquanto os arautos do método científico falavam em nome próprio, sem recurso à autoridade de musas, divindades ou potestades mas, tão simplesmente, com recurso à racionalidade.
O ser nunca foi acessível senão pelo dever-ser? O ser é um dever-ser que não é? O dever-ser é um ser que não é?

sábado, 26 de janeiro de 2019

Juízos de ciência e juízos de valor


O problema da verdade ou falsidade não existe em variados níveis de discurso. 
Uma pergunta não é falsa nem verdadeira. 
O bem ou o mal, também não. A própria realidade não é falsa nem verdadeira, em qualquer sentido, científico ou filosófico… 
O falso ou verdadeiro é uma questão de juízo. 
Juízo de ciência, nos termos e condições que o método científico estabelece. 
Mas outros juízos, não menos queridos e não menos humanos e não menos benignos, como os juízos de valor, têm uma palavra a dizer, antes, durante, depois e independentemente dos juízos de ciência, como é o caso dos juízos de valor.
De qualquer modo, tanto os juízos de ciência quanto os juízos de valor não têm objetividade. 
A objetividade não é uma característica dos juízos.
Os valores e a realidade material não se equiparam justamente porque aqueles são “juízos”. 
Não obstante, são juízos sobre condutas ou comportamentos humanos, reais. 
Tanto os juízos, quanto as condutas, ativas ou passivas, intencionais ou não, voluntárias ou não, são reais, pese embora a determinação dessa realidade.


domingo, 16 de dezembro de 2018

Ciência e Literatura

A literatura é uma arte, cujo limite é a imaginação e a inteligência e o conhecimento, o engenho, a loucura, de expressar por palavras o humano, o científico e o aberrante, o natural, a natureza, não apenas segundo os cânones científicos da ordem, de que seria, aliás, uma cópia ou reprodução, mas no que essa natureza, supostamente ou apenas por hipótese, "representa" para o escritor, ou este quer representar, porque sim. 
Aqui, no escritor, no indivíduo, reside o factor chave, o interesse, o valor, a originalidade, a instauração de uma realidade, não de uma realidade científica da natureza física, mas de uma realidade humanamente significativa, o estado crítico (mais avançado?) da matéria. 
A ciência é tão afim da literatura como outra coisa qualquer, como uma pedra ou o sol, ou um rio. A literatura é tão afim da ciência como a vontade ou o desejo de dar expressão a problemas e significados e respostas, ainda que não sejam soluções de nada. 
Muitas vezes as soluções vêm com a técnica. 
A literatura, não obstante, é a única forma de conhecimento de realidades sociais e humanas que a ciência sabe ou presume existirem, mas que não tem outra forma de conhecer. 
A literatura é e será um grande desafio à observação, compreensão e conhecimento das realidades sociais e humanas, tanto mais quanto mais sabemos que, enquanto o conhecimento da natureza é instrumental, o conhecimento das realidades sociais e humanas é incontornável e "existencial".
Se bem que ambas, ciência e literatura, tenham a aptidão para o conhecimento (e o conhecimento não é sempre conhecimento de realidades?) a literatura não se define nem tem como função ou objetivo ou estatuto conhecer seja o que for. 
A literatura, enquanto “obra de” arte, não está sujeita a critérios de verdade, de racionalidade, de interesse, de correção, de certo ou errado. Um texto literário não tem de estar certo, nem errado. Nem é bem ou mal escrito, ainda que esteja cheio de erros ortográficos.  
A literatura tem como objetivo ser conhecida, como outra coisa qualquer.
A relação entre a literatura e a ciência parece, assim, fácil de estabelecer.
A ciência, para a literatura é como outra coisa qualquer e vice-versa, mas enquanto a ciência se pauta por critérios de cientificidade e é isso que a caracteriza, a literatura não se caracteriza por obedecer a coisa alguma.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Um peido do Salazar

