sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Falta cumprir a democracia


      A democracia tem sido o grande "slogan" da partidocracia, porque é um dos ideais em que toda a gente gosta de acreditar.
      Depois, quando percebemos que andamos enganados, a culpa é nossa, por termos sido burros. Só que, burros ou não, sem ofensa para os simpáticos e pacientes asininos, na realidade, o que podemos fazer para que as coisas não sejam como são, é praticamente nada.
      Protestar dá-nos a ilusão de liberdade e o voto, que seria outra arma, é, tal como o protesto, grande aliado daqueles que pretenderíamos afastar, porque o sistema é em circuito fechado, se protestas ou votas no mau estás a apoiar o pior e até a abstenção tem o significado que tem.
      Mas reitero que falta cumprir a democracia, contra a plutocracia, a partidocracia, e a cleptocracia.        Daqui a pouco já não há palavras gregas, ou de origem grega, para designar o poder dos usurpadores canonizados, ou condecorados.

domingo, 14 de outubro de 2018

Mais do que jogos de poder e de guerra


Lembro-me do aparecimento dos Verdes e da impreparação dos "eternos" candidatos a cargos políticos, que os confundiram com um pombo dos concursos de tiro. Os nossos políticos ditam (ditadura) as políticas, mas não sabem, grosso modo, de coisa nenhuma, nem têm que saber. 
E, se sabem, isso não garante minimamente que ditem (ditadura) de acordo com o que sabem e, menos ainda, de acordo com um saber sufragável pelos critérios mais credíveis e plausíveis do momento.
O conceito de soberania popular precisa de ser reelaborado de forma a reelaborar o conceito de soberania, porque é necessário conceder um lugar de proeminência ao conhecimento.
A contratualização social que esteve na base da revolução francesa e da democracia representativa, além de ser uma falácia, que servia bem os interesses da época, é uma capitulação absoluta e incondicional aos imperativos da vontade.
É imperioso resgatar os sistemas políticos e económicos da vontade e da liberdade individuais entendidos como redutos sagrados da decisão política, em que basta ter vontade para ser eleito presidente, de junta, da república, etc....
Mas, ainda aqui, estamos no domínio da micropolítica. É imperioso estudar e dissecar e compreeender a macropolítica como determinante daquela. E as relações etica e juridicamente admissíveis entre ambas.
Mais do que a relação do indivíduo com o mundo e o planeta e a exploração dos seus recursos e os outros indivíduos e as instituições, é necessário definir os critérios e os limites dessa relação, para evitar e impedir que ela seja desastrosa. 
O coletivo deverá ser capaz de exprimir, justamente, os limites ao individual e o indivíduo deverá ter capacidade para exprimir e impor, razoavelmente, os limites ao coletivo.
Tudo sem cedências à arbitrariedade e à manipulação dos processos eleitorais, que deverão ser revistos e reformulados de fio a pavio.
De qualquer modo, não são apenas os processos eleitorais que estão profundamente em causa. A própria admissibilidade de candidatos deve estar condicionada a requisitos mínimos de competência e de idoneidade, para bem de todos.
A arquitetura dos modelos político-económicos talvez dependa mais do que se pretende do que daquilo que é a realidade, mas a realidade reclama e exige que a governação seja algo mais, muito mais, do que um teatro de fantoches à volta de uma epopeia de clubes de futebol, para fazer esquecer uma máquina de guerra virtual que devora e mata mais que as calamidades, em nome da vida e da paz.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Fazer das palavras nossas aliadas

Não sabemos mesmo até que ponto as palavras se servem de nós, nem até que ponto nos servimos delas.
Mas é uma relação poderosa, na qual muitos se abismam, como eu.
Não tenho esperança de as dominar, de as colocar ao meu serviço.
Contento-me com defender-me, até onde for possível, das suas inconcebíveis armadilhas.
Aposto todo o meu esforço e inteligência e boa vontade em domar as palavras, resistir à corrente do seu livre curso, usá-las e não ser usado, mas elas conseguem sempre fingir que estão a ser usadas como eu quero.


quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Efemeridades

Ai de nós se a intensidade com que pensamos fosse proporcional à intensidade com que sentimos e vice-versa! 
A nossa dor ou alegria dura algum tempo, às vezes menos do que desejaríamos, e depois funciona como memória ou lembrança em que pensamos. 
Se assim não fosse, éramos capazes de festejar um golo da nossa equipa no início do jogo e, sem parar de festejar, ainda o estarmos a fazer quando o jogo terminasse com a nossa equipa a perder. Ou, constantemente, chorarmos porque a todo o momento alguém sofre injustamente.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

