Há quem alerte para os perigos da ciência, mormente para o perigo da criação de monstros cujo poder escapa ao controlo da própria ciência. Dito assim, até parece que a ciência é uma instância diabólica que o
homem deve controlar com a religião e a moral. Quero acreditar que isso nem
passa pela cabeça de um cientista.
A ciência nunca fez nada, nem de bom nem
de mau. E nunca fará.
E, já agora, nem a filosofia, nem as artes, nem as
religiões, nem as literaturas.
O problema abordado, que é o do bem e do mal,
não é problema das pedras, nem dos átomos, nem do número de voltas que ainda
falta para a Terra completar o seu ciclo de existência, ou da quantidade de
veneno necessário para matar o tempo...
É problema do homem.
Pedem-me que acredite que a ciência já se colocou no "lugar" do
homem, secundarizando-o, ou que, pior ainda, num "lugar" em que o
homem nunca esteve, nem poderá controlar?
Em que é que ficamos? Afinal a
ciência é o quê? É o conhecimento, fruto do conhecimento da natureza, dócil e
domesticada como nenhum outro ramo do conhecimento, ou uma criatura com vontade
própria, sem sentimentos e sem alma, cujo dinamismo não faz distinções nem
obedece a critérios, ou ao que quer que seja?