O Salazar (também) foi um "homem de palha", que acreditava(?) 
em relatórios de pides...
e encobriu/serviu/favoreceu os interesses de imensa gente gananciosa
sem escrúpulos,,,

mas o preço do poder era esse.
E o poder para ele era tudo, naquela falsa modéstia de homem sem remissão, 
nem sonhos, nem esperança.
E foi pela vã glória do poder que ele aceitou morrer sem deixar nada.
Mas se quisermos colocar no seu lugar, que é o caixote do lixo, 
os pavões de celofane da nossa política, 
basta soprar-lhes com um peido do Salazar franciscano.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Falta cumprir a democracia


      A democracia tem sido o grande "slogan" da partidocracia, porque é um dos ideais em que toda a gente gosta de acreditar.
      Depois, quando percebemos que andamos enganados, a culpa é nossa, por termos sido burros. Só que, burros ou não, sem ofensa para os simpáticos e pacientes asininos, na realidade, o que podemos fazer para que as coisas não sejam como são, é praticamente nada.
      Protestar dá-nos a ilusão de liberdade e o voto, que seria outra arma, é, tal como o protesto, grande aliado daqueles que pretenderíamos afastar, porque o sistema é em circuito fechado, se protestas ou votas no mau estás a apoiar o pior e até a abstenção tem o significado que tem.
      Mas reitero que falta cumprir a democracia, contra a plutocracia, a partidocracia, e a cleptocracia.        Daqui a pouco já não há palavras gregas, ou de origem grega, para designar o poder dos usurpadores canonizados, ou condecorados.

domingo, 14 de outubro de 2018

Mais do que jogos de poder e de guerra


Lembro-me do aparecimento dos Verdes e da impreparação dos "eternos" candidatos a cargos políticos, que os confundiram com um pombo dos concursos de tiro. Os nossos políticos ditam (ditadura) as políticas, mas não sabem, grosso modo, de coisa nenhuma, nem têm que saber. 
E, se sabem, isso não garante minimamente que ditem (ditadura) de acordo com o que sabem e, menos ainda, de acordo com um saber sufragável pelos critérios mais credíveis e plausíveis do momento.
O conceito de soberania popular precisa de ser reelaborado de forma a reelaborar o conceito de soberania, porque é necessário conceder um lugar de proeminência ao conhecimento.
A contratualização social que esteve na base da revolução francesa e da democracia representativa, além de ser uma falácia, que servia bem os interesses da época, é uma capitulação absoluta e incondicional aos imperativos da vontade.
É imperioso resgatar os sistemas políticos e económicos da vontade e da liberdade individuais entendidos como redutos sagrados da decisão política, em que basta ter vontade para ser eleito presidente, de junta, da república, etc....
Mas, ainda aqui, estamos no domínio da micropolítica. É imperioso estudar e dissecar e compreeender a macropolítica como determinante daquela. E as relações etica e juridicamente admissíveis entre ambas.
Mais do que a relação do indivíduo com o mundo e o planeta e a exploração dos seus recursos e os outros indivíduos e as instituições, é necessário definir os critérios e os limites dessa relação, para evitar e impedir que ela seja desastrosa. 
O coletivo deverá ser capaz de exprimir, justamente, os limites ao individual e o indivíduo deverá ter capacidade para exprimir e impor, razoavelmente, os limites ao coletivo.
Tudo sem cedências à arbitrariedade e à manipulação dos processos eleitorais, que deverão ser revistos e reformulados de fio a pavio.
De qualquer modo, não são apenas os processos eleitorais que estão profundamente em causa. A própria admissibilidade de candidatos deve estar condicionada a requisitos mínimos de competência e de idoneidade, para bem de todos.
A arquitetura dos modelos político-económicos talvez dependa mais do que se pretende do que daquilo que é a realidade, mas a realidade reclama e exige que a governação seja algo mais, muito mais, do que um teatro de fantoches à volta de uma epopeia de clubes de futebol, para fazer esquecer uma máquina de guerra virtual que devora e mata mais que as calamidades, em nome da vida e da paz.