A canga do tempo

Discorrendo um pouco sobre a canga do tempo.
A invenção do tempo deve ter sido o início de todas as formas de escravidão. 
A minha descoberta do tempo correspondeu à minha consciência de finitude e de mortalidade, com que perdi a inocência de criança selvagem que se contentava com a liberdade. Parecia tão pouca coisa mas revelava-se demasiada. 
A instauração da ansiedade, dos formalismos, da educação, da escola...ditaram a minha condição, sem apelo nem agravo. 
Restava-me sonhar...
E o meu pai, que começou a trabalhar aos dez anos, repetia, nem sei se protestando, ou avisando, que tempo é dinheiro. 
Mais tarde percebi que essa lengalenga não era invenção dele e que talvez se limitasse a reproduzir um certo discurso cujos efeitos, de antemão, eram garantidos.
Para quem a vida parece uma guerra e o trabalho o campo de batalha, a morte é o horizonte da eternidade para descanso.
Porque não nos deixam ter a eternidade da duração da nossa vida?
Porque teremos de esperar pela morte para termos direito à eternidade?
Ainda acreditei, durante uns anos da minha infância e adolescência, que não iria ser um desses combatentes que mais não fazem do que torturarem-se, elegendo-se a si próprios como o primeiro e principal obstáculo, senão inimigo ou, pelo menos, adversário, numa espécie de invencibilidade da vida.
Agora vejo melhor que tudo se conjura para fazer de cada pessoa, senão o seu maior carrasco, o seu implacável juiz e cruel cobrador. 
Isto é muito próprio de um certo cristianismo, ao erguer a culpa a tal ponto alto que a pessoa é culpada do mal que os outros fazem, fizeram ou virão a fazer e está impregnado na ideia de que a vida só tem solução na morte e, mesmo assim, apenas para os justos, ou os que se penitenciarem bastante. 
O meu pai pronunciava a palavra amor como se fosse embaraçosa. 
Certamente, não a considerava palavra maldita, mas nasceu e cresceu nas maiores guerras mundiais e chegou a ser perseguido por causa dos seus discursos acusadores e subversivos.
Das palavras que ele abominava na boca de certas pessoas, amor era uma delas, Deus, outra.
Amor para eles e ódio para os outros? Não pode ser.
Deus para eles e o diabo para os outros? Deus não é isso.
Paraíso para eles e inferno para os outros? Que o paraíso de uns não seja o inferno dos outros.
O tempo e a corrida contra o tempo são fenómenos muito intrigantes e estranhos.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Estado ao serviço de interesses privados é que não



Vou tocar simplesmente num ponto: a recuperação da função do Estado. Este é um nó górdio. Não se trata de recuperar propriamente, mas de atribuir, sim, atribuir ao Estado poderes que não tem e nunca teve. Só que o próprio conceito de Estado, na atualidade, está desfasado e o Estado, na acepção clássica, já deixou de existir.
De qualquer modo, os políticos, na sua proeminente parolice de arrivistas, quais clérigos de antanho... adoram o Estado, que é um Estado desses políticos oportunistas, rurais, labregos...É o que temos tido. E à sua sombra, medram os que se dizem inimigos do Estado, privados muito interventivos e críticos do seu peso. Sem o Estado não sobreviveriam.
E o Estado continua, como antigamente, na sua função espoliadora e agressora, sem respeito pelos contribuintes. Ninguém quer um Estado destes, a não ser os tais beneficiários, mormente os políticos, que todos conhecemos. Isto até parece um discurso de extrema direita e fico preocupado, sinto-me mal ao verificar que as críticas que se fazem ao Estado incidem sobre os partidos políticos que têm governado tão mal...Os partidos que capturaram o Estado são responsáveis por isso e devem ser responsabilizados.
Há um fracasso, que se manifesta mas não se assume, dos modelos políticos em vigor. Há muito que se deveria ter resolvido o problema daquilo que pode e deve ficar no âmbito do privado do que tem que ser regido e conduzido coletivamente. Os líderes políticos continuam a portar-se como caixas de ressonância de uma visão dos almanaques de há cem anos.
Ninguém com vergonha fala, hoje, em público, do alto dos seus milhões, para dar lições à humanidade. O mercado tem uma lógica que pode ser boa ou má. O Estado não tem sido capaz, em geral, de escolher o que deve ser mercado ou não e isso está a ser fatal, sobretudo porque, hoje, não faz muito sentido falar de Estado como boa solução ou a melhor e mais racional forma de gestão dos problemas humanos planetários e, quando falamos de Estados, subsistem ou agravam-se os problemas.
A iniciativa privada e o capitalismo são perfeitamente autofágicas, amorais/imorais, ou seja, todo e qualquer problema que surja, é, mercantilmente, positivo. A guerra, a destruição de uma floresta, a doença, a morte...Não consegue ver nada de negativo, porque o negativo já não existe...
Se o Estado, no (des)concerto dos Estados, puder ter alguma função útil, e volto a sentir incómodo ao dizê-lo, como se estivesse a concordar com os que defendem o fim do Estado, deverá ser na identificação e preservação daquilo que pode ser alienado à iniciativa privada sem prejuízo dos interesses coletivos. Um Estado ao serviço de interesses privados é que não. Temos pago muito caro e estamos fartos disso.

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Os problemas não existiriam se não fossem criados


Não podemos ignorar que a escola, as escolas, com seus critérios e com a sua falta de critérios, apanham na rede todas as crianças, das mais entusiásticas e iludidas (crentes) às mais tristes e maltratadas. 
Gostar da escola é um problema tão grave, ou ainda mais, do que não gostar. Ou, por outra, não gostar da escola não seria um problema se não fosse um problema gostar da escola. 
Os problemas não existiriam se não fossem criados. 
Pode não haver, em última análise, criacionismo culpabilizante, mas há uma angústia, até na alegria dos resultados. 
A sensação de que se vive para as convenções e de que não há alternativas ao faz de conta que conta, pode ser intransponível para muitas crianças e jovens (os adultos já se acostumaram), enquanto para outros será muito natural e, a breve trecho, espectacular.
Este contexto está longe de ser selvagem, mas as oportunidades e os proveitos não. 
Quem está interessado na verdade? 
E na verdade desportiva? 
Só de pensar no que seria necessário para encarar a realidade, faz preferir continuar na ilusão.